29 de junho de 2008

Estava aqui pensando e acabei me dando conta que cada homem que passou pela minha vida colaborou pra eu saber o que quero naquele que vai ficar nela como meu companheiro... De cada um tiro um ou mais atributos que gostaria de ver reunidos em um homem só, e isso pode não torná-lo perfeito aos olhos do mundo, mas o torna aos meus olhos.
Cor da elaboração sobre o azul


Estava completamente mergulhada na leitura quando sentiu a brisa bater suavemente em seu rosto. Automaticamente deixou o livro tombar sobre seu colo, embora ainda preso pela sua mão, e levantou a face em direção ao céu com os olhos fechados. Inspirou profundamente, repetidas vezes, até achar que todas as células do seu corpo já estavam banhadas, pelo delicado e inebriante perfume que se desprendia das delicadas flores amarelo-ouro a adornarem a árvore sob a qual estava sentada, porém cujo nome desconhecia.
Abriu os olhos olhando para as árvores do outro lado do lago e foi neste momento que viu uma borboleta, de asas pretas e amarelas, vir voando em sua direção. Surpresa percebeu que a mesma não mudaria sua rota, terminando por pousar suavemente sobre seu ombro esquerdo e começando, imediatamente, a passear pelas suas costas e cabelos. Ia chegar ao seu rosto, mas antes que isso acontecesse, ela resolveu pegá-la com a mão e depositá-la na planta mais próxima.

Imaginando se a borboleta pousar nela era alguma forma de sinal, um bom agouro em relação ao futuro próximo. Esticou as pernas e escorregou malemolentemente no banco até recostar a cabeça no seu espaldar acomodando-se confortavelmente. Fechou mais uma vez os olhos e colocando o livro de lado, recomeçou mais uma série de respirações profundas, um dos métodos eficaz em colocá-la em contato consigo mesma.

Há alguns meses vivenciará uma desilusão profunda quando, após deixá-la por outra, o homem que amava, fomentado pela nova companheira, acusou-a de coisas que não fizera. Aquilo doeu infinitamente mais do que ser deixada por que, se entendia ele não se sentir mais atraído por ela enquanto mulher, não compreendia como, após cinco anos de convivência, podia acusá-la de coisas que jamais faria, nem com ele e nem com ninguém, por não ser da sua índole. Como pôde simplesmente passar a desconhecê-la só porque a mente doentia da namorada resolveu enxergar razões escusas em atitudes inocentes dela para com ele numa reunião social?

Até entendia que na cabeça medíocre da moça, assim como na de noventa e nove por cento da população feminina mundial, esta visse como ameaçadora a convivência pacífica de ambos. Porém, ele agir para com ela como se isso fosse verdade era um absurdo! Quando abriu seu e-mail e leu a mensagem na qual ele desfiava um rosário de improbidades e terminava por dizer que esperava não vê-la nunca mais, acrescentando que o deixasse em paz - como se ela vivesse à cata dele - explodiu numa onda de ódio tão intenso que acabou falando coisas com as quais jamais sonhara em sua vida. Xingou, gritou, ameaçou, e chantageou, pois em hipótese alguma admitiria ser descartada e destratada daquele jeito. Isso era demais até para ela, a rainha da compreensão e do perdão quando se tratava dele.

Quando sua ira arrefeceu e a despeito dos resultados - pois não colocou em prática nada do que disse que faria - ficou chocada com a grandeza do monstro que a habitava e com o quão baixo conseguira chegar para “corrigir um erro”. Foi então que se fez pela primeira vez à mesma e clássica pergunta que há séculos corria mundo: “um erro justifica outro”? Para si não. Nada justificava que tivesse se utilizado de meios tão sórdidos para atingir um objetivo, mesmo que o achasse justo.

