5 de janeiro de 2008

Pensando no quanto nos armamos armadilhas, estava lembrando da ligação do ex que, ano passado, me pegou desarmada e carente dando início ao que poderia ter sido a maior burrada da minha vida, não fosse o cabra bundão. Tá, desta vez abençoadamente bundão, é verdade.

Quando o ouvi declarando um amor que persistia a 8 anos de esparsos contatos – já ai comprovando irrefutavelmente a ilusão que é – comecei a me perguntar se teria na vida outra pessoa que acreditaria me amar como ele. Foi exatamente ai que comecei a tecer a armadilha na qual cairia minutos depois. Em seguida me perguntei se não seria burrice minha deixar passar aquela que poderia ser a minha última oportunidade de ser feliz no amor! Imagine ai que prestes a fazer 40 anos, naquele dia me arremessei no declínio existencial. E isso quando, no mínimo, ainda me sobram tantos outros 40 anos de vida... Enfim, enquanto ouvia as coisas todas que ele dizia, também deu tempo de pensar que eu não desgostava dele, terminei porque ele tornara-se muito implicante e então a relação tinha virado um eterno “discutir”. Depois de tudo isso ainda me perguntei sobre se haveria mal em tentarmos novamente, desde que em bases mais sólidas, ou seja: conversando desde o princípio sobre as coisas que sabíamos, já de ante-mão, que não funcionavam com a gente. Quando me respondi não foi que disse sim a ele.

Graças a Deus a coisa não seguiu muito adiante, porém tive a oportunidade de perguntar - quando meses depois mais uma vez ele ligou na madrugada motivado pela bebida - o porquê dele não bancar sóbrio o que dizia alcoolizado. A resposta não podia ser mais esclarecedora: ”Tenho medo de você. Sei que você vai me fazer sofrer muito mais do que já fez”. É a pura verdade. Gosto dele, tenho até tesão, mas não é amor. Nunca foi. E ele sabe disso tanto quanto eu. E, no entanto, num momento de insegurança e de carência quase faço uma daquelas bobagens das quais temos muito tempo para nos arrepender depois. Sim, porque caso ele tivesse levado adiante o que propunha, eu iria me empenhar em tornar realidade o que até então era apenas fantasia e assim iria passar um bom período da minha vida investindo no que não tem chances de dar certo.

E agora, escrevendo, comecei a pensar no porque insistimos em querer das pessoas aquilo que, caso elas se disponham a nos dar, não bancaremos. Porque querer ser amado por alguém se você não vai poder usufruir dessa vivência? Porque querer sinceridade se você não dá conta de ouvir a opinião alheia? Porque querer receber carinho se você não consegue retribuí-lo? Porque queremos ter – como quem coleciona itens expostos numa estante – coisas que necessitam ser nutridas para manterem-se, mesmo que não consigamos determinar como elas nascem em nós? Por vaidade, egoísmo? Talvez.

Mas acho que é principalmente por carência que eu vacilei, não só afetiva, mas de algo de relevante acontecendo na vida. Por que querer estas coisas todos queremos. Só que alguns têm certo pudor em pedir aquilo que sabem não vão utilizar, enquanto outros acham absolutamente natural fazê-lo. Talvez porque não conseguem dar-se conta de que não vão corresponder à altura; que o grau de reciprocidade que conseguem alcançar beira á inanição. Quem já passou por isso sabe que é horrível doar-se e só receber de volta o vazio. E mesmo sabendo, mesmo conhecendo os dois lados dessa moeda, estive prestes a deslizar novamente e fazer sofrer alguém que jurei nunca mais machucar.

É, a carência é mesmo capaz de nos levar a arrependimentos profundos. E isso me faz pensar que o tal do lance de pedir em namoro e ter tempo pra pensar no que se quer fazer pode ser, no fundo, uma grande sacada...

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