20 de setembro de 2006

 

Eu me sinto Toy Story


Relacionamentos nos deixam marcas, às vezes, muito mais profundas do que supomos. Por anos fui apaixonada por alguém que dizia gostar de mim, porém não gostava. Aliás, não gostava de ninguém. O que gostava era de ter sempre, junto de si, alguém apaixonado que o tratasse com o amor que nele inexiste por ele mesmo.

Levei muito tempo para entender isso. Anos mesmo. E a consciência começou a surgir através de uma sensação que primeiro se tornou freqüente e depois clara, quando consegui juntar as peças. Como ele tinha necessidade de ser bajulado constantemente - coisa na qual não sou muito boa - eu não era a número um da sua lista. E por isso ele vivia aparecendo e sumindo da minha vida. Com o tempo descobri que aparecia quando brigava com a número um e desaparecia quando faziam as pazes; ou quando conhecia alguma outra mulher a quem se dedicaria a conquistar até que ela fizesse parte do hall de mulheres a encherem a sua bola e voltava a aparecer quando a novata se recusava a fazê-lo.

Porque voltava se eu não sou bajuladora? Por que sou sincera quando elogio alguém e sim, todo mundo tem qualidades e defeitos, mesmo que alguns tenham mais os segundos que as primeiras. E haja paciência para ficar dizendo o tempo todo para o outro o quão maravilhoso ele é, principalmente quando o forte dele não é apontar as suas qualidades, muito pelo contrário...

A sensação constante que eu tinha e que me levou à clareza do que acontecia naquela história era a de me sentir feito uma boneca de pano velha com a qual já se brincou até não poder mais, e que se abandona quando o brinquedo preferido, ou novo, chega cheio de novas tecnologias.

A boneca velha não é jogada fora, mas fica ali, esquecida num canto até que o brinquedo novo dê defeito. E enquanto se aguarda pelo conserto ou pela chegada de outro, ela é retomada. E se nas primeiras vezes ela se permite crer que tem alguma importância, quando volta a ser largada, assim que a porta se abre anunciando algo, a dor que lhe advém é aquela mesma velha conhecida. Com o tempo se cria casca. E com mais tempo se vira às costas e se vai embora.

No entanto, por baixo da casca existe uma cicatriz e ela volta a se fazer sentir quando a gente vivencia situações que guardam alguma semelhança com a antiga, mesmo que em essência as situações e pessoas envolvidas sejam completamente diferentes.

Um amigo, um namorado, um paquera, qualquer pessoal que te seja significativa e com o qual se está sempre em constante contato e que, de repente, se encanta com alguém ou algum projeto novo na própria vida e acaba por, naturalmente – porque é assim mesmo – diminuir a freqüência existente entre vocês, te faz sentir novamente como a velha boneca de pano que mais uma vez está sendo deixada de lado. Você sabe que é irracional; você sabe que é ilógico, mas é assim que você se sente, e então o que fazer?

Sair de cena. Pura e simplesmente, até o dia no qual você consiga não se sentir assim e dar liberdade real ao outro de estar com você por querer estar e não porque você precisa que ele esteja...

Fácil falar; doído fazer.

Única maneira de evitar ferir alguém no meu caminho do mesmo jeito que fui ferida anteriormente...

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