29 de junho de 2007

E num ataque mulherzinha comprei um curvador de cílios...

Já apertei meus pobrezinhos do olho esquerdo aqui umas três vezes com esse troço aflitivo e não vi nenhuma diferença para com os do lado direito.

Alguém ai que entenda disso pode me explicar se tem algo a se fazer antes, durante ou depois para ter algum efeito real??

Eu tô é achando que cai num conto do vigário...


Há! E quem diz que fiz 40 anos? Olha só a patotinha que acabo de trazer para morar aqui comigo!!! Nâo ninguém ainda tem nome, p-o-r e-n-q-u-a-n-t-o, mas são quatro novos companheiros fazendo com que eu mesma adira a campanha do "beija sapo". sabe o que é não? Eu explico:

Li em algum lugar certa vez que tu vai beijar muito sapo antes de conseguir beijar o príncipe/princesa da sua vida. Desde então toda vez que vejo um sapinho dou um beijinho né? Pois se a sua mente não distingue realidade de ilusão, é um jeito de se encurtar o caminho... rs...

Com este mesmo intuito, já presenteei amigos com sapinhos que devem ser beijados muitas e muitas vezes repetindo-se: "beijo esse sapinho pra logo beijar o meu príncipe/princesa" (acabei de inventar essa, mas adorei. Faltava mesmo uma verbalização na mandinga do beija-sapo).

Pode nem funcionar, mas que eu estou feliz da vida com o meu jardim da infância particular, eu estou!

Nossa vida depende das nossas decisões.

Vendo esse filme do Joshua Bell - um dos maiores violinista [:op] atuais tocando no metrô de N.Y. de graça, sem que praticamente ninguém se desse conta e parado pra ouví-lo, sendo que um ingresso pra vê-lo tocar custa cerca de 100 dólares - lembrei que outro dia fui a uma consulta e descobri que esperaria por cerca de meia hora na porta do edifício, uma vez que não havia ninguém no consultório, pois todos tinham ido almoçar.

Esta seria uma situação que me deixaria irritada - o-d-e-i-o atrasos - e até comecei a ficar, mas ai me dei conta que essa era uma escolha minha, pois a irritação não iria me fazer bem e nem fazer o atraso desaparecer. Optei então por sentar-me na muretinha do prédio e já que fazia um dia lindo de morrer, passar aquele tempo de espera ouvindo boa música e olhando pro céu deslumbrantemente azul que aparecia por entre um verde maravilhoso das árvores do lugar.

Não, a irritação simplesmente não enfiou o rabo no meio das pernas e foi embora; é um vício irritar-se, mas com algumas argumentações consegui ficar tranquila e usufruir de meia hora de ócio absoluto.

E o x aqui é esse né? Porque a gente simplesmente não consegue relaxar e usufruir as coisas da vida? Temos que trabalhar, temos de ganhar dinheiro, temos de cuidar do corpo, temos de nos relacionar, temos de constituir família... Temos de fazer, fazer e fazer tanto que até divertir-se vira mais uma tarefa a ser cumprida.

Não consigo deixar de pensar nisso quando vejo pessoas bebendo ou drogando-se até cair em nome de divertirem-se. E não há aqui nenhum falso puritanismo meu já que também bebo e já fumei maconha, porém não dá pra não pensar em que porra de diversão é essa que só acontece na inconsciência, quando você deixa de ter percepção de que está em um espaço físico e com pessoas...

Existir é assim tão doloroso que o prazer só pode vir da não existência? E se isso é verdade, o que faz da vida tão dolorida assim não é justamente não se vivenciar os pequenos prazeres, viver em busca sempre de um grande nirvana?

Hãn?

Conselho: antes de concluir que um homem de terno é tudo de bom, veja-o sem terno. É bem capaz que você descubra que ele é magrelo, de pernas finas e bundinha acanhada.

Foi o que aconteceu comigo ontem. O interessante é que isso tornou o mocinho tão mais acessível, como disse a minha querida estagiária, que essa noite até sonhei que conversávamos amigavelmente...

