30 de setembro de 2007

André Brito




É o calor no meio das minhas pernas que evocam suas presenças...


Dois rostos à minha frente se alternam e se fundem em mosaicos
Nasce em mim um comichão que escorre dos meus olhos até meu sexo.
Pulso.
Seis pares de mãos na ilusão do meu corpo se alternam
Traçando linhas de desejo que as línguas acalentam e transbordam.
Abrem minha pernas e lá se fincam feito posseiros.
Mar revolto sem esperança de calmaria que saciado me entrega às areias da praia.
Há uma foto 3x4 que o sol descortina...
Nela trago no canto da boca, como um cigarro ali esquecido, um sorrido lânguido.

29 de setembro de 2007





A cidade fervilha,
Revoada noturna.
Pássaros travestidos de morcegos.
Inquietude enchendo de agonia os pulmões.
Busca de um "não sei quê" que a noite promete...
E raramente entrega.
Nos corpos suores;
Nas bocas ausência de pudores;
Almas preenchem-se de angústia.
Solidão encaixada em risos desparafusados
Que escorrem goela abaixo.
No retorno o reencontro;
Vazio no espelho que não nos reflete no dia que lá fora renasce.

27 de setembro de 2007

Foto de Margarida Delgado




Não quero um amor de sonhos
Brilhando na tela em palavras belas
Não quero um amor de rimas
Ouro de tolo em incontidas linhas.

Não quero a ilusão de um amor
Que fere e maltrata a pele
Desnutre e mata de dor
Até que a gente se rebele.

Quero amor de fato
Amor de atos
De possibilidade amplas
Que me segure pelas ancas.

Amor em foto
Amor de porta de geladeira
Amor sem eira-nem-beira
Amor de colo.

Quero amor por inteiro
Feito de palavras, risos e lágrimas
E que preencha as minhas páginas
De Janeiro a Janeiro.
Crônica do retorno.

Tenho sentido falta de escrever com mais arte; às vezes isso me faz lamentar ter saído do Recanto das Letras, pois o público pretensamente mais afeito à literatura me obrigava a isso. Primeira conclusão a que chego com esse texto: o público determina o tratamento dado ao conteúdo. Segunda conclusão imediata e nada a ver com literatura: as confusões do Recanto desanimam qualquer ação nesse sentido.

Escrever com mais arte é contar as mesmas estórias de um jeito mais bonito. E isso exige de quem escreve olhar a vida sob um prisma mais belo. Ao escritor é preciso que retire beleza até do fato mais deplorável e essa é a terceira conclusão a que chego nesse texto.

Esse tema mesmo que escrevi abaixo, se fosse trabalhado com mais arte começaria contando que quando da eminente falência da empresa, meu carro foi vendido. E que no primeiro dia em que fui pro trabalho de ônibus, olhava as pessoas me perguntando se um dia eu me riria com(o) elas naquela aparente balbúrdia que se descortinava diante das minhas vistas. Questionava-me sobre como as pessoas poderiam se sentir bem e acharem normal andarem de ônibus, algo tão impossível no meu entender pequeno burguês. Consegui. Quem se utiliza de transporte público incorpora horários e esperas no trajeto. Leva a música no ouvido e a possibilidade de ler ou devanear no olhar. E de sonhar, não há lotação que impeça. Até meio espremida a mente consegue voar.

Pra quem escreve, então, é um prato cheio de tipos e estórias. Como a que ouvi ontem voltando para casa do trabalho sobre uma libanesa de trinta anos, e ainda virgem, que veio ao Brasil passar férias na casa do irmão. Conheceu cá um outro libanês e casou-se em apenas dois meses, vestida de prata e cravejada de brilhantes, levando nos acessórios da lua de mel, o tal paninho branco que deveria ser manchado e mostrado à mãe do noivo para atestar a sua pureza. Isso em pleno século 21! Ou daquela família que no metrô dava pinta daquele ser um passeio atípico dos seus Domingos. Pai, mãe, filho e namorada que, parecendo haver convencido-os a deixarem o carro em casa e irem de metrô para o centro da cidade, estava tão ansiosa que não percebia o desespero do moço para que esta se sentasse ao seu lado e ele lhe segurasse a mão, como se aquela fosse uma fantasia romântica também a ser realizada...

