6 de novembro de 2006

 

Reflexões...


Quanto mais reflito sobre as pessoas que praticam a patrulha moral, mais concluo que esse tipo de gente é quem são os verdadeiros demônios que habitam o nosso mundo, uma vez que são os que portam o mal dentro de si e os projetam nas ações alheias ininterruptamente, considerando-as sempre de maneira pejorativa. É lugar comum na psicologia o conhecimento de que só se consegue reconhecer no outro aquilo que existe dentro de nós. Isso me faz lembrar o que acontece com a laranja podre num cesto cercado por frutos sadios: sozinha ela consegue apodrecer todas as demais, por isso é retirada. Digo isso por serem essas pessoas tão malévolas e prepotentes, que se colocam acima de Deus – aquele mesmo que geralmente batem no peito para dizerem que amam e respeitam – considerando errado, feio e pecaminoso aquilo que Ele criou. Sim, porque o sexo e o prazer que lhe é inerente são obras divinas.

Foi Deus quem escolheu esta como maneira ideal de nos reproduzirmos e perpetuarmos a espécie; e também foi Ele quem achou que isso deveria ser feito com uma gama de prazer intenso. Resumidamente, foi Deus, e não o homem, quem criou a sexualidade como ela é, do mesmo jeito que criou em mim terminações nervosas tão sensíveis que são capazes de me fazer ficar plenamente excitada a um simples sussurrar de voz grave ao pé do ouvido. Foi Deus, não eu.

Mas o homem, sempre de posse da sua total ignorância e prepotência, dá um jeito de corromper o que é divino transformando o que é sagrado em promíscuo. Sim, pois o sexo associado ao amor romântico é criação do homem e não de Deus. Isso se comprova percebendo que somos capazes de sentir tesão simplesmente imaginando uma cena sensual com alguém que sequer conhecemos. E Deus nos fez assim por ter pensado em tudo, até na possibilidade de um dia só restarem sobre a terra um homem e uma mulher que não conseguem se amar, mas que mesmo assim, terão a incumbência de recomeçarem a humanidade, e já sabe né? Se ambos não se excitarem não ocorre penetração e nem a conseqüente fecundação, ou seja, nada de filhinhos a caminho. Aliás, me ocorreu agora que a bíblia nunca mencionou que Adão e Eva amavam-se. Adão foi feito - e Eva também - e postos no paraíso. Era só o que tinham: um ao outro; o amor estava fora dessa história. Deus não disse a eles: “amai-vos”, mas sim: “Crescei e multiplicai-vos; e não comei dos frutos da árvore proibida”. Nada, nem uma vírgula sobre o amor. Isso para quem crê ser essa a história do desenvolvimento humano. Eu não creio.

Acredito na evolução do Homo Sapiens e aí sim vejo Deus em toda sua sabedoria, pois Ele nunca associou o “crescei e multiplicáivos” à fidelidade e ao amor. Se acompanharmos a história da evolução humana, vamos descobrir que é apenas na idade média que - e vinculada à idéia de que o senhor feudal precisava garantir que sua herança seria desfrutada unicamente pelos seus legítimos herdeiros - se associa a idéia de fidelidade ao casamento. Porém como isso não teve muito resultado a principio, precisaram criar uma forma de incutir esse conceito de maneira definitiva nas pessoas, o que foi alcançado com êxito no momento em que associaram o casamento e à fidelidade o ideal de amor romântico. Com isso fica fácil perceber que o que os moralistas defendem como uma forma lícita espiritualmente de se fazer sexo, porque validada pelo amor, é criação dos homens e não de Deus e pior: algo criado apenas para atender a uma necessidade materialista, ou seja, nada tem a ver com o espiritual.

E, no entanto, o que mais me choca é a hipocrisia com que essa gente perpetua essa farsa achando que são morais só porque fazem sexo dentro do casamento, mesmo que este seja sem amor. E o fazem apenas por que está escrito num papel – o que faz com que o casamento mais se assemelhe a uma escritura de propriedade do que com qualquer outra coisa. Afinal é sabido que em mais de 80% das relações que se perpetuam como estáveis até o fim da vida, que isso não acontece em nome do amor e sim de outros interesses e até mesmo do comodismo. É desta forma que as pessoas conseguem se enganar quanto a que fazer sexo com um parceiro fixo, mesmo que sem amor, seja menos promíscuo do que fazê-lo com alguém por quem se esteja genuinamente interessado, mas com quem não se tem nenhum compromisso firmado, pois ainda não se sabe se é amor o que se sente; e mais: atribuem isso à Vontade Divina. Mas será? Será mesmo que Deus, tão perfeito e magnificente, vai se deixar enganar pela cupidez humana e se permitir submeter às nossas enganosas leis? Não né? Não!

Explico tudo isso para justificar porque para mim estes são os verdadeiros demônios da humanidade, denunciando os mecanismos nos quais elas se engendram e através dos quais nos julgam e rotulam. Eles não são “o grande e visível mal” que podemos combater com prisões, educação e resoluções econômicas. São o aparente “pequeno mal” que habita nossas vidas e moram, às vezes, dentro das nossas casas, ou as visitam com freqüência. Para dar-se cabo desse mal é preciso primeiro tomar consciência da sua existência dentro de nós e segundo, perpetrar uma reforma íntima baseada numa reeducação afetiva que e muito mais difícil de empreender do que qualquer outra coisa nessa vida, já que exige vigilância constante e capacidade de reconhecer a nossa capacidade de nos enganarmos conosco mesmo. Este é o mais nocivo dos males, pois se insinua nas pequenas ações cotidianas e contamina com desamor e baixa auto-estima a vida das pessoas. É o mal que nega um abraço e uma palavra de consolo. É o mal que destrói continua e cotidianamente as vidas das pessoas ao seu derredor, sem usar uma arma.

Aqui na internet, vez ou outra essas pessoas aparecem através de e-mails e comentários grotescos que tentam atacar as pessoas em suas fragilidades. E-mails e comentários anônimos, é claro, pois uma das sabidas características do diabo é agir sem jamais mostrar sua verdadeira face. E fazem isso porque provavelmente são justamente aquelas pessoas conhecidas no meio pelas mensagens bonitinhas e inofensivas que mandam e que no anonimato conferido pelo computador, enviam mensagens onde evidenciam a sua verdadeira personalidade.

Eu nunca recebi essas mensagens, mas não entendo a política do deixar para lá que a grande maioria das pessoas adotam, pois no meu mundo o mal jamais vence o bem uma vez que ele jamais se cala ou se submete.

Para finalizar quero dizer que não acredito que a maioria aqui seja do mal, acho que são mesmo é pessoas que optam por levar vida de gado. Penso que são, na verdade, como vasos cheios de terra e adubo prontos para que se plantem neles, fazendo assim com que sejam o que forem as suas sementes. Infelizmente percebemos que dificilmente esta será uma boa lavoura e tão pouco uma boa colheita.

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