26 de junho de 2007

Gui passou; eu - pra variar - inventei moda e acrescentei:

1.Sete coisas que tenho que fazer antes de morrer:

Viajar o mundo;
Ter pelo menos uma casa minha;
Permanecer magra;
Escrever vários livros;
Conhecer o Brunno;
Viver uma relação amorosa estável e duradoura;
Fazer aula de canto.

2.Sete coisas que mais gosto:

Amar;
Rir;
TV;
Comer;
Viajar;
Beijar/abraçar;
Estar com os amigos;

3.Sete prazeres fúteis:

Baixar coisas da Internet;
Sabonetes;
Batons;
Brincos;
Bordar;
Cozinhar;
Violetas.

4.Sete coisas que me encantam:

Sorriso;
Olhar límpido;
Gentileza;
Devoção e lealdade;
Amor e carinho;
Cinema
Natureza.

5.Sete coisas que odeio:

Mediocridade;
Falta de atitude;
Mediocridade;
Falsidade;
Mediocridade;
Mentira desnecessária;
Mediocridade.

6.Sete coisas que faço bem:

Escrever;
Cozinhar;
Beijar na boca;
Ouvir;
Dar colo;
“Me mancar”;
Dar risada.

7.Sete coisas que não sei fazer:

Ser cínica;
Ser falsa;
Esconder o que penso/sinto;
Mentir;
Jogar vídeo-game;
Ser estável (estou aprendendo);
Feijão!

8.Sete coisas que me atraem no sexo oposto:

Inteligência;
Segurança de si mesmo;
Bom humor;
Saber cozinhar;
Dentes;
Olhos;
O conjunto: pau, bunda e pernas.

9.Sete coisas que não suporto no sexo oposto:

Má higiene/educação = cuspir na rua, coçar o saco; arrotar alto.
Grosseria;
”Galinhar”;
Ser coxinha, bonzinho demais;
Ser o sabe-tudo;
Não saber ouvir;
Não ter atitude.

10.Sete coisas que digo com freqüência:

Pois.
Né?
Afff...
“Caracas”
Exatamente!
Conte-me tudo, não me esconda nada!
Te amo!

11.Sete filmes que eu adoro:

Um lugar chamado Nothing Hill;
Procurando Nemo;
Amores Brutos;
A cena do restaurante do “O casamento do meu melhor amigo”;
Ardida feito pimenta;
A cena do Tango de “Perfume de mulher”;
A trilogia Sissi;

12.Sete lugares favoritos:

Meu quarto;
Araxá;
Mato, qualquer um;
Ilha Bela;
Paris;
País de Luxemburgo;
Montreaux.

Meus sete:

Clécio, Elaine, Larinha, Bete, Lucinha, Quel e Mirana.
Alguém ai que saiba MUITO de Firefox, poderia me dizer como eu volto a habilitá-lo para que ele me mostre o andamento dos meus downloads? Odeio quando digito rápido e mudo as configurações SEM QUERER e não faço a menor idéia do que fiz pra desfazer..

23 de junho de 2007

Outro dia estava aqui vendo minha lista de blogs queridos, aqueles que leio já há muito tempo - talvez há tanto tempo quanto eu mesma mantenho um - e me dei conta que, raras exceções, a "velha guarda" blogueira está, paulatinamente, pendurando as chuteiras. MUITOS pararam de escrever, os que não pararam reduziram - como eu! - a quantidade de posts de forma assustadora. Acho que isso se dá porque você vai transformando sua forma de viver seu próprio blog, o que não sei se implica, necessariamente, em evolução...

Fato é que minhas boas leituras vinham se tornando escassas a ponto de eu me dedicar a procurar e encontrar bons novos*** blogs. Bons porque são agradáveis de ler e isso por serem bem escritos. Bons por serem interessantes, divertirem e/ou informarem na medida de fazer você lembrar no dia seguinte que eles existem e ter vontade de dar uma passadinha pra saber o que tem de novo... Na minha busca eu encontrei um e vejam só: um me encontrou.

O segundo - Lesma de sofá - me encontrou porque é de uma pessoa que conheço há muitos anos, mas que só agora rendeu-se a fazer um blog; e que blog!

O primeiro - Jana Banana - eu não conheço quem escreve, mas li tudo o que escreveu até agora no dia em que encontrei o blog dela no Dios Mio!!

São três dicas imperdíveis, depois não digam que não avisei...

18 de junho de 2007



Final de semana em família e só agora relaxei completamente. Adoro meus sobrinhos aqui, mas eita família de gênio!!!Essa mistura de suíços, italianos, cariocas e índios deu foi um samba de crioulo doido viu?

Essa sou eu na sábado: uma ilha cercada de sobrinhos por todos os lados, literalmente.

O engraçado nessa foto é que até o caçula, que num para quieto, soube pra onde olhar nessa hora, já que a máquina estava no timer...

17 de junho de 2007

Sexta fiz minha segunda festa de aniversário e nela Guiu, ao me chamar de Lorelai, lembrou-me que a série acabou e eu não falei disso aqui. E eu quero.

Eu não vi o final pela TV. Baixei toda a sexta temporada e assisti aqui, na tela do meu micro deitadinha em minha cama. Com isso acabei vendo o final do seriado uma semana antes e não no dia 07 de Junho, quando foi ao ar pela Wanner, véspera do meu aniversário... Eu não queria que absolutamente nada turvasse essa data e despedir-me de Gilmore Girls, é uma dor que poucos poderiam compreender...

Passei sete anos me vendo uma vez por semana na televisão. Não sou dessas coisas de me identificar com personagens, mas Lorelai tinha traços meus tão explícitos, que eu não ficava muito à vontade de assistir a série perto dos outros. Uma sensação de desnudamento sabe? Via geralmente sozinha e no quarto.

Uma das cenas que me traduzem muito bem na série é uma na qual a Rory, recém egressa na Yale, ao telefone, conta para a mãe que durante as férias de verão de uma semana da faculdade na qual viajou para a praia, foi beijada pela Paris na boite e reviu "O Poder de um Mito" e Lorelay entre estupefada e brava pergunta: "como assim reviu 'O Poder de um Mito'? Eu escondi esse filme de você!!!" sem dar a menor importância pro beijo lésbico da filha. Sou assim também: geralmente não dou importância ao que os outros esperam que eu dê, mas sou capaz de fazer uma tempestade terrível por coisas que qualquer pessoa acharia banal. Atos não me prendem tanto quanto intenções...

Como ela, tenho uma urgência de dizer o que estou sentindo, mesmo que o que eu sinto mude dali a cinco minutos e para fazê-lo - com quem me sinto à vontade - o faço numa verborragia igualmente alucinada sem perceber que o outro dificilmente acompanha e se dá conta que algumas sutilezas preciosas estão nos detalhes que para mim fazem todo o sentido. É, ainda não achei minha Rory e, por conta disso, vivo tendo de me explicar...

Como Lorelai sou capaz de cometer as maiores burradas por impulsividade e jogar a felicidade pela janela sem dó e nem piedade, só porque o outro não fez o que eu queria e esperava no momento exato em que eu queria e esperava... Ah! E sofro igualmente quando me dou conta da bobagem, mas adio essa consciência ao máximo, exatamente como ela...

E eu ainda poderia descrever tantas e tantas outras coisas... Mas o que importa dizer aqui é que Lorelai me ajudou a perceber que eu era mais divertida do que problemática e que ser diferente, não é necessariamente ruim, é só... Diferente!

Se eu gostei do final? Eu gostei do final. Dentre toda a zona que fizeram da série, acho que conseguiram dar-lhe um final plausível e terno, apontando caminhos, embora isso não atendesse as expectativas da maioria dos fãs.

Quanto mim, vou sentir falta de poder me ver sem ter de estar olhando "para dentro", mas... C'est la vie!

