1 de dezembro de 2007

Ando sumida, eu sei. É que andei meio assustada com "gente". Ou melhor, com um determinado tipo de "gente"; aquele que para ter algum valor precisa destruir quem à sua volta sobressai por natureza.

Passei cinco anos da minha vida convivendo com uma pessoa assim. Alguém que vivia falando mal de tudo e de todos; só apontando os defeitos alheios, só fazendo críticas. Tudo tinha milhões de senões. Quando alguém se aproximava ou era alto demais, ou criminosamente magro; ou excessivamente baixo, ou gordo em demasia; ou muito branco, ou não suficientemente preto; ou primordialmente burro, ou acintosamente inteligente; ou arrogantemente prepotente, ou muito sem noção. Enfim, todas as pessoas tinham algum defeito que as descartavam para serem qualificadas como "suficientemente boas" para se conviver.

E eu não conseguia entender aquilo... Até que um dia entendi. Entendi que a pessoa ao fazer isso se sente tão inferior a qualquer outro indivíduo que desqualificá-lo é tido como uma maneira de qualificar-se a priori; não apenas aos próprios olhos, mas também ao olhar alheio. Identificar e denunciar defeitos rapidamente são tentativas de nublar as qualidades, jogar o foco sobre o que é ruim, e assim impedir o surgimento do afeto. Ao mesmo tempo em que a pessoa faz isso, ela tem toda uma narrativa do quanto é valorosa, batalhadora, decidida, arrojada e etc. É, é exatamente o jogo inverso quando se trata dela: ressaltando ou inventando qualidades ela acha que garante o seu afeto.

Mas não pense que você, por ser amigo, está imune não. Verá seus defeitos serem enumerados mil e duzentos milhões de vezes por dia, mas com a ressalva de que - apesar deles - você é querida, porque a pessoa é, acima de tudo, benevolente e então você pode privar do seu magnífico convívio. Haja auto-estima pra sair imune a isso viu?

Depois de um tempo que percebi isso, ainda permaneci do lado da pessoa, pois com a minha mania de salvar os outros (tô me livrando disso viu gente?) achei que se eu desse bastante amor e ressaltasse as qualidades que a pessoa verdadeiramente tinha, ela iria parar com aquilo, pois iria adquirir uma auto-estima verdadeira. Doce ilusão. Aí percebi que com esse tipo de gente não tem jeito sabe? Elas só fazem ficar mais infladas. E quando vi que não tinha mesmo jeito eu fiz me afastar, cortar relações mesmo, simplesmente porque não dá pra passar a vida sendo menosprezada.

Porém viver isso foi bom, uma vez que me deixou com um faro afiadíssimo para esse tipo de gente. É, porque não pense que isso que contei acima é feito de forma descarada não, porque não é. É tudo muito sutil. Tudo dito com muita delicadeza, com muito jeito de bondade. É verdade: você jura que a pessoa é suuuuuuuuuuper bacana, que é AMIGA e, no entanto, você passa a se sentir constantemente incomodada com algo que não sabe identificar bem o que é... Até que um dia descobre.

E esse texto é só pra dizer que sei que tem gente assim me rondando de novo, só que agora sou imune.

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