11 de fevereiro de 2007

As pessoas fazem mais conta das pedras que recebem do que das que atiram. Isso é humano... Mas olhando a batalha que se desenrola frente aos meus olhos - e da qual me recuso a fazer parte - me questiono sobre aonde foi parar a generosidade...

E lembro do horóscopo de ontem que me diz que em estando recebendo muitos e variados milagres eu me ocupasse de distribuí-los, pois milagres são assim: não basta acreditar piamente neles para que aconteçam, você também tem de promovê-los, uma vez que estes necessitam de instrumentos para se materializarem.

E ainda me acodem pensamentos sobre o filme Babel que, a meu ver, trata exatamente da coisificação do ser humano em oposição à generosidade, à solidariedade que é a única capaz de nos tornar realmente humanos. Os meninos atiram no carro e no ônibus porque não conseguem fazer a ponte que leva à dedução, óbvia, de que veículos são conduzidos e que, portanto, havia seres humanos dentro deles. Eles sabem, mas não sabem; sabe como é? Os americanos do ônibus quando “presos” na vila no Marrocos, não conseguem pensar que a mulher pode morrer, querem salvar apenas os seus pescoços, e o que a salva verdadeiramente é a solidariedade do guia marroquino que a acolhe em sua casa e cede a ela e ao marido tudo de si. Da japonesinha surda que cansada de ser coisificada em nome da sua deficiência, resolve dizer ao seu mundo que é mulher e tem boceta tanto quanto qualquer outra mulher e o faz de forma literal. Da empregada mexicana que apesar de entender o momento delicado dos patrões lá no Marrocos, não consegue entender por que, em nome de ninguém querer ficar com os filhos dos mesmos, precisa perder o casamento do seu único filho. Situações que nascem da falta de compreensão das necessidades emocionais dos outros e que só conseguem se resolver quando a generosidade entra em campo.

E acho que nada existe de pior no ser humano do que ser mesquinho. A mesquinhez resseca a vida que corre nas nossas veias. Quem faz conta de prato de comida depois de ter se alimentado por meses à custa dos outros, infelizmente está fadado à miséria, pois desconhece, principalmente, não a generosidade que poderia ter para com o outro, mas aquela da qual é objeto. E se tem uma coisa que a vida não perdoa é ingratidão.

E me assola certo receio de ter minha vida envolvida em energias tão baixas, mas logo passa, pois é fato inegável que não quero, e recuso-me terminantemente, a deixar-me levar novamente pelas escolhas ruins que os outros fazem par as suas vidas.

Porém tenho de arcar com algumas delas invariavelmente, uma vez que faço parte do planeta Terra e integro o seu ecossistema. E não, não sou uma ecochata de plantão, porém não posso furtar-me a dizer que algo vai muito mal com o nosso planeta e que temo pelo que ainda virá. E o que mais me entristece é saber que muita gente não consegue ter noção do alcance do que está acontecendo. Que deixou de ser discurso de ecologista e virou realidade. Os sinais estão por todas as partes e eu fico aqui só imaginando que os madeireiros recusam-se a vê-los, pois mais vale os reais na conta bancária e os carros importados na porta e irrefutavelmente penso no que será que eles pensarão quando a temperatura estiver alta e a água potável for praticamente inexistente...

Mas não pensarão nada né? É bem o que pensei hoje enquanto zapando a TV vi numa “mesa redonda” no Faustão sobre os assuntos da atualidade, a mãe do garoto de seis anos morto no Rio de Janeiro, apelar para os políticos promoverem a reforma do judiciário. Apelo inútil, pois estes matam, das mais variadas formas, milhares de brasileiros, das mais variadas idades, todos os dias e não estão nem ai; só se preocupam com o que lhe cai nos bolsos. Se o cara tivesse capacidade para sentir a humanidade de forma diferente, ele com certeza não seria político... Não, nem todos os políticos são corruptos, mas anda beeeeeemmmm difícil separar o joio do trigo...

E não ando amarga, nem desiludida. Estou bem, só que sabendo que mudar o mundo reside em outras ações.

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