27 de janeiro de 2007

O Blogger mudou o sitema, e a template foi pro beleléu. Estou aqui arrumando tudo, pois foi só quando precisei que vi que não tinha salvo a versão definitiva da coitadinha... Pra variar.

14 de janeiro de 2007

 


A razão do meu silêncio


Namoro letras, palavras e idéias desde um tempo do qual já não me lembro mais. Ultimamente ando distante delas... Muitos perceberam.

Sou dona de palavras fortes; palavras que machucam, que magoam, mas também que consolam, que animam, que ensinam, que fazem rir...

É que trago minhas palavras impregnadas de mim.

É o coração quem trago na ponta da caneta ou dos dedos que deslizam sobre as teclas.

E sou fidedigna ao que sinto. Simplesmente não consigo sentir uma coisa e escrever outra; não consigo. Não consigo mesmo que tenha plena certeza de que em alguns momentos seria muito melhor...

Concordo que devo aprender a esperar mais para botar para fora determinados sentimentos que, por virem à tona com muita intensidade, parecem eternos, mas são na verdade momentâneos. Logo passam... Este é o problema quando se é habitada por vulcões: a gente entra em erupção.

E, no entanto, não consigo deixar de achar graça quando sou criticada pela dureza das minhas palavras... E acho graça por ter plena consciência de estas machucam, principalmente, porque a humanidade vive a era da hipocrisia, o que faz com que as pessoas não se preocupem com o conteúdo do que é dito e sim com a forma como se diz.

Isso se traduz mais ou menos assim: pode-se dizer a qualquer pessoa os maiores absurdos desde que seu texto seja politicamente correto, desde que se traga nos lábios um sorriso e se floreie o conteúdo com palavras que denotem um afeto e cuidado que muitas vezes se está longe de sentir. Jamais seja transparente e direto quando seus sentimentos não são nada nobres. E como não sou uma pessoa de formas - e fôrmas - e sim de conteúdo, acabo me dando mal, pois nunca me importo com a maneira como algo foi me dito, e sim com o que me foi dito; seja gritado, cuspido ou entre sorrisos.

E isso porque o como não impede que algo doa. O que sempre dói, seja em mim ou em você, é exatamente o significado do que foi dito. E nada ameniza um significado. Nada. Nada diminui o peso de um tijolo e a dor que ele causa quando ele te atinge. E sim, eu sou boa em atirar tijolos. A diferença é que não finjo que não os atiro e nem desenho flores neles esperando que o outro ache que não é um tijolo e sim um buquê de rosas.

Eu posso me desculpar pelo que disse, mas jamais retiro o que disse por que você não retira um tapa que deu na face de alguém. Deu está dado. Se você se arrepender, pede desculpa. O outro te perdoa ou não, mas não existe nem como você fingir que não bateu e nem como o outro fingir que não apanhou.

É por isso que atualmente vivo um dilema: ou sigo escrevendo da forma que sempre fiz - e correndo o risco de perder pelo caminho as pessoas que não se agradam dessa minha característica - ou me calo por não conseguir tirar o coração das minhas palavras.

Como vocês podem perceber tenho me mantido calada.

9 de janeiro de 2007

O post sobre a morte do Saddan gerou uma discussão do bem nos comentários e me deu vontade de reproduzí-la aqui já que nem todo mundo acessa comentários...

Gui: Amore, você sozinha se contradisse e encontrou uma melhor opção para o enforcamento — o que, vindo de uma pessoa contra a pena de morte, não deveria ser opção. Trabalho.

Sim, Saddam morreu. A questão não é se ele é melhor vivo ou morto, ou se ele vai gerar um custo ao estado iraquiano. A questão, como você notou é bem maior e envolve, por exemplo, a averiguação detalhada (que poderia vir com o julgamento e a possível condenação) de muitos outros crimes e ligações, tanto dentro do iraque quanto relacionados com outros governos. "Ah, mas ele pagou por eles também, afinal, morreu!" É, mas historicamente perdeu-se uma chance ótima de grifar todas essas passagens vergonhosas, a fim de que não se esqueça. Com tempo se resolve e se descobre muita coisa, com uma execução não.

Nas suas palavras, deixar o Saddam vivo não derruba o imperialismo americano, por assim dizer, mas matá-lo é justamente o que eles querem: "o bichinho de estimação ficou raivoso; matemos, depois a gente compra outro".

Matar o Saddam a essa altura do campeonato e de forma tão apressada era justamente o que se devia evitar. Se não por tudo o que eu disse, então para não nos igualarmos a ele.


Marie: Não amore, eu não me contradigo. Eu só fiz uma escolha real entre as utopicas. Pois a verdade é que é tudo utopia, até mesmo que você deseja, que é até o mais correto, mas não foi feito até agora e não seria feito nunca.

O mundo ainda não está apto a lidar com sobriedade e seriedade em relação ao mal que ele mesmo produz.


Gui: Aí que tá, amore, eu não acredito que seja a melhor opção para o mundo.

Você se contradiz porque diz que o mundo "ainda" não está pronto e logo depois classifica tudo como utopia. Ao fazer isso você desacredita qualquer possibilidade do mundo ficar pronto, pois negando a utopia você bloqueia fortemente a evolução.