A quarta conclusão que este texto me traz é a do dito popular que diz que “ a oportunidade faz o ladrão”. As pessoas se habituam às suas condições de vida e procuram vivê-las da melhor forma possível, sem que isso seja comodismo. É apenas sobrevivência. Eu mesma, quando penso em passar horas parada no trânsito de São Paulo, sob um sol escaldante, me dou graças de poder ir de ônibus e metrô e chegar mais depressa ao meu destino. E a frota nem anda ruim não. Ao menos não por onde eu ando - e ando um bocado. Em algumas linhas já tem até um novo ônibus cujo espaço interno mais parece um parque de diversão, tantos são os níveis de acentos.

E agora me ocorreu que meu incômodo com o que li sobre o dia sem carro foi ver as pessoas terem dificuldade em admitir que não estão dispostas a abrir mão dos seus costumes e justificarem isso botando a culpa no outro; e nesse caso um outro facilmente culpável: o transporte público deficiente. A penúltima conclusão que tiro deste texto é que em meio à patrulha em se ser sempre politicamente correto e ecologicamente responsável, as pessoas começam a ter dificuldade de serem sinceras consigo mesmas quanto às suas reais motivações.

E é assim e então que chego à última e derradeira conclusão que posso ter com esse texto: para se escrever de forma mais artística basta querer.

26 de setembro de 2007

Eu nem ia comentar o dia sem carro - 22 de Setembro - mas depois de ler alguns blogs por ai comentando o danado - e me desculpem as pessoas queridas de verdade que contaram sobre os martírios de se andar de ônibus em São Paulo -, é engraçado ver como as pessoas justificam ter carro pela ótica de ser mais cômodo.

Assim: como o que para quem não tem carro entra na conta como tempo de espera pelo ônibus, custo, conexão e eles poderem vir cheios e tals, e que para elas entram no abuso e veja: foi um só, um único dia que pediram pra deixar o carro em casa e era Sábado! Um dos melhores dias e que por conta do programa tinha a frota quase toda na rua.

E eu dou risada porque é nessas horas que a gente vê que mesmo que a pessoa seja culta, politizada e antenada, como é difícil conceber a vida sem os seus parâmetros. Empatia é um atributo limitado pelo EU.

23 de setembro de 2007

Minha mãe não entende carinho. Acha que beijar e abraçar, que elogios enfraquecem. Ela é a típica pessoa que quando recebe um abraço ou beijo ou retesa o corpo ou olha desconfiada e pergunta:"O que você tá querendo"? Meu pai tampouco era afetivo, embora fosse mais que minha mãe. Para ele eu era aquela que tinha a péssima mania de vir abraçando as pessoas... Meus irmãos são melhores, mas é palpável que existe nas expressões afetuosas um certo desconforto, como se não se soubesse ao certo o quanto deve durar um abraço ou beijo. Na verdade eu nem sei como sai esse ser carinhoso, mas lembro que quando estava no limiar de me tornar como eles, uma amiga me disse: "deixa de bobagem"! E eu escutei. Fui salva.

Minha mãe nunca elogiou um filho para ele mesmo. As poucas vezes em que a ouvi falar bem de mim foi para ou por terceiros e confesso que nas primeiras vezes em que me contaram, custei muito a me convencer de que a pessoa não estava doida ou tinha sonhado. E, no entanto, críticas são com ela mesma. Para apontar o erro e dizer do que acha que está mal feito ela é a primeira da fila. E sabe fazer isso com uma dose de crueldade que a maioria das vezes me assusta. Assusta por que é difícil entender como dois opostos caminham tão bem juntos, já que ela é capaz de tirar a roupa do corpo para ajudar alguém - mesmo que não goste ou conheça esse alguém - e eu já a vi fazer isso; literalmente.

E o engraçado é que conheço mais gente assim; que tenho mais gente assim na minha vida...

