14 de abril de 2009

Sou como uma viúva: amo, mas quem amo vive uma outra vida, numa dimensão paralela à minha, embora nossos mundos tenham espaços que se contém. A diferença é que se a viúva precisa ir ao centro espírita para receber uma comunicação, quem sabe até uma carta psicografada - com muita sorte - a mim basta discar um número, tomar um ônibus para poder ver e estar com quem amo.

Sim, sou amada. Não tenho NENHUMA dúvida quanto a isso. E não, não é pretensão e nem ilusão da minha parte. Eu simplesmente sei; sempre soube.

E por amar foi que nunca me casei. Pois embora tenha me apaixonado por outros homens, sempre soube que o que eu sentia por eles não era amor - exceção feita a um só, que por ser muito parecido com quem amo em algumas coisas, teria "me levado ao altar" se tivesse tido coragem de bancar os próprios sentimentos. Hoje sinto uma certa gratidão por ele não ter conseguido fazer isso, uma vez que nos poupou de uma separação que é sempre dolorosa; mais do que já foi levar o pé na bunda naquela época.

Para além disso, nunca quis brincar com os sentimentos alheios: prometer algo que, sei, não poderei entregar. É, isso ainda é real. Se sei a quem amo, mesmo sabendo que não existe um nós - nem haverá - como envolver alguém que poderá querer mais do que o afeto que posso oferecer? Não dá! Ao menos para mim. Mesmo que hoje eu tenha decidido não ver mais quem amo... Mesmo que essa decisão esteja fazendo com que me sinta como se mil facas atravessam meu o corpo de dentro para fora e voltem.

E eu não vou, mais uma vez, lutar para esquecer, "seguir em frente", "me dar novas oportunidades", como muita gente irá me sugerir e dizer - por isso aos amigos o pedido encarecido: não digam! Não vou porque já fiz isso mais de uma vez e não deu certo: depois de muito ou pouco tempo, não importa, sempre me deparo com o mesmo amor. Não vou mais brigar com o que sinto, tentar matar o que não morre. Cansei disso. Cansei profundamente disso.

Não entendo o porquê de tudo isso, o motivo de terem tido tanto trabalho em reverter uma situação que estava estável e confortável, mas também não me importa mais. Talvez o objetivo fosse apenas esse: me fazer desistir para todo o sempre. É. Não tenho mais como carregar a esperança de um futuro, mesmo que em outra vida, como fiz até hoje. Dói demais a espera... Dói, mesmo que não doa.

Dói porque não tem como construir uma existência correndo o risco de um dia chegar à percepção de que teria trocado tudo (mesmo que eu ame profundamente esse tudo), pela oportunidade de ter vivido ao lado dele. Eu não consigo dar às coisas/pessoas o valor que sei que elas possuem quando as coloco em perspectiva com ele. Tudo se torna pequeno e insignificante, mesmo que eu tenha plena consciência que dentro de mim essas coisas/pessoas têm um valor inestimável.

Me manterei aberta para vida, mas não ao amor - ao menos esse tipo de amor - porque simplesmente não tem como não ser coerente comigo mesma. Também porque não quero novamente descobrir ali na frente que me iludi achando que esqueci o que não se esquece. Deve haver um sentido em tudo isso, mas não sei qual. E não sei se um dia saberei.

Fiz uma escolha há muitos anos e como consequência dela ele fez a escolha dele. Isso não tem volta. Nossas vidas são o que são em decorrência dessa escolha.

Ainda não comuniquei minha decisão; existe uma cirurgia no meio do caminho e cirugias são sempre delicadas. Espero fazer isso quando ele cumprir a promessa de ligar semana que vem e quase rezo para que ele não o faça; para que apenas deixemos de existir na vida um do outro como já aconteceu uma vez. É, sou covarde. Porém suspeito que meu desejo não será atendido. Hoje ele tem muitos modos de me encontrar. Então que Deus me dê forças para falar sem cair no choro e para conseguir explicar que preciso mais do que tenho e sei que quem poderia me dar, não tem essa disponibilidade. Porque não existe substituição, entende? Só não existe.

E escrevo tudo isso para que os me amam tomem ciência do motivo da minha ausência e mutismo nos próximos dias... É, conchei: preciso lamber minhas próprias feridas. Mas eu volto.

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