Se eu não me engano, assim com a esperança traz motivação ao indivíduo e o sonho tras uma meta, a utopia traz um caminho — isso é psicológico, não?

Agora, se o caminho que a humanidade decide trilhar termina na forca simplesmente porque não está pronta (será que não está?)... então vejo tão pouca utopia, quanto sonho, quanto esperança.


Marie: Não Gui a utopia não se refere a sonho, nem esperança e sim à ilusão. E ilusão fala de projetos pautados em condições irreais e por isso nunca aptos a tornarem-se realidade de fato e, portanto, em evolução. É por isso que utopias são negativas, assim como ilusões: fazem marcar passo no mesmo lugar sem se ir a lugar algum.

Sonhos são coisas que se tem e que podem ou não serem ilusórios ou utópicos. Mas a única forma de evoluir é justamente sonhando e colocando esse sonho em bases concretas para que ele possa acontecer.

A Revolução Russa mesmo naufragou porque? Baseou-se num senso de nacionalismo, solidariedade e comunidade que não existia de fato na população como um todo e muito menos nos que foram encarregados de cuidar dela e o que vimos quando ela acabou? Um país devastado por pequenos ditadores que centralizaram todo o poder econômico e mantiveram a população na miséria mais profunda por décadas a fio... Evoluíram os russos? Naquele momento não. Quando da queda do Comunismo eram um povo embebido em álcool e drogas, sem terem nenhuma condição de trabalho e ainda tendo de correr atrás de todo um avanço tecnológico para poderem participarem do mundo moderno.

Sim, os Estados Unidos foram megaultrahiperblaster utópicos em relação à invasão no Iraque e agora o mundo tem nas mãos um pepino tremendo, pois o país está sentado sobre uma bomba prestes a explodir já que lá existem três "nações" ideológicas que não se afinizam e que vão lutar até à morte para assumirem o comando do país assim que os americanos virarem as costas - o que demonstra que democracia é um processo utópico para aquele povo, sacou? - e as saídas para se evitar que isso aconteça são quase nulas...

O enforcamento de Saddan é, ao meu ver, o menor dos problemas e o que deveria chamar menos a nossa atenção embora eu entenda e acate todos os argumentos, mas a verdade é uma só: nós vivemos num mundo bárbaro, sim, e pior: essa barbarie está aqui no nosso país, mas a gente insiste em fingir que não, que isso rola só no quintal do nosso vizinho; e isso porque os nossos métodos de massacrar o outro são mais sutis, porém não menos eficazes...

O caminho para a evolução ao meu ver não é utópico, mas é torto, praticamente um milagre que vai acontecer, mas eu não sei precisar como, pois passa por cada um e implica em uma transformação pessoal profunda que deve nos tornar verdadeiramente respeitosos para conosco mesmo e para com o outro e suas diferenças. Se a gente não consegue isso ainda no âmbito pessoal, quem dirá no coletivo...

4 de janeiro de 2007

Mataram o Saddan



As pessoas se indignaram com o enforcamento do Saddan Hussein. Para mim foi o que de melhor poderia acontecer, não para ele, mas para o mundo.

Nós não temos estrutura para lidar com ditadores depostos, como não temos para lidar com bandidos; e deixá-lo mofando numa prisão sendo sustentado pelo Estado enquanto gente honesta passa fome para mim não é solução, é afronta. Não, não sou a favor da pena de morte. Sou a favor de um sistema prisional que reeduque pessoas e torne-as construtivas para a sociedade, seja esta qual for.

E enquanto alguns ficam chocados ao constatarem que vivem num mundo que ainda enforca as pessoas, eu fico por me dar conta de que faço parte de uma humanidade que ainda produz gente que pela força e matando milhares, impõe para milhões as suas ideologias. E por todos olharmos isso e fazermos de conta que nada tem a ver com a nossa vida. Saddam morreu, mas a África está cheia de pequenos ditadores que matam milhares por ano submetendo seus semelhantes a condições de vida degradantes e ninguém faz nada. Em nome do vil metal ninguém faz nada.

Fico emputecida em fazer parte de uma espécie que inventa tantas coisas, mas que até agora não conseguiu descobrir uma maneira efetiva e saudável de cuidar daqueles que apresentam desvios de personalidade que causam danos a terceiros. Os sistemas carcerários do mundo inteiro estão lotados de pessoas que passam à vida toda lá, a maioria sem conseguir transformar a forma como consideram o próximo. As cadeias geralmente funcionam apenas como faculdade de aprimoramento de vilania.

Cansei dos discursos politicamente corretos e vazios. Se não se sabe o que fazer com os Saddans do mundo melhor matar do que ficar sustentando-os pelo resto de seus dias. Que o dinheiro que seria gasto com ele seja empregado para manter crianças na escola lá no Iraque.

Sim, utópico. Mas entre essa minha utopia e aquela que quer que o imperialismo americano seja deposto pela manutenção de um Saddam vivo e inerte, prefiro a minha. Se ao menos ele fosse posto para trabalhar, reconstruir o que foi destruído... Sim, sou adepta de que o trabalho dignifica o homem. Sempre.