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Hoje lembrei do ex-namorado que ao saber que, bêbadazinha, eu havia feito o maior sucesso com os homens no barzinho - rainha da simpatia que sou -, me disse que os amigos presentes disseram-lhe que eu parecia uma vagabunda. Rapaz! Precisei de muita força de vontade para não meter a mão na cara dele naquela hora. Fui tirar satisfação com os tais amigos e descobrir que ele é quem tinha-lhes dito aquilo por ciúmes, ou seja, me agrediu quando na verdade não conseguia admitir que me amava... Mas hoje eu sei disso. Na época levei muito tempo para perdoá-lo e precisei de muita, muita ajuda para isso.

Aliás, o grande problema entre nós, e que me impediram de voltar com ele quando me pediu, foram as coisas que me disse pós término de namoro me deixando insegura. Como você volta a confiar emocionalmente em alguém que diz que terminou com você porque te amava mais que a si mesmo e, de quebra, também diz em outra oportunidade que estava feliz em ter uma namorada magra, pois andava farto de ver gordura? Sim, eu sei que são coisas conversáveis, porém não houve interesse nem em se saber do que eu falava quando disse que ele trazia coisas para a minha vida que eu não queria ter de lidar...

Agora o problema entre nós são as coisas que ele não me diz, mas diz pros outros e eu fico sabendo. E o que me pega não é o fato dele falar de mim e sim ele não falar para mim quando ele sempre teve acesso livre até mim. Podia vir pra me comer, mas para conversar comigo não, sabe como é? Pois. E confesso também me incomoda ser transformada em vilã da vida dele por conta de uma história que, na verdade, não tem bandido e nem mocinho, só o medo como entre meio. Medo de ambos.

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E não sei porque esses dois temas estão interligados para mim, mas estão. Fato é que já aprendi que nem tudo precisa ter uma explicação.
Hoje descobri porque nunca me casei: nunca me iludi.
Ninguém no mundo merece que eu sinta vergonha quando vejo meus olhos refletidos no espelho. Só eu. Só eu mereço que eu abaixe o olhar para mim mesma quando fracasso com as minhas coisas... Quando me iludo com aquilo que acredito que posso, mas não posso. Erro de medida, esperança de ser melhor do que sou, enganos temporários... Basta acertar a perspectiva e se volta a caminhar dentro do possível que é o único lugar que permite reais transformações.

20 de setembro de 2007

E ai eu vou lá no Dreamule procurar uma só, só uma música do José Augusto e me deparo com um CD chamado Brega Rômantico. Rapaz é tentação demais pra um único ser humano com uma "pequena queda" por essas músicas bregas que eu ouvia em criança nas cozinhas dos restaurantes dos meus pais! Odair José, José Augusto, Márcio Greick, Fernando Mendes(?) e Amado Batista numa tacada só. E ainda era um arquivo Kinder Ovo, pois veio com uma surpresa dentro: o CD do João Mineiro e Marciano: Raízes Sertaneja!

Há!

Amei!
Hoje eu sonhei contigo
E cai da cama
Ai amor não briga
Não me castiga
Diz que me ama
E eu não sonho mais...


E eu só queria porque a gente esconde da gente mesmo o que sente...

18 de setembro de 2007

Estou baixando e assistindo todos os episódios de Sexy and the City que vi muito an passant quando estava sendo exibido na TV à cabo, pois o horário não dava.

Carrie Bradshaw me irrita profundamente. Jesus! Será que aquela mulher nunca vai se tocar de que precisa sair da própria mente e comunicar ao outro, de preferência com palavras bem articuladas e sonoras, o que se passa dentro dela? Mas sei que ela me irrita porque me reflete numa determinada época da minha vida, porém eu tive a graça de ter uma terapeuta que me dissesse: "sai da sua mente e vai confirmar suas hipóteses na realidade". E num é que foi melhor mesmo?

Tá, tudo bem que com homem as duas coisas nada funciona muito bem. Se você cala eles não têm como saber e se você fala é porque está em surto, está fazendo drama, é melindrada e mimada.

Não, não é fácil não...

17 de setembro de 2007

O final de semana não foi nada do que planejei e trouxe essa experiência nova que é ajudar a enterrar uma pessoa - eu nunca havia lidado com o lado burocrático da coisa - e algumas constatações sobre viver como a de que a ajuda e a generosidade geralmente vem de onde você menos espera mesmo. Tem muita gente cretina nesse mundo, mas é fato também que tem muita, mas muita gente bacana mesmo e que te ajudam sem serem da sua família e sem terem obrigação nenhuma. Para mim essa é uma das magias da vida e um dos motivos pelos quais se vale a pena viver.