E foi ai que a dor da decepção para com o outro se uniu à dor da decepção para consigo mesma e se tornou tão intensa e insuportável, que provocou como que uma rachadura na sua estrutura psíquica por onde sua alma escoou, indo se esconder em algum lugar dentro de si mesma, aonde, apesar de tudo ver, nada podia atingi-la. Ela deixou de sentir.

Se isso assustava algumas pessoas, ou todas, não a assustava por dois motivos: um, porque não era a primeira vez que aquilo lhe acontecia - numa outra ocasião quando se sentiu incapaz de lidar com a realidade circundante, apesar de não ser uma situação afetiva, também alienou-se, voltando a sentir quando o que era novo tornou-se costume - e dois porque se tinha algo que ela não queria naquele momento, de jeito algum, era sentir. Não queria sentir nem a dor e nem aquela espécie de amor, que sabia, ainda havia em si por aquele homem que não a merecia. E também sabia que apesar de todo o seu não querer, e apesar da sua incompreensão para com aquele sentimento, seria este quem a traria de volta ao mundo dos sensíveis uma vez que, ainda hoje, era impossível encontrar com o ex sem que algo dentro dela estremecesse... Mesmo que, de verdade, não soubesse mais do que estremecia... Embora ainda chamasse aquilo de amor, achava que no fundo era puro costume.

E fora isso que acontecera: havia retornado pouco a pouco, já que o conflito entre o que sentia, o que queria e o que podia só encontraria resolução se tomasse posse da totalidade do seu ser. As questões que se propunha só podiam ser respondidas mediante o contato verdadeiro com os seus conteúdos. Quais questões? Várias, mas a mais emergente delas no momento era: “Como podia ainda sentir-se atraída por alguém que sabidamente lhe fazia mal”?

Sim, por que se tinha algo que hoje ela conseguia ver com clareza era que o homem charmoso, inteligente, culto, gostoso, bonito e bem humorado por quem um dia se apaixonara, era também capaz de atitudes terríveis que machucavam profundamente, uma vez que nunca levava em consideração a existência e nem quais conseqüências teriam suas ações na vida de outrem, já que, por mais de uma vez, a atropelara, metafórica e meteoricamente, apenas para satisfazer necessidades suas ou da pessoa com quem estivesse no momento. É, ao longo desses cinco anos “juntos”, várias foram às vezes nas quais se afastaram e tiveram outros parceiros. E embora ela sempre tivesse conseguido mantê-lo à margem dos seus namoros o mesmo não acontecia com ele.

Por mais de uma vez se viu involuntariamente envolvida com as suas relações chegando ao cúmulo, certa ocasião, de ter sido perseguida por uma namorada ciumenta, com a qual convivia ocasionalmente, desconhecendo, no entanto, que eles estivessem juntos. Descobriu por mero acaso e foi só então que percebeu que por muito tempo, ele se mantivera relacionando com ambas, embora entre eles não sustentassem mais o título de namorados. Percebeu também que era a outra quem mantinha a primazia no coração dele e que era por ela que ele fazia qualquer coisa para evitar o rompimento; até pisar nela.

Nessa ocasião chegou a ficar meses afastada dele; mas sentia sempre uma falta tão absurda da convivência que acabou procurando-o como nas outras vezes. E se a princípio a intenção sempre fosse permanecer somente como amiga, isso invariavelmente desvanecia e acabavam na cama. Ele não a amava, mas tinha-lhe tesão. Ela também. E era assim que terminavam novamente por se envolver, mesmo sabendo que dali a um pouco, e a despeito das suas pretensas boas intenções, ele partiria em um outro relacionamento. Ela falava-lhe sobre isso; ele insistia em dizer que valia a pena tentarem... E não houve uma só vez que vê-lo partir não tivesse doído e muito. Não houve também uma só vez em que ele não partisse. Saber não impede a dor.

No entanto não era ingênua a ponto de culpá-lo de ser o vilão da sua existência, embora achasse que algumas responsabilidades lhe cabiam sim. Porém isso era algo que ele tinha de dizer-se e não ela. Tinha plena consciência de que todos os abusos dele foram permitidos por ela que acreditou que perdoando e desculpando sempre, ao invés de quebrar o pau e impor limites, o faria ver o quanto ela era legal e digna de ser amada.