14 de junho de 2007

Amigos terapêuticos e como fazer bom uso deles

Dizia o professor Alberto na faculdade que a psicologia é a ciência do óbvio. Óbvio é o que “está na cara”; e a nossa cara é justamente a única parte nossa que, em hipótese alguma, conseguimos ver sem a ajuda de um espelho. No caso da psicoterapia o espelho é o psicoterapeuta. Porém na vida, um amigo pode ser um excelente espelho para as nossas ocultas obviedades.

Involuntariamente não somos o que queremos ser, somos o que podemos ser. Somos frutos das nossas tendências, da nossa educação e da nossa história de vida. Dizia este mesmo professor que o Ego Ideal – o eu que somos – perde sempre e feio para o Ideal de Ego – o eu que gostaríamos de ser, mas não somos. Geralmente para ser o que queremos é preciso ver o que somos naturalmente, aceitar que somos, para só então, mediante trabalho e elaboração, nos transformarmos no que queremos ser ou algo bem próximo disso.

Muitas vezes fugimos de nos ver porque as pequenas espiadelas que damos na nossa verdade nos mostram que somos coisas que achamos - ou nos ensinaram - que socialmente não é bonito, ou aceito, ser. Tentamos fingir que não somos o que somos e passamos a representar papéis. O irônico é que, quanto mais queremos nos esconder, mais nos revelamos aos olhos dos outros.

Muitas das vezes, as pessoas têm receio de dizer o que vêm de errado em nós por medo de ferir a nossa suscetibilidade e confesso que, geralmente, os amigos fazem justo isso, sendo esse o ponto que a terapia tem de vantagem sobre a amizade: o terapeuta nos comunica essas coisas que nos doem na alma - porque doem mesmo e muito - com calma e isento de julgamentos. Ele não se sente traído ou enganado; ele não pensa que o paciente está de sacanagem com ele, embora a maioria das vezes veja claramente que este possa estar de sacanagem consigo mesmo...

O terapeuta entende que a pessoa está sendo o que pode naquele momento. Entende também que seja lá o que for que aquela dinâmica (o grande jeito da pessoa de estar no mundo) denuncie, ela é sempre uma construção de longa data, pois começou no primeiro dia de vida dessa pessoa. O terapeuta possui um profundo respeito por aquele “fenômeno” que mesclado a uma curiosidade pueril, resulta na necessidade genuína de entender o que acontece com a pessoa à sua frente. O que sempre nos perguntamos é: porque dentre todas as infinitas possibilidades que a pessoa tinha, ela escolheu justo aquela? E é a busca por essa resposta que nos fará ver coisas que aos olhos dos leigos passam despercebidas. É como um quebra-cabeça que vamos montando com cuidado para fazer uma imagem de 360º e que nos dê noção de como as predisposições somadas ao aprendizado e às experiências de vida, resultaram naquilo que temos à nossa frente. E uso a imagem do quebra-cabeça justo porque se para entender o todo você precisa achar as partes que o compõe, para desmontá-lo você precisa desmontar as partes chaves.

Aos amigos pode sobrar amor, mas geralmente falta essa consciência de que as pessoas não são disfuncionais por opção, aliada à percepção que mudar nem sempre é um processo fácil, pois 99% das vezes a mudança está atrelada a se libertar de crenças errôneas sobre si.

E eu expliquei tudo isso para dizer que por vezes e mesmo assim, um amigo pode ser muito terapêutico. Ele pode, mesmo que de um jeito duro, nos mostrar as obviedades que tanto nos fazem mal e das quais tanto fugimos. Só que como ele fere suscetibilidades ao fazê-lo, a gente geralmente sente que ele está nos atacando e reagimos e ele com raiva, ou com decepção. O atacamos dizendo que ele não está sendo verdadeiramente amigo e nem demonstrando carinho e cuidado para conosco, quando na verdade é a pessoa que demonstra mais coragem em fazê-lo. Não, ele não vai ser capaz de abranger todas as suas nuances, mas ele pode ser o pontapé inicial pra um processo que sempre, mesmo que em terapia, depende muito mais de nós mesmos do que do outro.