O que mais me impressionou no processo foi o administrativo do cemitério, principalmente quando o moço sacou o livro de registro que mostrava-lhe quem está enterrado no jazigo e quando foi o último enterro que aconteceu nele. Eu passei dois dias tentando achar uma forma de explicar o que vi e lamentando estar tão passada que nem lembrei de fazer uma foto com o celular... Pense ai numa pasta de arquivo que tem as folhas pelo menos 5 cm maior que ela nas bordas. Agora imagine todas essas bordas rasgadas, dobradas, enroladas sobre si mesmas como se fosse um babado. E o cara tem de abrir o negócio com todo o cuidado porque as folhas ali são capazes de desintegrar diante dos olhos de quem estiver olhando, literalmente. Computador não é algo conhecido daquele povo, mesmo que haja um ali bem em cima de uma das mesas...

Aliás, ali eles parecem nem ter compreensão do funcionamento da coisa, pois o cara fez com que eu deslocasse minha mãe até lá - o cemitério é longe pra dedéu de onde moramos e ela estava com a pressão alta - para assinar a autorização de sepultamento sem que fosse necessário, mesmo depois de eu perguntar mil vezes e insistir muito em que eu poderia fazê-lo sendo filha. Quando fui preencher a papelada e li lá que eu realmente poderia assinar bastando que depois ela enviasse uma ratificação da autorização fui lá perguntar se ele sabia ler e se entendia o que lia. Com toda a educação do mundo, mas fui. Quando ele respondeu que obedecia ordens, pedi então que dissesse ao chefe dele que ele estava ouvindo reclamações atoa, uma vez que aquele papel era um documento e assim sendo era soberano ao que qualquer pessoa pensasse ou fizesse.

E ai você pensa no quanto se paga pelo sepultamento, mesmo os mais simples, e na estrutura que tem um dos maiores cemitérios de São Paulo e conclui que até na hora de morrer tem gente levando vantagem sobre você.

Ê Brasil!

14 de setembro de 2007

Eu não sei mentir muito bem e não quero aprender.

Não sei dizer que tudo vai dar certo quando o caminho se desenha sombrio, mesmo que lá no fundo eu saiba que nunca, nunca fica mais escuro que a meia-noite.

Não sei dizer que não vai doer quando sei que vai, mesmo que saiba que algumas vezes para curar tem de machucar.

Acho melhor ser sincera e oferecer ombro, colo, amparo. Estar ali sempre como um apoio, pois caminhar só se pode com as próprias pernas.

Não sei não sofrer quando vejo alguém que amo sofrer... Pudesse eu e arrancaria com as próprias mãos a dor dos corações que me são caros.

Hoje choro por você Aninha, pela sua dor. A vida levou sua mãe há dois anos e hoje leva seu pai... Sei que nada te consolorá por muito e muito tempo...

Estava ali conversando com a mãe e uma coisa dissemos que há de ser sempre lembrado quando pensarmos nos teus pais: eles te amaram mais do que tudo na vida deles. Enquanto muitos passam pela vida sem conhecerem o amor, você por 25 anos recebeu deles um amor pleno. E é justamente esse amor que te dará forças pra seguir em frente no momento certo.

E eu espero poder estar presente, sempre. Física, mental e afetivamente na sua vida. Como te disse: sei que nem se compara, mas sozinha você não vai ficar.

Te amo não por que você é minha prima, mas por que você é você. E vou ao teu lado enfrentar a vida e te mostrar que sim, ainda existe felicidade possível reservada para você, mesmo que por hora seja impossível você acreditar nisso.

Que Deus guarde seus pais e que de lá eles possam iluminar o seu caminho como sempre fizeram...

Beijo!

11 de setembro de 2007

Foi um feriado passado entre amores. Dos mais distantes - ao telefone - aos mais próximos, pessoalmente.