Era a velha história da sua vida com os homens se repetindo. Primeiro foi com o pai, depois com o irmão e agora com ele. Era como se na sua relação com o masculino vivenciasse uma só premissa: “deve existir algum jeito, alguém em quem eu possa me transformar para que possam me amar”. E com isso foi deixando de ser ela mesma, foi colocando-se de lado como se fosse algo ruim que não valesse a pena.

Foi assim que entorpeceu a sua exuberância, a sua autenticidade, a sua criatividade e até a sua inteligência. Tentou ser, com todas as forças do seu ser, uma mulher que não intimidasse os homens. Alguém que eles achassem ter necessidade para viver. Nunca conseguiu. Ficou sempre à margem, nem cá e nem lá. Apenas perdida de si mesma por que ninguém consegue esconder um vulcão em erupção constante. Ele até deixa de entrar em erupção, mas a fumaça continua lá, constantemente avisando que está ativo.

Custou, doeu, sofreu, mas finalmente entendeu que só poderia ser amada sendo autêntica, sendo do jeito que realmente é. Que só pode ser amado quem existe verdadeiramente e que, a despeito de tudo o que dizem por ai, não existe garantia alguma de que, no mundo, alguém venha a amá-la mesmo que em decorrência de laços sanguíneos. Amor só nasce de afinidades.

Estava perdida nesses pensamentos quando sentiu algo muito suave tocar-lhe a ponta do nariz. Abrindo os olhos viu que a borboleta havia voltado a pousar nela. Riu alto e a tirou dali só que desta vez, ao invés de colocá-la em alguma planta, preferiu jogá-la para o alto e vê-la partir.

28 de junho de 2008

Então, decidi postar aqui alguns dos contos que escrevi e que mais gosto. Todos fazem parte de uma coletânea que denominei "Sobre o Azul".

Espero que quem já leu goste de reler e entretenha-se, e quem ainda não os leu, descubra neles prazeres.




Cor da morte sobre azul



O doutor, caneta em punho, olhou o prontuário e perguntou:

- O que você está sentindo?

- Nada. Respondeu ela olhando-o no rosto.

Ele levanta a cabeça e com expressão de quem não entendeu muito bem e volta a repetir:

- O que você está sentindo?

- Nada. Ela repete.

- Como assim nada? Ele deixa transparecer em sua expressão que, vendo-a, parece óbvio que algo vai mal: a pele branca, os lábios sem cor, o olhar vidrado e arregalado, a voz baixa, quase um sussurro, a respiração difícil.

- Eu não sinto nada doutor, tornou ela. Nem dor, nem tristeza, nem alegria, nem amor, nem raiva, nem ódio, nem ternura, nem carinho. Não sinto absolutamente nada. No meu peito só tem um vazio enorme. Um buraco negro que quando olho para ele me dá vertigem. Ai minhas vistas escurecem, fico tonta e sinto que vou desmaiar. Porque luto; luto para que não me sugue para dentro dele, para eu não me perder nesse vazio. Mas ele está aqui e está me puxando. E eu estou muito, muito cansada de lutar contra ele a minha vida toda...

O médico pousou a caneta no papel cruzando as mãos sobre o mesmo:

- Alguém te decepcionou?

- Não. Fui eu mesma quem fiz isso. Sou um monstro. Você não vê, por que tenho essa cara boazinha, essa voz mansa; mas aqui dentro existe um monstro capaz de pensar coisas terríveis quando se sente acuado. Eu achei que fosse boa, mas não sou. Sou um ser desprezível. Ataque-me injustamente e veja eu me transformar no pior ser que você já viu.

- Todos são assim.

