17 de setembro de 2007

O final de semana não foi nada do que planejei e trouxe essa experiência nova que é ajudar a enterrar uma pessoa - eu nunca havia lidado com o lado burocrático da coisa - e algumas constatações sobre viver como a de que a ajuda e a generosidade geralmente vem de onde você menos espera mesmo. Tem muita gente cretina nesse mundo, mas é fato também que tem muita, mas muita gente bacana mesmo e que te ajudam sem serem da sua família e sem terem obrigação nenhuma. Para mim essa é uma das magias da vida e um dos motivos pelos quais se vale a pena viver.

O que mais me impressionou no processo foi o administrativo do cemitério, principalmente quando o moço sacou o livro de registro que mostrava-lhe quem está enterrado no jazigo e quando foi o último enterro que aconteceu nele. Eu passei dois dias tentando achar uma forma de explicar o que vi e lamentando estar tão passada que nem lembrei de fazer uma foto com o celular... Pense ai numa pasta de arquivo que tem as folhas pelo menos 5 cm maior que ela nas bordas. Agora imagine todas essas bordas rasgadas, dobradas, enroladas sobre si mesmas como se fosse um babado. E o cara tem de abrir o negócio com todo o cuidado porque as folhas ali são capazes de desintegrar diante dos olhos de quem estiver olhando, literalmente. Computador não é algo conhecido daquele povo, mesmo que haja um ali bem em cima de uma das mesas...

Aliás, ali eles parecem nem ter compreensão do funcionamento da coisa, pois o cara fez com que eu deslocasse minha mãe até lá - o cemitério é longe pra dedéu de onde moramos e ela estava com a pressão alta - para assinar a autorização de sepultamento sem que fosse necessário, mesmo depois de eu perguntar mil vezes e insistir muito em que eu poderia fazê-lo sendo filha. Quando fui preencher a papelada e li lá que eu realmente poderia assinar bastando que depois ela enviasse uma ratificação da autorização fui lá perguntar se ele sabia ler e se entendia o que lia. Com toda a educação do mundo, mas fui. Quando ele respondeu que obedecia ordens, pedi então que dissesse ao chefe dele que ele estava ouvindo reclamações atoa, uma vez que aquele papel era um documento e assim sendo era soberano ao que qualquer pessoa pensasse ou fizesse.

E ai você pensa no quanto se paga pelo sepultamento, mesmo os mais simples, e na estrutura que tem um dos maiores cemitérios de São Paulo e conclui que até na hora de morrer tem gente levando vantagem sobre você.

Ê Brasil!

Nenhum comentário: