16 de agosto de 2007

Porque é uma das coisas que escrevi e adoro:


"Eles passarão. Eu passarinho..."
(Mário Quintana)



Há alguns dias no saguão do Teatro dos Arcos em São Paulo, enquanto esperava um amigo que faz parte do elenco da peça “Aroma do Tempo” - excelente por sinal, fica aqui a dica cultural - que acabara de ver para poder abraçá-lo e beijá-lo pelo excelente trabalho que está realizando, ouvi alguém mencionar essa fala do Mário Quintana. Ele a usou em cada uma das três vezes em que foi “recusado” pela Academia Brasileira de Letras.

De lá para cá, essa frase não me sai da cabeça. A cada dificuldade, a cada contrariedade, a cada revés que sobre mim se abate me pego repetindo mesmo que em silêncio: “eles passarão, eu passarinho.”

Quem me vê, ou comigo fala, geralmente não imagina os vulcões que me habitam. Não têm noção das erupções que assolam minha alma e que a coisa que menos tenho nessa vida é tranqüilidade. E não sou falsa na minha aparência zen; também tenho em mim serenidade uma vez que convivo pacificamente com as minhas erupções sem permitir que minhas larvas atinjam outras pessoas. Se não falo sobre eles a quase ninguém é apenas por ter consciência de que vulcões são extremamente íntimos e difíceis de serem compartilhados. Não vou sair por ai enchendo a paciência alheia com os meus questionamentos, pois entre as coisas que aprendi na vida está saber que a maioria das pessoas prefere viver comodamente, o que implica em se manter num grau bom de ignorância em relação à quase tudo e, principalmente, a si mesmo.

Sou de natureza inquieta, revolucionária e contestadora. Porém odeio revoluções burras e odeio ainda mais fazer muito barulho por nada. Tem gente que vive alardeando todos os pareceres que têm sobre o mundo e todo mundo. Têm opinião formada sobre absolutamente tudo e as saem contando mesmo quando ninguém perguntou nada sobre aquilo. Muitas delas têm blog ou sites na Internet e fazem bem a linha: penso, logo publico. Opiniões e mais opiniões que num primeiro momento até parecem fruto de alguma reflexão, mas não são. São apenas discursos que têm a função primeira e única de fazer de conta, para si e para o mundo, de que estão fazendo um esforço tremendo e evoluindo.

Isso por que se tornou corrente hoje em dia acreditarem, piamente, que ser revolucionário e contestador, um subversivo “de ponta”, é ser triste, melancólico, depressivo e critico, desde que se entenda crítica como falar mal de tudo e de todos. Nada presta, nada funciona, a humanidade podia, e vai, explodir o planeta e implodir-se junto. E eu, leitora voraz até de bula de remédio, vou transitando entre esses universos observando e me questionando.

Que revolução existe em ser melancólico e triste, num mundo onde as doenças predominantes e desencadeantes de outros males, inclusive físicos, são a depressão e a síndrome do pânico? Que diferença faz no mundo a sua opinião se você é apenas mais um entre bilhões a criticarem eternamente o que está sendo feito, porém sem nunca tentar fazer a sua parte de uma forma diferente da que te ensinaram - e para os outros também - e que leva o nosso planeta para um mesmo destino catastrófico? Olhe à sua volta cara pálida! De quantas dessas pessoas que você passa o dia criticando você pode realmente se dizer diferente?? Mas quero aquela análise que você faz e não tem coragem de publicar; aquela que até na terapia é difícil de contar. E não precisa me dizer qual é não, a mim basta que você reconheça sua verdade.

Eu reconheci a minha há algum tempo. Não posso dizer que bebi de todas as dores do mundo, mas já bebi de quase todas. De sofrimentos eu entendo e de superar dificuldades também. Entendo de ter fé e de levar tanta lambada no couro que até se deixa de crer... E mesmo assim seguir adiante. A coisa foi tão brutal que ser alguém correta e voltada para o bem não passa mais por uma questão de religiosidade, embora hoje eu acredite novamente em Deus e me alie a Ele nos momentos difíceis que tenho, e ainda terei, na vida. Sou do bem porque sei que a tranqüilidade de deitar a cabeça no travesseiro e dormir, sem culpas ou remorsos, é o maior bem que podemos ter nessa vida. Errei, sim, errei muito. E erro. Feri, sim, feri muito e ainda firo. Mas hoje sei que enganos são pertinentes à ignorância e que esta é parte de se ser um humano em evolução. Aprendi a me perdoar e a aceitar minha falibilidade e quando fiz isso, aprendi a me amar. E em me amando aprendi a perdoar e a amar ao próximo como a mim mesma. Nem sempre é fácil. Escorrego, mas levanto e sigo em frente. Sempre.

E é atendendo à minha essência revolucionária e contestadora que decidi ousar fazer diferente daqui pra frente. Vou ser feliz. Vou tratar bem as pessoas, vou ajudá-las nem que seja apenas dando-lhes um sorriso sincero. Não vou dar voz à minha raiva, à minha sombra e nem à amargura, porque disso o mundo está cheio e vejam só no que deu. Não vou fazer o que acham que me faria feliz por que foi exatamente assim que o mundo chegou onde está: com as pessoas outorgando a terceiros as escolhas que deveriam ser delas. Vou acreditar em todos os sonhos que guardei no baú porque alguém um dia os rotulou de "difíceis" ou "impossíveis" e eu, burramente, acreditei.

Minha vida não vai ser um mar de rosas, por que dificuldades e sofrimentos fazem parte; vou conquistar e vou perder, vou amar e vou perder pessoas que amo, nem que seja para a morte. Problemas todo mundo tem, acontecem comigo, com você e com o João da esquina também. Ninguém é especial a ponto de não os ter nesse mundo. Fazem parte da vida e chorar de tristeza todo mundo vai. Mas rir também. E se eu posso escolher o que ter em maior quantidade na minha vida - e eu posso - escolho então que seja alegria, prosperidade, amor e fraternidade. Quero o riso e quero o gozo no sentido mais amplo que eles possam ter, e só porque essa é a verdadeira contestação que leva à única revolução da qual o mundo está precisando.

Ser triste e deprimido e morrer de medo de tudo e de todos, todo mundo pode e consegue. Quero ver é as pessoas terem peito de serem felizes, pois isso sim é ser verdadeiramente diferente nos tempos atuais. O resto é só ser mais do mesmo.

E é por isso, e só por isso, que plagiando mais uma vez o poeta digo:

“Eles passarão. Eu passarinho.”

Nenhum comentário: