13 de dezembro de 2007

"Um mar de gente"...

É isso que me faz pensar aquele mundaréu de pessoas na 25 de Março.

Poderia ser um passeio pitoresco e tinha tudo para ser por conta daquela efusiva mistura de gente. Mas no fim acaba sendo mesmo é deprimente. É triste ver os ambulantes trabalharem em absoluto sobressalto por conta do RAPA. Em questão de meia hora eles montam e desmontam suas barraquinhas de papelão no mínimo cinco vezes. E é exatamente observando essa situação que se cria a consciência de que para os filhos deste solo essa Pátria não é mãe gentil... O que fica é a sensação de que no Brasil se trama a morte da população no congresso e câmaras.

A pessoa não pode trabalhar porque não existe emprego e nem vou entrar no mérito do por que falta emprego, pois a lista de motivos correlacionados é longa e eu passaria dias escrevendo. Resumo o que quero dizer dizendo apenas que o Brasil é o país do "não pode". O cara não pode roubar por que, óbvio, é crime. Mendigar também o é, então não pode igual. Fabricar e vender produtos piratas? Crime irrefutável! Pode não! Terra para plantar e colher não tem... Então me diz: esse povo vai viver do quê? Como vai colocar comida no estômago se nada pode? Não pode ser honesto e nem pode ser bandido. Existir é que não pode e mesmo assim teimamos...

Teimamos e fazemos graça e damos risada, mesmo que não saibamos como conseguimos. Porém eles, eles que lá trabalham e lá fazem seu espetáculo a cada dia, para eles eu tiro o meu chapéu. E são absolutamente versáteis! Quando cheguei não chovia e então proliferavam as banquinhas de tudo que você imaginar: bijuterias, roupas, bonés, óculos de sol, enfeites de natal, pano de prato, bolsa, maquilagem, controle remoto,comida e bebidas. Quando sai do lugar onde almocei chovia e a única coisa que se via sendo vendido pelos ambulantes eram guarda-chuvas e capas de chuva. Juro que parecia que tinham mudado o lugar, nada lembrava o que acontecia antes da chuva.

E o povo que vai à 25 é outro espetáculo a parte. O lugar que almoçamos era pequenininho, uma casa árabe mesmo, tradicionalíssima no pedaço, e cara pra dedéu para quem acostumou pagar uma esfiha R$0,80 - lá é R$ 2,20. Porém é um lugar pequeno, o que nos "obrigou" a dividir mesa com um casal que chegou depois e no qual a moça, constatou o rapaz quando perguntou: "cadê a sacola?", já na primeira loja, esqueceu de retirar os pacotes o que obrigou o namorado a voltar lá para ver se ainda encontrava, enquanto ela se consumia em ansiedade. Começamos a conversar, já que minha irmã é imbatível no quesito simpatia, como nunca vi igual. Quando o namorado voltou trazendo triunfante as compras, ela ficou tão contente que resolveu convencê-lo a provarem o tal do Arak, aguardente árabe feita de anis. Rapaz, o troço devia ser MUITO ruim e virou motivo de risada o resto da refeição, socializando absolutamente todas as mesas em volta, enquanto a gente ria das caretas e impressões dos dois, que passaram a incentivar todos a provarem do copo deles para ver se se livravam da bebida mais depressa. Foi um almoço agradabilíssimo, mesmo que doído no bolso.

E, no entanto, nem isso ajudou a tirar esse travo amargo da alma e que me deixou entristecida o resto do dia... Fiquei pensando que se eu pudesse pedir algo de verdade para ganhar nesse Natal, eu pediria que o Brasil fosse um país para todos.

Nenhum comentário: