26 de outubro de 2008

Diz que o ego, aquilo que te faz pensar em "eu" e "meu", aquela voz briguenta que você escuta quando se trava uma discussão entre dois pólos da sua mente: um calmo - a consciência, que é o seu SER verdadeiro - e o briguento - o ego, que fala das suas crenças - é incapaz de viver no presente. Ele é formado por acontecimentos do passado e, portanto, está sempre revivendo-o, já que dele se alimenta; ou está no futuro, projetando coisas que nunca se sabe se acontecerão.

O x da questão é que essas duas maneiras de atuação do ego nos trazem sofrimento, pois jamais nos permitem estar num estado de contentamento por tempo suficiente que nos traga paz. A realidade se torna um inimigo a maioria das vezes, e sempre, uma fonte de infelicidade. E o ego foge feito o diabo da cruz do momento presente, pois a cada vez que se concentra no aqui e agora ele é obrigado a ceder lugar pra consciência - e só ela é capaz de nos dar um contentamento permanente - deixando assim de existir. E, no entanto, o único local aonde a vida se dá de fato é no aqui e agora.

Desde muito cedo tive "brigas" com a questão de ser evoluída espiritualmente. É que a gente tem por parâmetros as vidas dos santos, monges, yogues, gurus, padres, pais de santo e etc. e, sinceramente, me desagrada profundamente pensar que para se ser evoluído espiritualmente tem de se abrir mão de tanta coisa realmente boa que existe nesse mundo. E aqui falo de comida, bebidas, música, sexo, dinheiro, arte, festas, conforto, luxo, tecnologia e pessoas já que as coisas da natureza são permitidas a todos. Porquê? Porque as coisas não podem simplesmente coexistir já que Deus as colocou nas nossas vidas ao mesmo tempo, aqui e agora? Mesmo nesse novo movimento onde as coisas ditas mundanas são aceitas e consideradas importantes para o seu desenvolvimento espiritual, confesso que torço o nariz a cada vez que escutou - ou leio - que no processo pessoas se afastarão de mim. E se entendo que isso aconteça por uma questão energética, não entendo porque falam como se não fosse necessário conviver com pessoas em graus tanto abaixo quanto acima da sua faixa de freqüência. Todos somos caminho!

Mas voltando ao motivo pelo qual quis escrever esse post, embora não tenha fugido nada do assunto: agora estava aqui lendo "Comer, rezar, amar" da Elizabeth Gilbert e ela disse algo sobre a concepção dos praticantes da Vipassana - uma técnica budista de meditação ultra-ortodoxa - sobre o desapego de Deus (... Na Vipassana sequer se faz menção a "Deus", já que a noção de Deus é considerada, por alguns budistas, o derradeiro objeto da dependência, o último cobertor da segurança, a última coisa a ser abandonada no caminho rumo ao puro desapego.), que me fez entender algo que o Eckhart Tolle diz no "Um novo mundo - o despertar de uma nova consciência: que a busca espiritual também pode ser um disfarce do ego.

E ai pensei algo que para mim fez todo o sentido e entender minha desconfiança com o povo que mencionei ali em cima: eles não vivem o presente. Faz sentido não faz? Se os religiosos vivem perseguindo o paraíso na terra, querendo viver aqui condições espirituais que são dificultadas pela vibração da matéria feita de energia mais densa, essa busca é uma atuação egóica disfarçada de evolução espiritual. Vivem em algum lugar, qualquer lugar, mas que não é o aqui e agora e o desfrute das coisas terrenas. E entendo isso como, mais uma vez, dizer a Deus que Ele errou, que fez coisas que nos são desnecessárias e prejudiciais e que então devemos evitá-las, pois Ele as fez visando a nossa perdição. Aliás, bem dizem tanto o Gasparetto quanto o Tolle que o "mal" das religiões é que elas nos fazem viver de olho na vida futura, no paraíso prometido após a morte, e com isso negligenciamos a vida que aqui temos, aquela que ganhamos de Deus e a única que podemos viver de fato. E digo mais, embora só vá explicar isso um outro dia: o sofrimento dos jejuns, dos sacrifícios e etc. está única e exclusivamente a serviço de alimentar o corpo de dor que todos temos. O prazer e alegria que essas pessoas sentem, podem não vir do contentamento do ser, mas da alegria do ego em estar conseguindo o que quer e mantendo a pessoa na mais absoluta inconsciência por muito e muito tempo.

E isso é ego, ego puro. Ego mantendo-nos em ilusões e garantindo a sua sobrevivência através do nosso incessante sofrimento.

Porém, seja lá o que for, só sei de uma coisa e essa é uma decisão de muitos anos já: quero viver todas as coisas terrenas e viver Deus através delas e nelas. Beber, comer, cantar, brincar, gozar, rir, questionar, praticar, descobrir, aprender, perdoar e amar, sobretudo AMAR, são os meus verbos de conjugação e comunhão com a Divindade.

O "Paraíso" eu deixo para o futuro.

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