Eu tenho um amigo assim e levei MUITO, mas MUITO tempo pra entender que as coisas que ele me diz não são pro meu mal, muito pelo contrário. Ele quer o meu bem de um tanto que corre o risco de ser absolutamente sincero comigo, mesmo sabendo que eu possa vir a me magoar, brigar e, no meu caso em específico, ficar sem falar com ele por muito e muito tempo. Ele é dolorido, mas tem de mim a fotografia mais verdadeira, a mais fiel.

12 de junho de 2007

Houve um tempo em que eu tinha todo um discurso pronto contra as datas pré-fabricadas que existem em nossas vidas. Hoje leio outras pessoas fazendo esses discursos e acho tão bobo... Com o passar dos anos você aprende que a coisa fica mais ou menos assim: se você curte o dia dos namorados bem! Aproveita, beija muito, trepa muito e divirta-se! Se não curte, larga a mão de ser chato e deixa a comemoração alheia em paz!

Rapaz! Ser adolescente é uma coisa chatinha demais né?

8 de junho de 2007



Hoje é meu dia!

Cheguei aos quarenta e estou ótima!

Talvez seja a metade do meu caminho,ou quase; mas com certeza é apenas o início dos anos mais felizes da minha vida!

;o)


P.s: Consegui no Terra o modem grátis e uma mensalidade tão barata quanto seria no UOL, e mais barata depois de finda as promoções!

7 de junho de 2007

- Terra, boa noite. Meu nome é Andressa Bliblibli, em que posso ajudá-la?

- Boa noite Andressa. Meu modem morreu, falo eu com a maior seriedade desse mundo.

Ouço uma risada baixa que é logo contida. Um tempo de silêncio abafando riso... Depois disso uma voz de quem está se segurando pra não rir diz:

- Meus pêsames Sra. Marie. Vamos ver o que podemos fazer pela senhora...

Só sei que depois de falar com a Andressa que teria me dado um modem em sistema de comodato, falei com o Marcos que não quis dar e jurou que ninguém o faria; com o Luiz Roberto que quis dar e com a Valéria que disse que não podia dar e que eu teria de pagar quase R$150,00 por um modem novo. E ainda teimaram comigo que a UOL não estava dando modem novos pra quem migrasse de provedor. Desliguei, liguei na UOL e além do modem novo, eu vou pagar só R$ 7,90 por mês nos próximos seis meses.

Conclusão: ou o Terra bate essa oferta amanhã de manhã, ou ativo o cadastro que deixei já prontinho na UOL. Antes eu só queria um modem novo, agora quero, no mínimo, uma mensalidade tão barata quanto...

Ah! fala sério: cinco anos e sete meses como cliente e o provedor ainda acha que não mereço nenhuma vantagem?? Estão brincando!

3 de junho de 2007

Este post é dedicado ao Clécio

Cursava eu o 4º ano de faculdade e participava de um grupo de estudo sobre a teoria freudiana cujo orientador era o Valter Apolinário Filho, um dos melhores lacanianos que já se teve notícia. E o era justo por ter deixado de atuar dentro dessa abordagem, optando pela psicanálise – o que comprova que ele entendeu Lacan perfeitamente! rs... Ouvi dizer que ele morreu; o que é uma perda inestimável para a nossa profissão, pois deixamos de usufruir, tanto como profissionais quanto como alunos e pacientes, de alguém que tinha saber válido a oferecer. Mas já divaguei demais, voltando... No grupo de estudos por essa época, estudávamos a constituição e funcionamento do ID (inconsciente), Ego (consciente) e superego e nesse dia em específico era a vez do superego, e o texto era o “Para além do princípio do prazer”.