- Será? Não sei... Para mim é tão difícil lidar com isso do que os outros são... Mal consigo lidar comigo mesma... Eu achava que o que sentia era amor; apesar de tudo; era amor. Hoje não sei mais. Parece doença. Mas não sinto mais para saber o que é, sabe? Simplesmente deixei de sentir. Sou esquizóide. Quando acuada “subo” para o meu núcleo e fico vendo o mundo de longe. Nada me atinge. Absolutamente nada. Chego a ter a sensação nítida de que quando ando flutuo. É justamente assim que sei que estou lá me defendendo da vida. Já passei meses entrincheirada na esquizoidia quando me sentia perdida, com medo do que vinha pela frente, com medo de morrer. Mas agora está diferente. Não flutuo e sinto que perdi mesmo a capacidade de sentir. O núcleo virou um buraco negro que quer me sugar e eu estou tão cansada de lutar... Tenho medo de enlouquecer, mas, às vezes, penso que seria tão mais fácil. Tão mais fácil... Também não consigo chorar sabe? Logo eu que sou uma chorona de primeira. Meus olhos até se enchem de lágrimas, mas o choro mesmo, aquele forte que seria redentor, não vem. Não sai.

- Confesso que estava tencionando te encaminhar para a psiquiatria, mas você está tão lúcida e articulada, tão senhora de si que acho que eles não podem fazer nada por você lá que eu também não possa fazer aqui. Você passou por um tremendo estresse emocional, isso é evidente, e está precisando de repouso e de calmante. Vou fazer um soro, você vai ficar deitada umas três horas e neste soro vou botar um calmante. Também vou receitar para que o tome em casa. Poucos dias, só para dar uma relaxada e conseguir ficar mais imune a tudo e a todos e daí voltar.

- Eu não quero voltar. Quero ir embora e para sempre. Eu posso um dia vir a fazer o que penso, posso vir a, de verdade, prejudicar e machucar alguém que achava que amava...

- Me parece que você foi provocada e como você mesma disse: injustamente. Apenas reagiu a isso.

- Mas quem não sofre injustiças nessa vida? Foi a primeira vez que alguém me fez isso? Não. Será a última? Também não. São versões de um mesmo filme; um filme que já vi várias vezes nos últimos anos. Agora, o quê seria do mundo se todos se reconhecessem monstros perante as injustiças sofridas? Se déssemos vazão ao que pensamos? Teriamos muitos mais crimes... E o amor não deveria ser belo e trazer felicidade? Para que seguir lutando quando o que existe reservado para si é o desamor ou quando amar vira uma batalha insana por respeito e consideração? Não. Quero isso mais não...

- Vamos, vou te colocar no soro. Lá você descansa e logo passo para te ver novamente. Hoje, graças a Deus, isso está calmo!

Colocaram-na no soro. A sala é minúscula e fria, muito fria. No entanto ela já não e capaz de distinguir se o frio vem de fora ou de dentro de si mesma. Algo rompeu no seu peito. Existe o vazio, existe o buraco, existe o nada. Ela tentou evitar, tentou desesperadamente colar os pedacinhos, feriu-se e feriu alguém com os estilhaços.

Fica ali deitada olhando as gotas do soro que caem uma a uma. Não sentiu nem picarem seu braço. Ela que sempre teve pavor de agulhas. Está ali, olhando sem ver nada de concreto, vendo apenas “um filme” se desenrolar à sua frente. “Escuta” a frase tão famosa da mãe:

- “Se você fizer algo que me desagrade, fique sabendo que não te amarei mais. Simplesmente te risco da minha vida”.

Cresceu ouvindo isso e acreditando piamente que fosse verdade. Cresceu com medo dessa capacidade que os outros têm de deixarem de amar alguém simplesmente por vontade. Como se as pessoas fossem objetos dos quais a gente se cansa e bota fora quando nos convêm, tendo por motivo apenas a percepção de que elas não são o que queremos que elas fossem.