E embora alguns achem que minha vida não tem lá muita cor, enganam-se. Medem minha vida pela própria necessidade de moviment(ação). Ilusão. Meu ritmo é outro uma vez que todas essas coisas eu já fiz à exaustão. Já passei muitas madrugadas na balada; já amanheci muitos e muitos dias na rua com amigos, com amores. Tanto, mas tanto que o que me retirou disso foi justamente a mesmice. Nada era novo. Nada ainda é novo quando vez por outra me aventuro novamente na noite. É o mesmo desespero fantasiado de ilusão e ânimo de que a noite traga algo ou alguém que justifique a própria existência que se faz insípida justamente por conta da busca insana de algo que se busca fora, no par, mas só se encontra quando, derrotado, conforma-se em ser só. É somente quando estamos conosco que estamos com o outro. Matemática fácil de equação difícil.

A minha cor está justamente nos meus amores. São eles as matizes da minha existência, são eles as dores que eu escolho ter. E prefiro-os nas ruas, praças e matas, nos botecos, nas casas, no MSN, ao telefone... ao invés de na balada. A música que fala e nos cala, os corpos que se esbarram, mesmo que harmonicamente, sem nunca se encontrarem. A bebida que alucina e aproximando mantém distante...

Não. Minha necessidade é verdadeira, meu encontro é de fato. Olho no olho, coração na mão. Minha escolha, minha opção. A aquarela que me enche de prazer nada abstrato, nada fugidio, mas que nem todos são, ainda, capazes de ver.

8 de setembro de 2007

Eu nunca estive tão gorda. Eu nunca me senti tão gorda também. E nunca senti tanto o peso do meu corpo como agora. É como se eu tivesse tido suspenso o véu da imagem corporal que um dia cegou-me quanto à minha própria realidade corporal e a coisa tomou vulto aqui dentro... Finalmente.

Pois só assim pra eu me decidir radicalizar e optar pela Gastroplastia. Já me inscrevi em Julho, passei pelo primeiro estágio em Agosto e agora tenho de esperar pacientemente pela minha vez, o que não é fácil no meu caso, porque o incômodo é tão grande quanto a ansiedade. Acho que o que realmente me fez tomar pé da situação foram as dores nas pernas, joelhos, pés e na coluna na volta das minhas caminhadas. Pois é, algo que sempre fiz, de repente, começou a doer demais; a doer a ponto de precisar de remédio pra suportar.

É o peso.

E deixei de ser besta sabe? Assumi que sou indisciplinada, que embora não coma muito, como numa quantidade que para mim me faz engordar e que não consigo resistir a algumas coisas que deveria: pão, refrigerante e leite com achocolatado, por exemplo. Então o jeito é cortar o mal pela raiz. Porque se existe uma possibilidade de se morrer em conseqüência da cirurgia, existe uma certeza de fazê-lo em conseqüência da obesidade, e se é pra morrer, eu prefiro morrer lutando. Não, eu não vou morrer.

E é um processo interessante esse de se estar prestes a mudar de corpo, pois embora tenha idéia do corpo que terei, já que uma vez cheguei bem perto de estar magra, sei que minha vaidade vai ter de sumir no processo. A única certeza, à princípio é que - sem roupa - meu corpo será só pelancas e flacidez...

Então é isso pessoas: todo mundo me imaginando fazendo a cirurgia por Universo acelerar meu processo! rs..

6 de setembro de 2007

Desde ontem eu leio e releio esse post ai embaixo e me reconheço num jeito todo escudado de me relacionar com as pessoas. Um jeito escudadamente psi, se é que me entendem...

:0(
Trecho de um e-mail que acabo de enviar:

Eu não disse que meu sentimento mudou, nem o seu; disse que perdemos intimidade e que essa é uma dificuldade minha. Sempre foi assim.(...)