Lendo o texto enfezei-me de tal forma com o superego que resolvi que ia provar o que nenhum outro psi havia conseguido: que ele era uma instância psíquica inútil. Oras bola, afinal do que serve um órgão de censura se ele não é capaz de evitar que cometamos burradas nessa vida? Não devia ele nos proteger e fazer com que seguíssemos sempre pelos caminhos corretos? Do que adiantava culpa, remorso e arrependimentos depois que já havíamos enfiado o pé na jaca? Não, não, o superego era um inútil!!! Ele sinalizava, levantava plaquinha, tocava apito, mostrava cartão amarelo e vermelho e a gente nem assim parava de fazer bobagens! Aliás, ele continua fazendo tudo isso e a gente segue cometendo os mesmo erros, repararam? E aqui eu não sei bem se queria apenas que o Valter admitisse isso, ou se estava mesmo era com vontade de fazer um tratado e revogar o seu estado de instância psíquica, o que não duvido nadinha em se tratando de euzinha, mas enfim...

Fato é que me dediquei a preparar esse grupo como nunca. Pesquisei, aprofundei, contestei, elaborei e estava pronta pra discutir a questão com o próprio Freud se preciso fosse e pior, com a certeza absoluta que até ele ia reconhecer que o superego era uma perda de tempo nas nossas vidas. Chegado o dia e com o grupo já previamente avisado de que eu iria expor - e como já era famosa por esses meus “achaques teóricos” - não tive problema algum em que me cedessem à vez, pois todo mundo sabia que vinha algo bom pela frente.

Começado o grupo o que vi durante uma hora e meia, foi o Valter sentado de pernas cruzadas e um tanto de lado na poltrona, corado de satisfação – sim ele ficava vermelho quando algo o agradava profundamente - com um sorriso de canto de boca e balançando a cabeça afirmativamente em cada passo e direção que eu assumia no meu monólogo teórico. Porque o Valter tinha isso: ele se deleitava quando um orientando conseguia mostrar que aprendeu tanto que era capaz de ir além do que se era esperado. E nenhuma vez ele pediu a palavra para me contestar ou consertar o que eu dizia: todas as minhas formulações teóricas estavam corretas. Quando terminei eu estava completamente ansiosa pela opinião dele e foi ai que eu vi a coisa mais espetacular que já me aconteceu: alguém derrubar uma hipótese teórica com apenas uma frase.

O que ele disse:

“– Você está absolutamente certa: o superego grita, sinaliza, apita, levanta plaquinha tentando evitar a todo custo que cometamos as burradas que caracterizam a nossa vida. A única coisa para a qual você não atentou na sua perfeita construção teórica, é que o problema não é o superego, ele cumpre a função dele direitinho sim; o x é que quem diz que o Ego escuta? O Ego não escuta. Ego só faz o que quer.

Percebe Cle? Pode soltar o beija-flor que o superego não vai interferir não. Na verdade é o Ego quem está usando o superego como desculpa para o próprio medo de voar.

2 de junho de 2007

Fiz um post imenso e perdi, pois a luz piscou e o micro apagou. E isso porque sou uma pessoa que desperdiça intuições sabe? Três vezes enquanto escrevia pensei que deveria passar o texto pro word e salvar, mas não, eu insisti em fazê-lo direto na web; deu no que deu.

E as pessoas podem até achar que escrever não é um ato trabalhoso em si, mas é. Às vezes trabalho um texto o dia todo; outras vezes trabalho o texto por vários dias; outras vezes ainda trabalho o texto dentro de mim por muito tempo antes de transpô-lo para o papel. Esses geralmente são os textos nos quais quero retratar algo, uma emoção, uma sensação, uma filosofia de vida. Mas, às vezes a coisa vem de chofre e sai perfeita, é como se o texto jorrasse de dentro de mim... Beatrix Potter bem definiu o que é começar a escrever algo: é ter um intenção que você nunca sabe onde vai dar, pois a maioria das vezes o texto ganha vida própria e se transforma em algo que nem você sabia.

