1 de setembro de 2007

Sobre livros, literatura, escritores e leitores...

Trecho de uma discussão com um amigo:


Entendo seu ponto de vista. Porém, para mim um escritor de qualidade tem de alcançar a maior parte das pessoas com a sua obra, o resto é blábláblá de quem escreve direitinho, mas sem abrangência.

A arte tem a função de traduzir e transcender o universo humano e, na minha opinião, a escrita é o que o faz com maior propriedade.

Mesmo que você se referencie num universo particular - o seu - num mundo de bilhões de pessoas, certamente você estará "conversando" com milhares, se não milhões, de almas que se identificam com a sua... Só isso faria do seu livro um tremendo sucesso!

Ai vamos entrar na eterna discussão sobre a qualidade do leitor... rs... Mas ai eu acho, apenas acho, do verbo bem achado, que é o escritor quem verdadeiramente educa um povo. Eu aprendi a escrever lendo e não na escola. Você idem né? Somos crias dos livros.

E não acho ruim não que a mídia desloque o foco pra lugares nunca antes navegados. Através dos livros a gente descobre universos e realidades que nos escapam em documentários. Acho pobre que a coisa fique apenas no eixo ocidental, porém também acho pobre que o motivo deste deslocamento de eixo sejam as guerras e o terrorismo.

Não li nenhum dos livros do Orhan Pamuk então não posso criticá-lo. No entanto, sobre "O caçador de pipas" - que eu, com essa minha característica de não guardar nomes, pra variar, transformei em "o empinador" rsrsrs... - o que fez dele um grande livro para mim, foi me deixar sentir o que provavelmente aquelas pessoas sentiram em algum momento da história daquele país. Eu me transformei naqueles personagens, assim como me transformei nos “da menina que roubava livros” essa semana... Um livro bom, um texto bom, é aquele que me faz sair de mim mesma e me transformar em outra. Que invade minha percepção sensorial subjetiva e, conseqüentemente, transforma minha visão de mundo.

Chorei de soluçar com esse livro, porque mesmo sem ter nascido, vivi a Segunda Guerra Mundial essa semana sob os olhos da morte; uma mãe ríspida feito fel e com um coração de mel; um pai adotivo que tinha prata nos olhos e ouro no coração; um judeu foragido que tinha o dom de esmurrar os outros com socos e palavras - essas às vezes suaves; um garoto que queria ser negro e veloz numa Alemanha nazista e sonhava com um beijo; e de uma menina que tinha pesadelos, coragem e roubava livros. E entendi ainda mais profundamente que a guerra, a pior delas, é a que travamos conosco mesmos quando nos obrigam, ou querem nos obrigar, a sermos alguém que não somos. No meu caso entendi que é preferível morrer a viver vendo quem eu amo morrer sem fazer nada, sem ao menos lutar...

Me diz: um livro que faça isso não merece ser um best seller? Não é um grande livro? Ao mesmo tempo: não é essa uma das grandes questões da atualidade? O que somos versus o que determinam que sejamos? Como a mídia, se for feita com honestidade, pode deixar de lado um livro assim? Acho que, no fundo, temos de ter cuidado para ao se ser do contra, deixarmos passar coisas bacanas.

E não fale mal de “O meu pé de Laranja Lima!” O primeiro livro que li e amei! rsrsrs Foi ele quem me ensinou a amar livros; ele quem começou a me moldar no que sou. Tô explicada né? [:p] Matamos a charada da minha existência dramática!

Mas ai, agora fiquei com uma curiosidade Tavinho: o que é um grande livro para você? Um livro que merece honras e ser lido por todos... Não, não quero citações, quero descrições...

Beijo!

E você, o que faz um livro ser considerado um grande livro pra você?

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