Ela tentou fazer isso várias vezes durante sua existência, porém não conseguiu nunca. Sim, deixara de amar algumas pessoas e de falar com outras. Mas jamais conseguiu esquecer alguém que fez parte da sua vida. De sentir carinho, de lembrar e rir-se sozinha dos bons momentos. Os maus ela se permitia, com o tempo, esquecer. Só se afastava de alguém quando a pessoa demonstrava capacidade real em lhe fazer mal, e mesmo assim o fazia em silêncio, sem alarde. Parecia-lhe tão estranho isso de riscar de uma existência alguém como se essa pessoa nunca tivesse feito parte da sua vida. Viver sem que nem uma pedra, ou um cheiro, ou um sabor, ou a pétala de uma mísera flor fosse capaz de suscitar reminiscências. Não existência. Nada. Ela também tem esse discurso. Filho de peixe, peixinho é; mas na verdade nunca conseguiu. Passada a raiva sempre ficava com as coisas boas da relação e achava que valia a pena tentar novamente.

Ouviu o irmão, de novo dizer que não a amou nunca. Ouviu o pai, mais distante ainda, dizer a mesma coisa. Era pequena ainda e as pessoas próximas já não gostavam dela. Que sina é essa que traz um bebê fazendo-o capaz de suscitar repulsa nas pessoas que, por via de regra, deveriam amá-lo?

Passou a vida tentando ser alguém que pudessem amar. Amarem independente de qualquer coisa que fosse, ou fizesse. Amaren com defeitos e qualidades. Amarem sem que ela precisasse brigar por isso. Ser amada simplesmente porque existe.

Hoje até sabe que a mãe não tem o poder de deixar de amá-la, e nem a ninguém, mas o mal, o grande e profundo mal, está feito. Ela tentou por anos estabelecer com alguém uma ligação afetiva significativa, mas sem sucesso. Viu as pessoas irem embora da sua vida uma a uma. Todo mundo a festeja. Todo mundo a celebra, mas ninguém fica com ela. Sua vida se resume àquilo mesmo: um espaço minúsculo destituído de qualquer adorno, onde se dopa a fim de não sentir que o mundo não a comporta.

Porém hoje ela sabe. Hoje nada mais é capaz de fazê-la acreditar que um dia haverá para si uma existência de amor. O vazio está ali no seu peito. Algo arrebentou dentro dela sem chance de ser reconstituído. A esperança morreu. Hoje viu sua face nua frente ao espelho e viu também a face das pessoas a sua volta. Hoje sabe o porquê de não a amarem e entende. Aceita.

O médico entra na sala, silencioso, pára ao seu lado, coloca a mão em seu braço e pergunta:

- Grandes olhos tristes, você está se sentindo melhor?

Ela assente com a cabeça enquanto as lágrimas descem pelo seu rosto. Aquela mão... Aquele toque... Ela chora. Finalmente chora. Porém é um choro de despedida da pessoa que um dia foi e que sabe que ficará ali naquele cubículo para sempre quando ela for embora.

O médico puxa a cadeira e se senta. Afaga-lhe os cabelos tal como um pai faz com uma filha. Ela olha para ele e diz:

- Eu morri né? Você sabe; eu morri. Daqui a um pouco vou levantar dessa maca, vou pegar minhas coisas, vou passar na farmácia do hospital para pegar meu remédio e vou para casa. No entanto já não serei mais eu, serei outra. Já não fui eu quem chegou aqui, e também não serei eu quem daqui sairá. Eu morri e vim aqui me enterrar por que não estava conseguindo fazê-lo sozinha. Por isso não tive a sensação de flutuar; não entrei no núcleo por defesa: me transformei nele, no não sentir. O vazio é minha cova e me puxa porque tenho de ir para o meu repouso eterno. Eu seguirei vivendo e as pessoas vão até achar que sou eu, mas não sou. Será o fantasma do que um dia fui. Vou rir, vou chorar, vou viver enfim, mas jamais vou me entregar novamente.