Escrever ficção é ser um tanto ator, pois você só consegue dar credibilidade aos personagens, só consegue ser porta-voz de alguém se entrar naquela personalidade, naquela história, naquele contexto, naquela cena. Para emocionar com palavras você precisa, antes de tudo, sentí-las... Alguns textos meus me levam às lágrimas até hoje, pois ainda sinto o que sentiu a personagem no momento em que eu escrevia. Vou publicar abaixo um destes textos que me marejam os olhos inevitavelmente a cada vez que releio e releio sempre, pois todos os textos são passíveis de serem melhorados.

Cor do amor sobre azul


Olhou para ele e seu coração se encheu de ternura. Lembrou-se do quanto aquele amor entrou em si pela porta dos fundos...

Nem quando o beijou pela primeira vez sentia por ele qualquer coisa para além de uma curiosidade momentaneamente desperta por aquela boca que, subitamente, se insinuara junto à sua acordando nela o mesmo interesse que, às vezes, tinha em descobrir o sabor e a textura de uma fruta que lhe “sorria” em meio a outras.

Quando seus lábios encontraram os dele, sentiu imenso prazer naquela boca molinha cuja língua desafiava a sua de um jeito tão aveludado e suave, que projetou em sua mente e trouxe à sua boca a lembrança de um pêssego caudaloso a escorrer sumo ao ser mordido.

Por vários dias seguidos se encontraram mesmo que jurassem que não o fariam. Sempre havia um CD que queriam emprestar para que um novo grupo ou intérprete se tornasse conhecido; ou um livro que juravam que o outro ia adorar ler; ou ainda um filme que queriam assistir na certeza de uma boa companhia. Beijou-se muito e longamente, embora jurassem a si mesmos, assim que se viam a sós, que no dia seguinte, caso se encontrassem novamente, não o fariam. No entanto, quando se davam conta, já estavam entregues às carícias que suas bocas e mãos buscavam e promoviam em uníssono.

Bateram pé que não namorariam! Explicaram entre si os motivos; aceitaram e concordaram com as razões alheias e próprias. Porém em duas semanas assumiram que o faziam desde o primeiro dia. O que acontecera entre eles que fora tão forte a ponto de mudar as determinações internas que cada um havia firmado, a seu tempo, de que não se envolveriam tão cedo com outras pessoas? Fácil saber: o prazer que sentiam em estarem um na companhia do outro era imenso. Para muito além da química física, achavam bom estarem juntos fazendo o que fosse; e isso era algo tão raro de acontecer que intimamente consideraram burrice desperdiçar o que a vida achara por bem lhes oferecer.

Aliás, a química era o que por último acontecera entre eles; primeiro vieram a conversa fácil, as afinidades de valores, a oportunidade de serem eles mesmos, sem máscaras e sem medo de se decepcionarem. E em pouco tempo perceberam que quando a mente buscava por recordações de momentos felizes, os primeiros que lhes assomavam eram justos aqueles nos quais estavam juntos.

Tempos depois, conversando sobre o começo de namoro deles, ele revelara que se decidira por beijá-la por conta de um sonho. Neste, eles estavam entrando no cinema juntos quando o bilheteiro disse que os assentos ali eram numerados e que os deles eram em lugares opostos, encaminhando cada um para um lado. Ele se sentou no escuro e logo o filme começou. Achou muito ruim não poder comentar a trama com ela e buscando-a com os olhos dentro da sala de exibição, a viu sentada numa alta banqueta que tinha no balcão de um bar que lá havia, rodeada de rapazes que disputavam a sua atenção. Sentiu uma espécie de angústia e quis tirá-la logo dali, mesmo tendo o filme apenas começado. Para tanto decidiu chamar sua atenção ficando em pé e acenando. Inútil, ela não o via. Não se deu por rogado e começou a dizer seu nome em crescente desespero e mesmo assim ela agia como se dele não tivesse registro. Quando se decidiu por chegar até ela pulando por sobre a proteção que separava os dois espaços, o cinema se iluminou e ele a viu sair sorrindo de braços dados com um outro rapaz. Correu atrás deles e quando finalmente os alcançou viu, apavorado, que ela olhava apaixonadamente para o outro. Parou na frente deste disposto a disputar-lhe o afeto, espantando-o, no tapa se fosse preciso, e percebeu, estarrecido, que o outro era ele, sem ser.

