4 de março de 2007

O final de semana foi de doçura e cores, por ter sido todo compartilhado com amigos muito queridos.

E mesmo assim, ou talvez até por isso, fiquei com um travo estranho, meio amargo, na boca. E ele começou quando na sexta, eu e um amigo com o qual peguei carona, comentávamos a dificuldade que é conseguir reunir as pessoas...

O Orkut propiciou uma onda de reencontros quando do seu começo, mas essa onda já está passando. Hoje em dia as turmas continuam agendando encontros, mas cada vez é menor o número daqueles que neles comparecem. A vida, e o que achamos que são as suas demandas, volta a “tomar” as pessoas. Porém acredito que isso é fruto de um grande engano que as pessoas se propiciam. Manter amigos – relações - implica em investimento de tempo e afeto, e se tem uma coisa da qual as pessoas hoje fogem é justo de se investirem em algo. Todos querem o benefício das relações sem se dar ao trabalho da sua manutenção que só acontece quando a gente dá de si ao outro.

E um dos meus comentários foi de que as pessoas preferem voltar a se encontrarem nos velórios e que é só ai que se dão conta de que passaram a vida investindo nas coisas erradas. E não falo isso de orelhada não, falo porque vejo isso acontecer diariamente no Centro de Referência do Idoso do qual faço parte. A queixa de 90% dos idosos é justo a solidão que acaba fazendo com que caiam em depressão e tenham muitas doenças. E a cura deles está fortemente relacionada com as novas amizades que fazem no CRI. Para além das atividades que propiciamos.

É lícito e certo dedicar-se a um relacionamento amoroso e à família. O que é enganoso é o que a maioria das pessoas fazem: esperar que estes preencham de satisfação suas vidas sem que precisem de mais nada ou ninguém. E é enganoso porque os filhos crescem e vão cuidar das suas vidas solicitando menos a nossa presença e ajuda e o cônjuge pode morrer antes da gente... E isso geralmente acontece muito antes do que a gente espera.

E é engraçado a gente perceber que encontra tempo para fazer coisas degradáveis, mas necessárias, porém que dificilmente conseguimos encontrar tempo para fazermos coisas que nos dão real prazer como encontrar amigos para um bate-papo, por exemplo.

Antes de escrever esse texto fiz uma enquête entre meus amigos e pedi que eles me relatassem coisas das quais não gostam, mas para as quais encontram tempo, porque são necessárias. Tem quem odeie academia, mas vai a uma quatro vezes por semana. Tem quem odeie bordar, mas o faz porque preenche o tempo. Tem quem odeie passar roupa, lavar cozinha... Eu e uma amiga temos paura de dentista, mas vamos sempre.

Acaba sendo incompreensível como cavamos espaço para fazer as coisas que nós acreditamos nos serem benéficas, mesmo que não gostemos delas e, no entanto, não conseguimos achar algumas horas no mês para estar com pessoas que sabidamente nos fazem bem. Como bem disse o mesmo amigo do começo deste texto brincando com a enquête: a gente acha tempo para enxugar gelo e limpar carvão, mas não consegue tempo para fazer as coisas que realmente interessam. Aqui eu falo da amizade, mas sem ser reducionista, com certeza vamos conseguir aplicar este questionamento, sim porque tudo isso não passa de um questionamento, em outros aspectos da nossa vida. Quanto tempo você tem gasto cumprindo deveres e quanto do seu tempo você tem investido na conquista da sua felicidade?

Porque não adianta se enganar: felicidade decorre de prazer. Não existe chance de ser feliz se fizermos da nossa vida um eterno cumprir de deveres que no fundo consideramos necessários, mas enfadonhos. Não tem como chegar num final feliz se o processo não for prazeroso. Sofrimento não pode nunca acarretar em alegria, por serem em essência antagônicos. Numa conquista pode haver algum desprazer, algum esforço que gere dor, mas se a coisa não for predominantemente agradável e prazerosa, a felicidade não vai aparecer como um pote do ouro no final do arco-íris.

Quem quer ser feliz tem de começar hoje; agora. E tem de fazer isso começando a ter tempo para realizar aquelas coisas que são capazes de botarem um sorriso nos nossos rostos. Não existe outra forma, não existe atalho: felicidade implica em comprometimento em dar de si mesmo a si mesmo e às coisas e pessoas que podem, não fazerem a sua felicidade, mas colaborarem para que ela aconteça.


E ai, o que você anda fazendo para se fazer feliz?

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