- Será que morreu mesmo? Você pode ser Fênix e renascer das próprias cinzas.

- Eu perdi a fé. Não acredito em mim e nem nas pessoas que vêm maldade onde não existe. E também porque não nasci pra ser amada sabe? Amada com amor maiúsculo. A tal da incondicionalidade que dizem que o amor verdadeiro encerra, seja ele sexuado ou não. Não pude ser amada assim nem pela minha família e nem por ninguém. Tem gente que nasce com essa sina. Sou uma destas. E sempre soube que era. Hoje finalmente aceitei meu destino. Só não me peça para ser feliz com ele. Não vou mais tentar, não vou mais insistir, não vou mais existir. Um dia vou morrer concretamente e o mundo vai seguir como se eu nem tivesse passado por ele. Não deixei filhos, não escrevi um livro, não plantei uma árvore. Fiz um blog, mas com o tempo, se eu deixar de escrever, o Google deleta. Nem do Google vou constar, já pensou nisso? Não constar do Google hoje em dia é não existir. Morrerei e terei uma lápide na qual vai estar escrito: “sinceramente não sei o que vim fazer aqui, mas vim, fiz o melhor que pude, e espero não ter de voltar nunca mais”.

- Seu soro acabou. Você está se sentindo bem para ir para casa? Ele pergunta enquanto gentilmente tira o esparadrapo que prende a agulha ao seu braço.

- Estou sim.

- Fica em pé e vamos ver se tem vertigens ainda, pede ele.

Ela se levanta e sabe que não terá mais vertigens, não entrou no núcleo. É o núcleo. É o nada. As vertigens eram apenas a passagem de um estado para o outro. Caminha até sua bolsa, a abre, pega o batom e passa nos lábios. Guarda-o novamente, fecha a bolsa e a coloca nas costas. Volta-se para o médico que termina de prescrever o calmante numa mesinha de apoio que tem ali. Ele estende a receita, que ela pega ao mesmo tempo que sorri para ele em agradecimento.

- Gostaria de revê-la semana que vem. Estarei de plantão na segunda e na quinta-feira, se puder vir na quinta seria bom.

- Não vou prometer vir não. Vou tentar. É a única coisa que posso prometer a mim mesma a partir de hoje: tentar, mesmo sem acreditar que vá conseguir.

- Se você ao menos conseguir tentar já me darei por satisfeito.

- Obrigada. Por tudo, obrigada.

E saiu da sala.

Ela era um nada indo rumo a nada.

Seus piores temores a haviam vencido.

27 de junho de 2008

Realmente eu tenho paixão por escrever, mas ando muito distante disso ultimamente. Sinto falta dos textos mais literários, mas não sou muito fã de requentar textos no blog, mesmo sabendo que as pessoas que atualmente transitam por aqui não os conhecem provavelmente. Talvez seja hora de também repensar posturas por aqui...

Gosto de comentar sobre comportamento, porém tenho a escrita dura né? E acaba dando merda, pois as pessoas tomam pra si. Assim: muitas vezes uma pessoa próxima a mim tem um determinado comportamento e me faz pensar num texto, numa crítica que não necessariamente é dirigida à pessoa, mas sim ao comportamento, e no entanto, como não vestir a carapuça, não é mesmo? Então eu fico com o texto entalado até esquecer e isso não é bom... Vou ver como resolvo isso...

Mas tá, vou requentar alguns contos aqui no blog, vou ver se reescrevo Tambiquitu em algumas partes e termino os três capítulos que faltam do livro; vou falar de sentimento, vou falar de transformação e das coisas nas quais acredito. Vou comntar uns filmes, colocar músicas... Trazer meu bonitinho de volta á vida. Quem sabe assim os leitores voltam a aparecer né?

24 de junho de 2008



Musica de All Saints: Never Ever. Me senti assim uns tempos atrás....
Pense num blog correndo alto risco de ser deletado...

