1 de julho de 2008

Se tem uma coisa na qual eu não acredito no amor é na conquista. Talvez porque eu tenha sofrido de rejeição paterna e tenha passado a minha infância e começo de adolescência tentando ser alguém que meu pai pudesse amar. Não adiantou. Eu quis me transformar em outra pessoa e, no entanto, só consegui ser cada vez mais eu mesma.

Não entendo que se façam coisas no sentido de convencer ou mostrar ao outro que o que sou é passível de ser amado. Se sou, sou espontaneamente e o outro vê e em vendo, pode me amar ou não. É, ele também não tem muito controle sobre o que sente né? A gente ama ou desama sem motivo, simplesmente acontece. Não tem truque, não tem jogo de cena, não tem vontade ou razão que comande o nosso coração.

Mais ou menos. Assim: acho que a única coisa que podemos fazer com o nosso sentir é conformá-lo. Explico-me: conformar o sentimento é viver conformada em ter uma relação meia-boca com alguém de quem se gosta, mas não se ama, porque tem outras coisas consideradas mais importantes envolvidas; ou viver conformada que não se vai viver o grande amor porque ele não nos ama. O conformismo adormece e amortece o sentimento, e se ele é inevitável, prefiro só viver o segundo tipo. Que Deus me proteja de viver uma relação meia-boca seja lá pelo motivo que for.

Na minha vida afetiva não me lembro de ter sido conquistada. As coisas aconteceram ou não, mas sempre naturalmente. Primeiro surgia a paixão: às vezes a primeira vista, noutras nascida do convívio numa amizade; o namoro e a convivência mais íntima traziam o amor, ou não. E quando não, nada havia que o outro fosse, atuasse ou praticasse que me fizesse voltar atrás na decisão de romper. Da mesma forma que não sei viver sem receber amor, não sei viver sem dar o que considero justo o outro receber, pois todos têm o direito de serem amados e não apenas gostados. Arrogância suprema é a daquele que acredita que dar carinho basta. Lembro de um amigo que um dia me disse que admirava a minha capacidade e firmeza em terminar os relacionamentos e não cair nas armadilhas da carência, tanto minha quanto alheia. Para mim sempre foi muito claro que embora doa, quanto mais cedo eu liberar o outro, mais cedo ambos encontraremos a felicidade.

Talvez pela relação com o meu pai eu tenha essa necessidade primordial de me sentir amada para estar com alguém. Não sei amar sozinha, não consigo crer em que amar por dois funcione. Eu amo e quero amor de volta. Quero me sentir amada também. Posso ser maluca de paixão por alguém, mas se não sentir a reciprocidade, minha paixão não é um sentimento que vá se transformar em amor romântico. E se amo já e descubro que não sou amada da mesma forma, meu amor se fraterniza. O que não é esquecimento, é vero. É apenas encontrar a maneira sob a qual este sentimento possa sobreviver sem causar danos a ninguém, principalmente a mim mesma.

Claro que já adoeci de paixão, porém não gostei da pessoa na qual me transformei – que na verdade sou - quando obsedada pelo meu próprio sentir. Só vivi tormentos nessa situação e nem posso dizer que estes foram provocados pelo outro. Por isso, quando me dou conta que a qualidade do que sinto não me faz bem, empenho-me em me conformar com não viver aquilo. Não é fácil, pois tem dias em que dói muito. Você tem de viver num estado de atenção constante para desviar-se das armadilhas que existem pelo caminho e que sabe que se tropeçar nelas, te lançarão de volta ao sentimento que você tenta reformar.

Esquecer um amor é mais ou menos como ser um ex-viciado: você tem de evitar o "primeiro gole" pro resto da sua vida. Isso implica em evitar qualquer situação na qual possa ter seus sentimentos despertos e se por ventura isso não for possível, evitar entregar-se a fantasia de que aquilo seja mais do que demonstração de carinho.

E tem vezes nas quais nem isso é possível... Às vezes você ama e é amada, porém a pessoa está presa numa outra história que é igualmente importante, ou tem mais prioridade do que viver esse amor naquele momento... E a única opção que você tem é a de se conformar mais uma vez, pois caso contrário terá de aceitar não as migalhas do afeto alheio – a final ele corresponde ao seu amor – mas com as sobras do tempo que ele tem para dedicar-se à relação que tem com você. E viver a espera de que chegue o dia em que possam ficar juntos. Nesse caso é uma questão de auto-estima e conhecimento próprio saber se essa relação te nutre ou não.

A mim não nutre, embora dê alento.

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