20 de julho de 2008

É impressionante a necessidade humana de dar a própria opinião sobre tudo. E a incapacidade em perceber que geralmente faz exatamente o mesmo que critica nos outros.

E é um vício.

A gente é viciado em querer julgar e pesar a existência alheia, querendo que esta pese e valha de acordo com a nossa opinião.

De um tempo para cá tenho tentado combater isso em mim e me ocupar apenas da minha existência, o que já é muito. E é quando a gente começa a ter essa postura que percebe com mais clareza que a falta de educação nas relações humanas é infinitamente maior do que se julgava à princípio. As pessoas de verdade se julgam no direito de questionar a maneira como o outro leva a vida e as coisas nas quais ele acredita, como se tivessem alguma coisa a ver com isso, como se o sustentassem financeira ou emocionalmente, única condição na qual eu acho que você tem mesmo de dar satisfações.

Porém quando não é esse o caso, pras essas pessoas inxeridas, a gente tem mesmo é de cantar: "ado, a-ado, cada um no seu quadrado."

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E outro dia li um post da Clara, chamado "Faca na Bota", que falava sobre isso e as respostas que a gente pensa em dar nessas horas. Ah! Se eu desse todas as respostas que me vêm a mente nessas horas. Mas geralmente não dou. Não por covardia, mas por economia de energia. A situação às vezes é até corriqueira: você está de esmalte vermelho e alguém olha na sua cara e diz: "odeio esmalte vermelho; acho tão vulgar". Eu invariavelmente penso: "que bom; então não use!".

Falemos sério: que importância tem na sua vida a cor do esmalte que eu uso? Mais: que importância tem na minha vida a sua opinião? Você pode até achar que tem, mas olha, vou ser muito sincera e contar um segredo: cada vez menos me preocupo com o que as pessoas pensam ao meu respeito; mais: cada vez mais vou retirando das pessoas a autorização de me dizerem o que pensam sobre mim. Porque? Por que uma época resolvi dar ouvidos à todos e o resultado foi péssimo: me perdi de mim mesma, perdi meu referencial interno. Pois; justamente porque cada um te mede pelos próprios valores, e só pelo fato destes serem os valores deles e não meus, não me servem. Não são bons ou ruins, só não me servem. Então, da mesma maneira que tenho evitado colocar o outro sob meu valor, tenho me retirado do valor alheio.

É, isso não impede que as pessoas sigam falando, mas não escuto mais. Não deixo aquilo me atingir. E se por ventura o que o outro diz me cutuca, páro, respiro fundo e me liberto daquilo mergulhando em mim mesma, pois sei que só me tocou por refletir uma coisa que também penso ou sinto acerca de mim mesma, porém é algo que tenho que resolver comigo e não com o outro. Muito menos dar-lhe satisfação. E sim, posso decidir falar sobre algo meu com alguém e quando faço isso é claro que autorizo o outro a emitir a sua opinião, mas ai é completamente diferente né? É.

Mas voltando ao porque geralmente não respondo nada, é o seguinte: se você diz algo duro a alguém com quem tem intimidade, a coisa se dissolve na relação, no afeto. A pessoa se manca e pára. Se isso não resolver, a relação comporta uma subida nas tamancas e tudo volta a ficar bem mais cedo ou mais tarde. No entanto, diga algo duro a alguém que você apenas conhece, conversou poucas vezes e não tem intimidade, para que imedatamente sua aura seja bombardeada pela raiva dela... Porque é claro que é você a grossa e a mal-educada e não ela, que deu opinião sobre o que não foi solicitado. E é claro que os amigos também emitem ondas de raiva na nossa direção num conflito, porém não serei eu a gastar tempo e energia me livrando da crosta negativa de quem não me diz nada afetivamente. Simplesmente aprendi a ignorar essas mensagens.

E no entanto, se a pessoa insiste, uma hora você tem de descer do salto e rodar a baiana, porque tem gente que confunde boa educação com idiotice. Bondade com ser bobo e ai a gente precisa colocar os pingos nos 'is'.

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Faz parte da nossa cultura achar que ser humilde é pensar que se é bom, mas se fazer de coitado, se rebaixar, se omitir. Eu não acredito nisso. Pra mim ser humilde é reconhecer seu potêncial, seus pontos fortes e saber do fundo da sua alma que tem muita gente infinitamente melhor que você nesse mundão de meu Deus. Mas MUITA gente mesmo!

Mais: é saber que muitos vão te olhar e ter uma opinião completamente diferente sobre seus potenciais e pontos fortes e tudo bem, sem problema algum, pois afinal o importante não é o que os outros pensam sobre você, mas o que se é de verdade.

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