Eu só consigo encontrar a sós pra ficar muito tempo pessoas com quem tenha intimidade, ou esteja muito afim de ter... rs... Sim, eu sei que sou doida. Veja, eu encontro bleblebleblé e bloblobló sozinhos, mas porque temos uma conversa infinda, mesmo que não falemos todos os dias; às vezes nem nos falamos na semana, mas sei lá... Eu sei que eles estão à distância de um click, uma ligação. Que existe toda uma disponibilidade. Se minha mãe passa mal, eu deixo recado no MSN deles antes de sair pro hospital e eles quando vêm me ligam pra saber como ela está, como eu estou. E isso mesmo tendo uma festa na casa deles, eles estando com a namorada que veio de fora... Eu sou "amiga" de todas as demais pessoas(...), mas já com eles não tenho intimidade e então evito encontrar a sós... Só se for algo muito importante e pessoal a ser dito e tiver de ser assim. Até hoje aconteceu uma única vez e com blibliblibli. A outra vez que nos encontramos só os dois foi pra ver xyzxyzxyz e ai estávamos cercados de uma multidão... Onírica e concreta.

Sim, se eu encontro alguém na rua eu abraço, troco palavrinhas, até posso seguir caminhando com a pessoa por duas horas, mas com certeza não falo de mim. Escuto o que ela diz, emito opiniões sobre o que ela diz, mas da minha parte a resposta ao: "e você"? É sempre tudo bem e dou um jeito de devolver o foco da conversa pra pessoa mesmo. O que não é difícil, pois 99% das pessoas adoram falar de si... A vez mais próxima que isso aconteceu foi semana passada que na caminhada encontrei o blublublu... Falamos por duas horas de artes cênicas! Um papo ótimo de verdade!

O flaflaflá mesmo. Todas as vezes que sonho encontrá-lo, fantasio mesmo, os encontros nunca são à sós, mesmo a gente tendo uma puta intimidade "virtual" e eu tendo quase certeza de que ela seja mesmo real. Se depender de mim o encontrarei com, no mínimo, mais uma pessoa ao lado... Que poderá até se transformar num empecilho depois, quando eu ver que "Opa! Rolou! E agora quero ficar sozinha com ele pra gente falar de todas as coisas que não quer falar na frente dos outros".

E com você já não era mais assim... Eu já falava de mim, dos meus sentimentos, da minha percepção das coisas. Com você eu me abria com naturalidade, diria que até maior do que faço com o bliblibli e blobloblo, pois você é uma pessoa, por incrível que pareça, isento de critica quando a coisa é o outro ser humano e seu universo interior. E provavelmente eu não serei mais assim, mesmo que você não perceba. Na verdade acho que só eu percebo que faço isso com as pessoas... E só quis ser honesta com você. Opa! Acho que acabei sendo íntima também né? Progresso! rsrsrs...

E a questão nem é você ser arcaico. É eu não entender mesmo como algumas a-m-i-z-a-d-e-s se dão com um intervalo de tempo suficiente pra vida do outro virar do avesso e a gente não ficar sabendo e nem participar. Com colegas, que muitas vezes chamamos de amigos para dar a ilusão de serem mais íntimos do que realmente são, eu entendo que role isso. Mas AMIZADES, amizades mesmo? Não. Não entendo.

(...)


Mais desnuda que isso impossível! Sim, eu tenho problemas com falta de intimidade.

3 de setembro de 2007

Acordei antes das 07:00 hrs porque mamãe tinha médico e eu precisava olhar o sobrinho, já que meu irmão estava no aeroporto chegando de viagem. Tomei café da manhã, coloquei meu edredon na máquina para lavar e dei colo pro menino. Tentei por horas marcar a fisioterapia por telefone, sem sucesso; vigiei a máquina, o menino, o telhado do vizinho - que em reformas despenca pedaços no meu quintal -, a televisão e o telefone nesse meio tempo. Fiz almoço enquanto atendia ligações e acolhi o irmão que chegou nervoso da viagem, pois algumas coisas não saíram como deviam. Fiquei ansiosa porque minha mãe não chegava e já era mais de meio dia. Lavei e temperei salada ao mesmo tempo em que deixei a sobrinha - que é tão alucinada quanto eu - preocupada com o sumiço da avó. Ligou a mãe; liguei pro taxista e para sobrinha. Coloquei mesa, dei almoço para o sobrinho e nada da mãe aparecer. Ligo pro taxista: estão no posto buscando remédios. Almocei. Mãe chega e conta: "coração tá inchado". A médica tirou da dieta por completo: sal, e todo e qualquer produto industrializado e com conservantes. Agora danou-se! Tirei a roupa do varal, pois vai chover,e quando ia subir pra dar uma relaxadinha, todos, inclusive a irmã que veio almoçar em casa, me pedem pra trazer algo.

Eu: "Não é porque eu estou numa segunda-feira de dita que vocês vão se acostumar não. Meu expediente é limitado e acabou de acabar"!

Todo mundo riu.

E pensar que esse é o dia-a-dia de inúmeras mulheres...

1 de setembro de 2007

Sobre livros, literatura, escritores e leitores...

Trecho de uma discussão com um amigo:


Entendo seu ponto de vista. Porém, para mim um escritor de qualidade tem de alcançar a maior parte das pessoas com a sua obra, o resto é blábláblá de quem escreve direitinho, mas sem abrangência.

A arte tem a função de traduzir e transcender o universo humano e, na minha opinião, a escrita é o que o faz com maior propriedade.

Mesmo que você se referencie num universo particular - o seu - num mundo de bilhões de pessoas, certamente você estará "conversando" com milhares, se não milhões, de almas que se identificam com a sua... Só isso faria do seu livro um tremendo sucesso!

Ai vamos entrar na eterna discussão sobre a qualidade do leitor... rs... Mas ai eu acho, apenas acho, do verbo bem achado, que é o escritor quem verdadeiramente educa um povo. Eu aprendi a escrever lendo e não na escola. Você idem né? Somos crias dos livros.

E não acho ruim não que a mídia desloque o foco pra lugares nunca antes navegados. Através dos livros a gente descobre universos e realidades que nos escapam em documentários. Acho pobre que a coisa fique apenas no eixo ocidental, porém também acho pobre que o motivo deste deslocamento de eixo sejam as guerras e o terrorismo.

Não li nenhum dos livros do Orhan Pamuk então não posso criticá-lo. No entanto, sobre "O caçador de pipas" - que eu, com essa minha característica de não guardar nomes, pra variar, transformei em "o empinador" rsrsrs... - o que fez dele um grande livro para mim, foi me deixar sentir o que provavelmente aquelas pessoas sentiram em algum momento da história daquele país. Eu me transformei naqueles personagens, assim como me transformei nos “da menina que roubava livros” essa semana... Um livro bom, um texto bom, é aquele que me faz sair de mim mesma e me transformar em outra. Que invade minha percepção sensorial subjetiva e, conseqüentemente, transforma minha visão de mundo.

Chorei de soluçar com esse livro, porque mesmo sem ter nascido, vivi a Segunda Guerra Mundial essa semana sob os olhos da morte; uma mãe ríspida feito fel e com um coração de mel; um pai adotivo que tinha prata nos olhos e ouro no coração; um judeu foragido que tinha o dom de esmurrar os outros com socos e palavras - essas às vezes suaves; um garoto que queria ser negro e veloz numa Alemanha nazista e sonhava com um beijo; e de uma menina que tinha pesadelos, coragem e roubava livros. E entendi ainda mais profundamente que a guerra, a pior delas, é a que travamos conosco mesmos quando nos obrigam, ou querem nos obrigar, a sermos alguém que não somos. No meu caso entendi que é preferível morrer a viver vendo quem eu amo morrer sem fazer nada, sem ao menos lutar...

Me diz: um livro que faça isso não merece ser um best seller? Não é um grande livro? Ao mesmo tempo: não é essa uma das grandes questões da atualidade? O que somos versus o que determinam que sejamos? Como a mídia, se for feita com honestidade, pode deixar de lado um livro assim? Acho que, no fundo, temos de ter cuidado para ao se ser do contra, deixarmos passar coisas bacanas.

E não fale mal de “O meu pé de Laranja Lima!” O primeiro livro que li e amei! rsrsrs Foi ele quem me ensinou a amar livros; ele quem começou a me moldar no que sou. Tô explicada né? [:p] Matamos a charada da minha existência dramática!

Mas ai, agora fiquei com uma curiosidade Tavinho: o que é um grande livro para você? Um livro que merece honras e ser lido por todos... Não, não quero citações, quero descrições...

Beijo!

E você, o que faz um livro ser considerado um grande livro pra você?