18 de abril de 2007

Você tem muitos problemas?

Por Zíbia Gasparetto em “Conversando Contigo”

Sou uma pessoa calma, educada e faço tudo para estar em paz. Não gosto de brigar nem de perturbar os outros e muito menos de ser perturbada. A vida inteira, tentei conviver bem com todo mundo, mas por incrível que pareça, quanto mais eu pretendia preservar meu sossego, mais eu arranjava problemas.

Se alguém estava revoltado e agressivo, eu, que não queria confusão, tentava logo concordar, desviar o assunto. Mas ao contrário do que você pode pensar, ao invés de se acalmar, a pessoa descarregava toda sua bateria de rancor contra mim, que arrasada, e aflita passava algumas horas inconformada e deprimida.

Os outros desconhecem nossos limites. Por isso vão avançando e somos nós que precisamos definir até onde podem ir. E#u não sabia disso. Em meu entender, dizer um não os voltaria contra mim e como eu não queria criar um problema, acabava dizendo sim, mesmo quando sabia não poder ou não desejar cumprir.

Querendo contemporizar, agindo assim, você pode imaginar em quantas confusões me meti?

Com parentes, então, tudo fica ainda pior. Como não emprestar aquele dinheiro que um irmão pediu, apesar de saber que ele nunca poderá pagar e que gasta sempre mais do que deveria? Como negar tomar conta das crianças para uma irmã ter suas férias, apesar de serem mal-educadas e bagunçarem toda a casa e nunca atenderem ao que lhes é pedido? Como recusar abrigo para aquela prima que brigou com o marido e saiu de casa?

Uma amiga minha tinha um irmão alcoólatra, que vivia lhe pedindo dinheiro para pagar suas dívidas. E como ele distribuía muitos cheques sem fundos e ela sempre o salvava, ele nunca se preocupava. Levava a vida com prazer enquanto ela se privava de tudo para “salvá-lo”. Como dizer não a ele?

Aconteceu isso a você? Enquanto sua irmã saía de casa, feliz e livre para suas férias, você tendo ficado com suas crianças a contragosto, tentava agüentar a confusão em que sua casa se transformara, vendo os objetos de uso espalhados, a destruição de suas revistas favoritas, de suas plantas, abdicando até de seus programas favoritos de TV, porque elas tinham outras preferências? Como ninguém é de ferro, um dia você não agüentou a pressão, reagiu até com certa violência, tentando educa-las a seu modo. Claro que elas não aceitaram, revoltaram-se. E quando a mãe voltou, descansada, bem-disposta, elas se queixaram. E você, que não queria confusão, arranjou uma briga familiar sabe Deus até quando.

Já com a prima que saiu de casa chorosa porque surpreendeu o marido com outra, apesar de não ter acomodação suficiente e de saber que ela era muito dependente dele, como dizer não? Contrariada, você levou as crianças para o seu quarto e a acomodou. Seu marido não gostou e você ficou no meio, querendo “ajeitar” a situação. Estava na hora de sua prima se libertar daquele marido dominador e infiel. Só que, como sempre, ela não agüentou a separação e voltou para casa. O marido dela, irritado, entendeu que você pretendia separa-los e, no fim, como sua prima só via pelos olhos dele, ambos acabaram rompendo relações com você.

Um amigo espiritual costuma dizer:

- Se você tem um problema, foi você quem se meteu nele.

Isso é profundamente verdadeiro. Dizer sim quando quero dizer não é dar mais valor aos outros do que a mim, é não colocar meus limites, e isso é não me respeitar. É o mesmo que dizer que o que eu sinto não vale nada, que os outros podem passar por cima de mim à vontade. E eles passam sem dó nem piedade.

Hoje estou aprendendo a dizer não. Quando não quero uma coisa simplesmente digo não. Sem raiva e sem emoção. Um não é só uma negativa. É nosso limite. Um direito que temos de decidir o que desejamos ou não fazer. A isso se dá o nome de dignidade. Quando nos colocamos com sinceridade, dizendo o que sentimos, somos respeitados.

Se você está sempre cheio de problemas, pense como foi que se meteu neles. Se tiver um irmão irresponsável, uma irmã dominadora ou uma prima dependente do marido não se envolva mais com eles. Se for procurada, se lhe pedirem ajuda, devolva-lhes a responsabilidade de tomarem conta de suas vidas. Você não tem que resolver os problemas nos quais eles se meterem por livre vontade. Não há nenhuma lei, humana ou espiritual, que determine isso.

Lembre-se de que a verdadeira ajuda não é fazer por eles, mas dar-lhes oportunidade a que eles façam, descubram sua própria força. Todas as pessoas são capazes, quando querem. E só conseguem quando se assumem. Não é isso que a vida faz com todos nós?



Os outros desconhecem nossos limites. Somos nós que precisamos definir até onde eles podem ir.

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