14 de fevereiro de 2007

O que mais me chama a atenção na morte do João, o menino de 06 anos que foi arrastado por sete quilômetros preso pelo cinto de segurança do carro de sua mãe que acabara de ser roubado por três adolescentes de 16 a 18 anos, foram os pais dos criminosos, pelo menos de dois deles: ajudaram na prisão dos próprios filhos.

Sim, a morte do João me comove, mas comove na mesma proporção que me comove a morte de um menino de 06 anos num hospital, principalmente se o hospital for público e oferecer um atendimento precário como é a realidade na maioria dos estados do Brasil. A forma como o João morreu é que me choca, em especial pelo que ela revela, sem que ninguém faça menção a isso. Se fizeram me desculpem, pois até agora não vi.

Os pais dos assassinos mostraram com atitudes que discordam do que os filhos fizeram e que são tão vítimas destes quanto é a família do garoto João. Não foram apenas os pais deste que perderam o filho, foram três famílias. Duas destas famílias pobres, porém honestas, honradas, batalhadoras. Deram tudo o que puderam aos seus filhos: educação civil, religiosa, formal, atenção, carinho e dedicação. Um dos pais, inclusive, voltou a estudar para que o filho seguisse motivado. Ele fazia a sétima e o filho a sexta série do primeiro grau. Com essa atitude o que este pais estava dando ao filho era companheirismo, motivação. O outro sempre levava o rapaz consigo justamente para evitar as más companhias. Em nome dessas mesmas más companhias as relações vinham estremecidas.

Trocando em miúdos: esses adolescentes não são filhos do abandono e do descaso, o que geralmente se usa como justificativa para entender o desvio de comportamento que eles expressam. São de famílias pobres sim, mas pobreza não é pretexto para a marginalidade. Principalmente quando hoje em dia o que vemos de forma cada vez mais acentuada é a entrada dos jovens da classe média - aquela que “tem cultura” suficiente para fornecer aos seus filhos bons princípios morais – no submundo do crime.

Ah! Isso se dá porque eles querem aquelas coisas que a mídia diz que têm de ter para serem “dá hora” e como a classe média anda achatada e os pais sem condições de os proverem, eles recorrem ao crime. Os pobres roubam pelo mesmo motivo: querer o que os da classe média têm. Balela! Desde que o mundo é mundo o que move as pessoas é justamente a busca pelo que não possuem e, no entanto, parece ser em especial agora que as pessoas instituíram como forma de “ter”, o tomar posse do que foi conquistado pelo outro. E isso me faz perceber que o buraco é muito mais embaixo.

O que esse crime faz ver é que não é sempre que a educação, o carinho e a dedicação transformam ou educam nossos maus instintos. E isso me remete a uma sensação de insegurança, pois é confortável pensar, quando se vê criminosos na TV, que eles são assim por serem frutos de um sistema injusto. Então se o sistema se tornar justo, os criminosos deixarão de existir; dá conforto, mas é utópico, principalmente porque o mais provável é que o sistema sempre seja injusto dentro de alguma ótica individual...

Qual a solução então? Juro, juro que adoraria ter sequer uma remota idéia... E se alguém tiver, por favor, compartilhe!

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