Não tenho tido vontade de escrever e ninguémn tem tido vontade de lê-lo. Empate que jamais aconteceu antes...

15 de junho de 2008

Sobre a meditação criativa, ou a imaginação ativa. Uma observação.

Um dos objetivos dessa prática é criar um campo energético positivo em nós que por sua força atraia as energias de igual valor. Só que nós estamos imersos num campo energético formado por energias densas e negativas, então é muito fácil, quando deixamos diminuir a nossa freqüência que, valendo-se da lei da atração - sim aquela da física - essas energias invadam o nosso campo sutil e comecem a nos puxar para elas. É esse o motivo do "Orai e vigiai: orai implica em ter os bons pensamentos e cultivar os bons sentimentos, porém imersos nesse "lodo" energético temos de vigiar constantemente para que não deixemos cair o padrão vibratório e com isso sermos invadidos por eles.

E é por conta desse "lodo" que perseverar no bem e criar essa frequência pode ser tão mais difícil do que fazer ou permanecer no mal. O mal é o elemento dominante do "lodo", com ele se afiniza e nele navega facilmente. O bem encontra resistência e precisa de esforço até que criemos um campo de força que possua uma forma aerodinâmica energética própria, estável e forte, que passará a "furar" esse "lodo" e então a concretizar-se com maior facilidade.
E não existe garantias para nada nessa vida, nem para o amor. Hoje posso amar loucamente alguém e amanhã ter esse sentimento completamente transformado. As pessoas vão querer justifcar - vão até me dizer que não era amor o que eu sentia, embora fosse eu quem sentisse - um desamor, para o qual não existe justificativa da mesma forma que ela inexiste para quando comecei a amar. Isso simplesmente acontece.

Quem jura amor eterno está mentindo. Eu posso querer te amar para sempre, mas não posso garantir que será assim. Quem acredita em juras de amor, está se iludindo voluntariamente também.

E amar apenas não basta, é preciso que queiramos a pessoa e o custo que essa vivência nos cobrará, pois mesmo que corresponbdido, mesmo que nos faça feliz, o amor tem um preço do qual não podemos fugir. Quem ama faz conceções, abre mão de determinadas coisas, não em função do outro, mas em favor de viver o que sente numa relação. Não existe fórmula mágica.

E às vezes a pessoa não quer pagar o preço que um amor cobra, principalmente se for um amor que tira do prumo, faz cometer desatinos...

Uma pessoa que escolhe não viver um amor é um covarde?
Alguns acontecimentos com pessoas que conheço têm me feito pensar na prepotência e na arrogância. Percebi que a gente identifica muito fácil quando alguém está sendo prepotente e arrogante se estas aparecem acompanhadas da soberba. Porém descobri que as pessoas podem ser absolutamente prepotentes e arrogantes tendo uma postura absolutamente humilde, sofredora e até quando estão sendo aparentemente amorosas...

A gente sempre está sendo prepotente e arrogante quando acha que sabe o que é melhor pro outro; quando queremos obrigar o outro a fazer as nossas escolhas e a seguir as nossas determinações; quando a gente invalida as escolhas alheias atribuindo-as a um "mau momento", a uma privação momentânea da capacidade de decidir e saber sobre si como consequência de uma paixão, por exemplo. A gente é prepotente e arrogante quando quer tornar o outro absolutamente dependente de nós em tudo, quando quer atrelar o amor à necessidade. Somos prepotentes quando invalidamos a vivência alheia só porque ela não se parece com nada do que vivemos; quando queremos transformar o mundo e toda a sua magnífica diversidade, numa extensão mediocre do nosso quintal...