Acordou banhado no mais gélido suor e não conseguiu conciliar mais o sono. Finalmente entendeu que maior que o seu medo de amá-la era o medo de perdê-la. Como pudera ser tão estúpido a ponto de achar que ela sempre estaria ali, disponível? É lógico que, mais dia menos dia, um outro iria adentrar a sua vida e mesmo que a amizade entre eles não terminasse, ela teria de dividir o seu tempo e a sua atenção com um amor que a tomaria infinitamente mais do que a amizade que tinham... E o tempo; ah! O tempo! Ele a levaria aos poucos para fora da sua vida. Inexorável... Não! Ele não suportava pensar sua vida sem a presença dela! Não sabia o que era aquilo, mas sabia que ela lhe era vital e mesmo sabendo que ela não lhe tinha mais do que amizade, resolveu tentar...

- Deu no que deu... Murmurou ela baixinho, enquanto lhe alisava os cabelos. São trinta anos de felicidade, e contra todas as expectativas, é você quem está prestes a partir e me deixar aqui...

Quantas vezes foram ambos silenciosamente criticados por ela ser quase vinte anos mais velha que ele? Incontáveis foram as vezes que percebera olhares de mudo rancor e despeito lançado em sua direção, por mocinhas que ficavam primeiro surpresas e depois indignadas ao perceberem que ele não era seu neto e muito menos seu filho, e sim seu homem; aquele que a amava. Inúmeras foram também as ocasiões onde senhoras perguntavam apenas para alfinetá-los: “é sua mãe”? E ele então se divertia as chocando ao responder a pergunta tascando-lhe um enorme beijo para logo em seguida perguntar: “te parece”? E ao lembrar disso ela sorriu...

É, se no começo a diferença de idade não fora evidente, pois ela aparentava ser bem mais nova do que verdadeiramente era, depois que fizera sessenta anos esta se tornara bastante aparente. E mesmo assim, quando ela o questionava, com sinceridade, se ele não preferia ir em busca de alguém mais nova, ele lhe respondia: “O corpo dela envelhecerá um dia, do mesmo jeito que o teu. Provavelmente até mais depressa. E prefiro as tuas poucas rugas conhecidas a qualquer lifting desconhecido. Além disso, que garantia tenho que dentro deste jovem corpo irá existir um espírito que eu possa amar e que me faça tão feliz quanto o teu me faz? Não é o teu corpo que amo e muito menos a forma que ele tem, é você. Ele me deu e dá felicidade, não nego, mas apenas porque é habitado por você. Não o fosse e não estaríamos aqui”.

Sorrindo passou mais uma vez a mão pela pele daquele rosto tão amado e agora inerte, incapaz de lhe dar um sorriso sequer, e se bem disse por não ter sido covarde em assumir o amor que ele lhe despertara a despeito de todas as oposições.

Antes dele, do amor apenas conhecera a dor. Depois dele conhecera a felicidade, não aquela de contos de fadas, feita de ilusões, mas a real, feita de cotidiano e de superações. Tiveram problemas, tiveram diferenças, tiveram incertezas e dificuldades como qualquer casal e relação, porém o amor e o bem estar em estarem juntos, sempre foram maiores e sempre fizeram valer a pena. Amou e foi amada como poucos tiveram o privilégio neste mundo...

Ele abriu os olhos e a fitou. Naquele olhar ela viu a imensidão de um amor que se despedia. Uma lágrima caiu dos seus olhos indo pingar sobre os lábios dele que se moviam num sorriso que logo congelaria e sobre o qual ela pousou os seus dizendo:

- Até breve meu amor e obrigado por haver compartilhado comigo tua imensa coragem e sabedoria.

Ele estava morto.