14 de junho de 2009

Das coisas que me impressionam

Fico impressionada em como o mundo atual contribui para a morte da espontaneidade. Usuária do Twitter, um dia pensei: "logo, logo aparecerá por aqui alguém querendo ditar regras de etiqueta para os usuários", e não é que foi batata? No dia seguinte lá estava o Twittequeta.

Impressiona como sempre tem alguém que acha que as pessoas são incapazes de alto regulação, de gerenciar a si mesmos e, impressiona ainda mais ver que várias pessoas realmente se veem de forma tão infantilizada que acreditam precisar de alguém mais maduro para ditar-lhes regras.

E mais impressionada fico ainda com gente que não conhece uma ferramenta e execra a sua utilização. Já vi cada crítica boba feita ao Twitter, críticas que me fazem lembrar de quando assisti, anos atrás, um programa da Hebe e lá eles falavam da Internet e suas redes sociais, como algo que fosse alienar as pessoas do convívio social, mas com o detalhe de que quem debatia, não era usuário de redes. Adivinha se quem li criticando o Twitter, o utiliza?

O ser humano tem essa mania de fazer julgamentos apressados sobre qualquer coisa né? Da mesma forma como faz para si mesmo uma listinha das coisas que, considera, farão com que ele fique mais bonito aos olhos alheios, mais passível de ser amado. E geralmente o resultado é exatamente o oposto.

Porque a pessoa perde o que tem de mais precioso, que é a espontaneidade, a verdade da própria alma que acaba submersa numa série de convenções que faz com que as atitudes da pessoa exalem um tom de falsidade que, embora muitas vezes não possa ser claramente detectado, faz com que as pessoas se afastem, pois sentem "algo estranho e não confiável no ar".

E isso só acontece porque as pessoas abriram mão de pensar por si mesmas há muito tempo. Se vamos a uma festa divertida, as pessoas que provavelmente promoveram a diversão e serão lembradas com um sorriso e carinho no dia seguinte, serão aquelas que brilharam, e o fizeram justamente por não se sujeitarem às normas que apenas servem para fazer de todos nós pessoas morninhas e sem graça, mais uma rés na manada da mesmice. E é mais engraçado ainda perceber que, mesmo brilhando, ou pagando mico como muitos diriam, essas pessoas não fugiram a nenhuma regra de boa educação.

Comento isso aqui por ver que muitos dos males da sociedade atual, e de alguns amigos queridos, é justamente terem aberto mão de si mesmos para serem algo que, disseram-lhes, ficaria bem na foto. O x é que essa acaba sendo foto de um zumbi. Essa lista interminável de regras politicamente-corretas sobre como devemos pensar, sentir e agir, se já não matou, está matando, e cada dia mais, a alegria em viver, em descobrir, de ser, simplesmente ser. Faz com que a pessoa se sinta eterna e profundamente insatisfeita consigo e com o mundo. E tem como não ser se tudo passa a ser uma pincelada pálida de tão aquarelada das reais possibilidades da vida? Pior, essas pessoas começam a acreditar que exista algo capaz de descortinar-lhes novamente a vida em suas mais variadas cores, sem perceber que em sendo eles os mortos, não há amor ou morte capaz de trazê-los de volta à vida, pois amar e morrer, são atributo dos que vivem.

Adoraria fazê-los confiar em suas próprias almas. Que se permitissem amar e darem vexame. Tirarem fotografias absolutamente ridículas e colocarem-nas em álbuns e porta-retratos, simplesmente porque toda alma tem um lado brega e ridículo mesmo, mas que também é o único capaz de nos fazer rir até a barriga doer. De gravarem um vídeo cantando desafinado e a pleno pulmões aquela música que adoram e que lava a alma... De fazerem uma declaração de amor, piegas e pública sem se importarem se esse amor é ou não correspondido, pois bom mesmo é poder amar com liberdade e aceitação desse amor.

Fico pensando que se a nossa alma é a nossa real e irrevogável forma de ligação com Deus, se é a Sua representação em nós, Deus é um cara alegre, meio "bobo" e dado a pagar micos divertidos. O x é que nós O reprimimos e fizemos Dele um cara sério, vingativo e neurótico com essa nossa mania irritante de ditar regras. E como tudo o que reprimimos, Ele também volta à tona na forma de perversão e ai temos um Deus que parece sádico e sarcástico, com um humor tão negro que chega a ser cruel algumas vezes.

Assim, para mim, fica muito claro que antes de nos perguntarmos porque Deus está nos tratando de uma determinada forma, é melhor nos perguntarmos de que forma O temos tratado em nós. Com quase que absoluta certeza perceberemos que a falta de humor para com a vida é só nossa. E o pessimismo também. E assim sendo, não importa onde ou com quem estejamos, a vida será sempre insatisfatória e um vôo raso, ao invés de um rasante.

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