9 de janeiro de 2007

O post sobre a morte do Saddan gerou uma discussão do bem nos comentários e me deu vontade de reproduzí-la aqui já que nem todo mundo acessa comentários...

Gui: Amore, você sozinha se contradisse e encontrou uma melhor opção para o enforcamento — o que, vindo de uma pessoa contra a pena de morte, não deveria ser opção. Trabalho.

Sim, Saddam morreu. A questão não é se ele é melhor vivo ou morto, ou se ele vai gerar um custo ao estado iraquiano. A questão, como você notou é bem maior e envolve, por exemplo, a averiguação detalhada (que poderia vir com o julgamento e a possível condenação) de muitos outros crimes e ligações, tanto dentro do iraque quanto relacionados com outros governos. "Ah, mas ele pagou por eles também, afinal, morreu!" É, mas historicamente perdeu-se uma chance ótima de grifar todas essas passagens vergonhosas, a fim de que não se esqueça. Com tempo se resolve e se descobre muita coisa, com uma execução não.

Nas suas palavras, deixar o Saddam vivo não derruba o imperialismo americano, por assim dizer, mas matá-lo é justamente o que eles querem: "o bichinho de estimação ficou raivoso; matemos, depois a gente compra outro".

Matar o Saddam a essa altura do campeonato e de forma tão apressada era justamente o que se devia evitar. Se não por tudo o que eu disse, então para não nos igualarmos a ele.


Marie: Não amore, eu não me contradigo. Eu só fiz uma escolha real entre as utopicas. Pois a verdade é que é tudo utopia, até mesmo que você deseja, que é até o mais correto, mas não foi feito até agora e não seria feito nunca.

O mundo ainda não está apto a lidar com sobriedade e seriedade em relação ao mal que ele mesmo produz.


Gui: Aí que tá, amore, eu não acredito que seja a melhor opção para o mundo.

Você se contradiz porque diz que o mundo "ainda" não está pronto e logo depois classifica tudo como utopia. Ao fazer isso você desacredita qualquer possibilidade do mundo ficar pronto, pois negando a utopia você bloqueia fortemente a evolução.

Se eu não me engano, assim com a esperança traz motivação ao indivíduo e o sonho tras uma meta, a utopia traz um caminho — isso é psicológico, não?

Agora, se o caminho que a humanidade decide trilhar termina na forca simplesmente porque não está pronta (será que não está?)... então vejo tão pouca utopia, quanto sonho, quanto esperança.


Marie: Não Gui a utopia não se refere a sonho, nem esperança e sim à ilusão. E ilusão fala de projetos pautados em condições irreais e por isso nunca aptos a tornarem-se realidade de fato e, portanto, em evolução. É por isso que utopias são negativas, assim como ilusões: fazem marcar passo no mesmo lugar sem se ir a lugar algum.

Sonhos são coisas que se tem e que podem ou não serem ilusórios ou utópicos. Mas a única forma de evoluir é justamente sonhando e colocando esse sonho em bases concretas para que ele possa acontecer.

A Revolução Russa mesmo naufragou porque? Baseou-se num senso de nacionalismo, solidariedade e comunidade que não existia de fato na população como um todo e muito menos nos que foram encarregados de cuidar dela e o que vimos quando ela acabou? Um país devastado por pequenos ditadores que centralizaram todo o poder econômico e mantiveram a população na miséria mais profunda por décadas a fio... Evoluíram os russos? Naquele momento não. Quando da queda do Comunismo eram um povo embebido em álcool e drogas, sem terem nenhuma condição de trabalho e ainda tendo de correr atrás de todo um avanço tecnológico para poderem participarem do mundo moderno.

Sim, os Estados Unidos foram megaultrahiperblaster utópicos em relação à invasão no Iraque e agora o mundo tem nas mãos um pepino tremendo, pois o país está sentado sobre uma bomba prestes a explodir já que lá existem três "nações" ideológicas que não se afinizam e que vão lutar até à morte para assumirem o comando do país assim que os americanos virarem as costas - o que demonstra que democracia é um processo utópico para aquele povo, sacou? - e as saídas para se evitar que isso aconteça são quase nulas...

O enforcamento de Saddan é, ao meu ver, o menor dos problemas e o que deveria chamar menos a nossa atenção embora eu entenda e acate todos os argumentos, mas a verdade é uma só: nós vivemos num mundo bárbaro, sim, e pior: essa barbarie está aqui no nosso país, mas a gente insiste em fingir que não, que isso rola só no quintal do nosso vizinho; e isso porque os nossos métodos de massacrar o outro são mais sutis, porém não menos eficazes...

O caminho para a evolução ao meu ver não é utópico, mas é torto, praticamente um milagre que vai acontecer, mas eu não sei precisar como, pois passa por cada um e implica em uma transformação pessoal profunda que deve nos tornar verdadeiramente respeitosos para conosco mesmo e para com o outro e suas diferenças. Se a gente não consegue isso ainda no âmbito pessoal, quem dirá no coletivo...

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