14 de abril de 2008

Sou espiritualista não pelas coisas que li, mas por conta das coisas que vivi na própria pele. Em tese era para eu passar longe de toda as questões de vida após a morte e da convivência estreita destes com os que cá estão, muitas vezes influenciando as suas existências, assim como com o que comumente se chama de carma - mas não é. Devia ter me mantido ao largo de tudo isso uma vez que passei 13 anos estudando em colégio de freiras e morria de medo de espíritos ou qualquer coisa que se assemelhasse a eles, pelo simples fato de que ainda muito pequena - 4 anos - tinha sonhos muito ruins com seres invisíveis que vinham me buscar para brincarmos. Até ai normal né? Só que num determinado momento dos sonhos aqueles seres judiavam de mim, invariavelmente me deixando apavorada. Então eu acordava chorando e meu pai vinha ficar sentado aos pés da minha cama até que eu voltasse a dormir, o que só acontecia quando eu via o dia clareando. Durante meses isso aconteceu todos os dias e só cessou depois que minha mãe foi a um centro espírita e lá mandaram fazer uma reza e colocar uma flor branca embaixo do meu travesseiro. Só soube disso muitos anos depois.

Outro fator que me defenderia de acreditar nessas coisas seria a característica de São Thomé: a teoria pode ser linda e lógica, mas quero sempre comprovações práticas ou, minimamente, fortes indícios de que a coisa acontece de verdade, caso contrário "nem a pau juvenal"!

Isso posto, quero contar aqui a primeira experiência que tive nesse sentido, porém ainda preciso contextualizá-la: eu devia ter 17/18 anos e há algum tempo estudava o espiritismo, cuja filosofia tomei contato por conta da morte do meu pai.

Outra informação necessária é a de que nos primeiros anos da minha puberdade eu sofria com cólicas terríveis que me faziam cair de cama e tomar tanto analgésico, um por cima do outro, a ponto de não saber como nunca tive uma orvedose, já que numa só vez. num intervalo de duas horas, tomei 8 (oito) analgésicos diferentes. Isso foi até que um dia um médico compadeceu-se de mim e receitou um analgésico cirúrgico para que eu tivesse alguma vida no meu período menstrual. Foi o que me salvou, mas fez meu dentista ficar muito assustado.

Agora vamos ao que interessa: numa madrugada acordo sentindo tanta, mas tanta cólica que quando tive noção de que estava desperta, também me dei conta de que estava no meio de um Pai Nosso e pedindo socorro à qualquer equipe médica do espaço que estivesse por perto. Eu sentia tanta dor, mas tanta dor que não conseguia sequer chamar minha irmã na cama ao lado para me dar remédio. A única coisa na qual pensava é que eu ia morrer. Eu me sentia morrendo. E ai pensava que o faria a um metro de distância dela e que ela não ia nem ver. Voltei a rezar já que era só o que consegui fazer e, de repente, apaguei.

Essa foi a primeira e única vez em que me desdobrei fisicamente, ou seja, na qual meu espírito saiu do corpo e eu segui tendo consciência de tudo o que acontecia comigo e à minha volta. Era como se estivesse sentada na cama e vendo meu corpo ali deitado no escuro. Com um pouco de tempo percebi que havia duas pessoas em pé do lado esquerdo da minha cama e que tendo os braços estendidos em direção ao meu corpo com as mãos posta sobre o meu abdome - mas sem tocá-lo - emanavam uma energia muito sutil que entrava em mim. Quando me fixei para tentar ver o que era aquela coisa de cor clara e um tantinho brilhante que ia para a minha barriga, percebi que do outro lado havia algo muito escuro e gosmento também entrando lá. Fui acompanhando aquela coisa com o olhar e me deparei com uma criatura horrível e disforme, mais parecendo um monte de geleca, que tinha a mão e parte do braço dentro de mim e dizia algo que eu não conseguia entender a princípio. Concentrei-me muito para escutar o que era dito num tom baixo e cheio de ódio, até que entendi: "vou matá-la. Ela me paga! Vou matá-la. Hoje ela não me escapa". Fiquei tão assustada e tão apavorada que nem sei como é possível, mas o fato é que desmaiei mesmo estando desdobrada.

Quando acordei a manhã já ia avançada e eu não sentia nenhuma dor. Nada. Beslicava meu abdome e era como se ele estivesse anestesiado, dormente. Lembrei-me da criatura e comecei a chorar, pois imediatamente me veio a consciência de que eu havia prejudicado muito aquela pessoa e, principalmente, que havia feito isso quando ela nutria por mim um amor profundo, pois só odeia naquela intensidade quem um dia amou da mesma forma.

Eu não via nada, ninguém, mas sentia que todos ainda estavam ali. Foi então que em voz alta pedi perdão pelo mal que, sabia, havia lhe feito, embora não me recordasse qual fora. Pedi que me desse uma oportunidade de provar-lhe que não era mais aquela pessoa que um dia o magoara tão terrivelmente, embora ainda fosse alguém cheia de defeitos. Por fim me comprometi a que, se Deus permitisse, tê-lo por filho para tentar reparar o mal que até então eu havia feito. No entanto fiz ver que ele precisava partir para tratamento, pois se voltasse com aquele quanto de energia negativa grudada ao perispírito (corpo espiritual), iria ter um vida cheia de problemas de saúde. Ainda estava chorando emocionada quando fiz uma oração agradecendo a Deus a oportunidade que Ele me concedia de ter tomado consciência do meu erro, e pela chance de começar a reconstruir aquilo que um dia destrui. Foi então que senti o ambiente serenar e soube: a pessoa havia aceito meu compromisso e partira para o plano espiritual.

O que senti naquele dia mais tarde não foi cólica - sim, eu segui tendo cólica, porém elas nunca mais foram naquela intensidade e passam até hoje com Dipirona - mas um vazio como se tivessem tirado de mim um pedaço que doia, não no corpo, mas na alma. Passei dias sentindo falta...

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