13 de setembro de 2006



Os “sinceros” que me perdoem, mas boa educação é fundamental!


Vamos entender uma coisa de uma vez por todas: sinceridade não tem nada a ver com falta de educação. Dizer tudo o que se pensa e se auto-intitular “sincero” é um dos maiores engodos usado para ocultar de si mesmo que, em verdade, apenas se é alguém mal educado e intrometido.

Sim, todo mundo pensa um monte de coisas a respeito dos outros o tempo todo, porém existe uma distância enorme entre pensar e comunicar o que se pensa, principalmente se sua opinião não foi pedida e, mais ainda, se você não tem intimidade suficiente com o seu interlocutor.

Quando pensamos o outro, geralmente formulamos suposições que com o tempo vamos confirmar ou desmentir e é por isso que não comunicamos o que pensamos e não por falsidade, o que de cara alegará o sincero: “não sou falso, falo o que penso”! Realmente, falso não é; é prepotente mesmo.

Sim prepotente, pois ao falar sem dar tempo para que suas suposições se comprovem, ele automaticamente as transforma em certezas e o faz supondo-se um grande sábio, minimamente, que não erra nunca.

Porém, o “sincero” é só um grande infeliz que vive tentando colocar o mundo na mesma forma em que foi posto, para que não tenha nunca a certeza - embora a tenha de forma inconsciente - de que ele poderia ter feito escolhas diferentes das que fez e, então, ter sido mais autêntico e feliz.

Ai estão as três coisas que o “sincero” geralmente odeia: o diferente, o autêntico e o feliz; e odeia por que é tudo o que o “sincero” quer ser, mas não consegue. E é por isso que, geralmente, ele é alguém agressivo e amargo. Alguém que vive bradando suas verdades na cara alheia e dizendo: "sou assim mesmo". Percebem a ironia? Ele acha que o mundo tem de “engoli-lo” ao mesmo tempo em que quer a pulso que o mesmo mundo se transforme naquilo que ele acredita ser o certo e melhor. É mais ou menos como aquela pessoa que vive apontando os defeitos alheios no intuito de parecer mais perfeito aos próprios olhos.

O “sincero” é um pobre coitado, um infeliz por excelência, já que raramente é amado. Na maioria das vezes é tolerado com aquela mesma educação que lhe falta. Sim, as pessoas também pensam milhões de coisas a respeito dele e quase nenhuma agradável. Talvez o melhor remédio para curá-lo dessa falta crônica de olhar para si mesmo e ocupar-se única e exclusivamente da própria existência, deixando que as pessoas vivam da melhor forma que lhes aprouver, fosse as pessoas lhe dizerem o que pensam dele à queima-roupa e sem esperarem para ver se, um dia, por milagre, ele acorda e vendo-se como realmente é, passa a ser alguém verdadeiramente sincero, educado e respeitoso.

Sou uma pessoa sincera e ao mesmo tempo gentil e educada, por que não uso meus pensamentos como armas contra os outros. Jamais digo o que penso sobre algo que não me diz respeito se não for questionada abertamente sobre. E se for questionada, direi o que penso sem fazer disso uma forma de agressão, pois tenho ciência de que aquela é minha forma de ver e que ela não é necessariamente correta. Defendo meus pontos de vista, não os disputo.

E essa crônica teve “inspiração” num comentário com o qual acabei de me deparar onde a pessoa estava sendo criticada por usar elementos antigos para montar o quadro sensorial do seu texto, como se ele cometesse um crime contra a modernidade ao fazer isso, simplesmente por ser jovem. Afinal, todo "jovem" tem de gostar de rock, sexo e drogas, não é mesmo? Além de ser de uma grosseria sem fim fazer algo assim, a pessoa simplesmente confunde quem escreve com o que é escrito, mostrando desconhecer que não somos tudo o que escrevemos e, muito menos, que escrevemos tudo o que somos.

Aliás, ai está um bom tema para a próxima crônica: “anacronismo x modernidade” e que bem pode ter como título, trocando em miúdos: "Modernosos, os chatos de plantão"!

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