E é interessante perceber que a prepotência e arrogância são frutos e se mantém ä base de ilusões. A gente inventa - e sempre inventa quem se agarra a certezas absolutas - regras e razões para os mais diversos acontecimentos e ai quando a realidade insiste em mostrar que estamos enganados, quando ela nos apresenta possibilidades diferentes daquelas que conhecemos, a gente se desilude e sofre feito cão, mas não aprende: seguimos tentando encaixar o desconhecido em velhos moldes, esquecendo de olhar para o que interessa que são as nossas verdadeiras motivações para manter determinados comportamentos e assim, diante da realidade, aprendermos a nos transformar com as situações e vivermos de forma mais plena e feliz.
Junho, mês de "paus tecnológicos"?

Saí ontem para ir ao almoço de aniversário da Mírian e deixei meu micro ligado, como sempre baixando episódios, dessa vez do do In Treatment. Chego em casa quase 21:00 horas e encontro meu micro desligado. Achei que meu irmão usou e, esquecendo do Dreamule, o encerrou. Liguei e nada.... Pois, mó-rreu! Provavelmente a fonte que queimou de novo. Espero né? Pois está na garantia e vai evitar que eu gaste meu rico dinheirinho com isso. Ando tão afim de me proporcionar mimos com o meu dinheiro esse mês...

Amanhã veremos... Torçam por mim!

12 de junho de 2008

É dia dos namorados né? E eu nem devia, porque me determinei a esquecer, mas fui ouvir uma música ali e senti uams saudade tão grande...



Eu nem disse que seria rápido, ou fácil. E não é. Mesmo.
Demorei, mas voltei!

Foi um final de Inferno Astral com um modem pifado e sem conexão rápida, o que implicou em várias ligações pra Telefônica, discussões com atendentes, reclamações no Ombudsman por visitas técnicas que não ocorreram, até que na terça veio aqui o Rogério que resolveu meu problema no maior bom-humor - enquanto o meu já era praticamente inexistente - e ainda deixou um modem novo em regime de comodato com a Telefônica, o que impediu que eu passasse mais 15 dias esperando o Terra me enviar um novo.

O aniversário foi cheio de coisas boas, de pequenas comemorações que me permitiram curtir muito e todas as pessoas que estiveram comigo em cada uma delas. E elas ainda não terminaram: sábado tem feijoada na Mírian e ai aproveito para receber um outro tanto de abraços de amigos queridos que encontro muito pouco, mas falo diariamente pela Internet e Domingo tem almoço com o pessoal do colégio, ou seja: mais uma leva de carinho.

Foram muitas as reflexões desses dias, mas sobre elas eu falo depois...

5 de junho de 2008

Uma vez um cabra disse-me que essa foi a música que melhor traduziu o dia seguinte àquele no qual nos conhecemos.

Eu gosto de homens que me associam a músicas e com elas traduzem o nosso momento.

1 de junho de 2008

Frio.

Frio.

E meditar tem me feito bem, embora seja uma metáfora silenciar meu cérebro ultimamente. Tenho me dado mais com os exercícos de imaginação ativa - que alguns chamam de meditação, porém nem sei se são - onde direciono meus pensamentos para objetivos específicos e consigo virar a sintonia dos sentimentos que me obsediam.

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Estou numa fase acirrada de debates mentais e sei que é energia gasta com nada de produtivo além de me deixar num cansaço enorme. E o trabalho de evitá-las também acaba me desgastando e me dando sono muito cedo.

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Uma coisa que percebi hoje é que tenho alguns sentimentos baseados em sensações que de fato nunca ocorreram. Como gostar de alguém porque a pessoa me dava sensação de segurança num momento da minha vida, no qual eu estava muito fragilizada. E no entanto a pessoa nunca fez nada que me desse segurança mesmo sabe? Eram as minhas projeções. E não quero com isso deixar de gostar de ninguém, só quero dar dimensão real aos meus sentimentos. Porque fantasias te fazem criar expectativas e se as reais já são complicadas, imagina as ilusórias...

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Última semana do Inferno Astral e algumas promessas no ar que me enchem o coração de esperança e se anunciam como o melhor presente de aniversário que eu posso ganhar...

Infelizmente, a tristeza de uns são a alegria de outros.