13 de abril de 2009

Anorexia e obesidade - Primeira parte




Vamos falar sobre distúrbio alimentar, mais precisamente sobre a anorexia e obesidade?

Sim, porque não dá pra falar da anorexia sem falar de obesidade, já que são, a meu ver, os pólos opostos de um mesmo distúrbio emocional, ou seja: se a questão alimentar fosse um pêndulo, num pólo você teria a anorexia, no oposto, a obesidade e no meio o equilíbrio. Passando de um pólo a outro, você teria a bulimia e o abuso do trato intestinal.

A minha proposta pessoal de fazer esse post surgiu depois de ler algumas coisas sobre a anorexia que julguei um tanto levianas a princípio, por tratarem o distúrbio como se fosse um modismo e não uma doença. Eu sei, eu sei, as anoréxicas defendem que é um estilo de vida – pró-ana, mia - mas não é: é uma doença passível de tratamento, embora não saibamos ainda se é passível de cura. Sei que é diante dessa postura de modismo – portanto escolha – que as pessoas formam conceitos, e preconceitos, embarcadas nessa onda emocional e não por mal.

A anorexia mata. A obesidade também. E ambas, depois de um determinado grau, trazem para o organismo deficiências que se tornam irreversíveis e diminuem a qualidade de vida do seu portador. A diferença é que a obesidade é mais socialmente aceita. Tal e qual a bebida que é droga e causa sérios danos do mesmo jeito que a cocaína, mas como todo mundo está acostumado e faz algum uso sem consequências, deixamos de notá-la como droga? Pois.

Além do que o obeso nos fala emocionalmente de algo que sobra, do excesso, e assim nos remete simbolicamente, embora seja uma mentira deslavada, à sensação afetiva de que ele não precisa de nada, nem de nós e isso nos deixa emocionalmente cômodos. Já o anoréxico... Esse conversa diretamente com a nossa impotência; com a “falta” num grau tão avançado que salta aos nossos olhos e mobiliza em nós uma atenção e um cuidado que acaba nos ferindo, pois o que ele nos diz incessantemente é que: não importa o que sejamos para ele nunca somos suficientemente bons a fim de nutri-lo afetivamente. O irônico aqui, se não fosse trágico e profundamente triste, é que a “falta” que move o portador de distúrbio alimentar, é justamente de ser amado exatamente “pelo que é” e “do jeito que é”.

Mas, o que é o distúrbio alimentar, mais precisamente a anorexia e a obesidade?

Dentro do meu entendimento, o distúrbio alimentar é caracterizado pela necessidade de controle obsessivo e que na anorexia se traduzirá numa compulsão pelo controle absoluto do que se come e do peso. Já a obesidade seria uma compulsão pelo descontrole, motivado pelo prazer imediato e sem resistência que a comida oferece, mas que também tem sua gênese no desejo de controle absoluto. Explico-me:

A personalidade que sofre um distúrbio alimentar quer determinar absolutamente tudo o que chega até ela, desde situações cotidianas a até, e principalmente, a afetividade daqueles que lhe são significativos. Porém a vida não é passível de controle nesse grau e quando esta personalidade começa a se dar conta da impossibilidade dos seus propósitos, transfere essa necessidade de controle para o próprio corpo. Entendam: não é que ela não receba amor, recebe, mas o amor que recebe nunca está qualificado como dentro das suas expectativas, ou seja: ela não consegue senti-lo como suficiente, pois não o considera, usando um termo de Winnicott do qual gosto muito, como sendo suficientemente bom.

E isso porque de fato e concretamente o portador de distúrbio alimentar sofreu rejeição. Seja pela separação dos pais, pelos pais serem ocupados demais com suas vidas e profissões para dar-lhe real atenção, ou até mesmo por ter pais com expectativas fantasiosas em relação aos filhos e que, portanto, estabelecem um grau de exigência muito alto, mesmo que não verbalizado. Ai não fica difícil deduzir porque ele tem necessidade de controle: quer a todo custo evitar o sofrimento que ser rejeitado causa.

É dessa forma que essa pessoa cria numa crença primordial de que não recebe amor por não ter merecimento/adequação e que, portanto, se quer ter isso, deve se transformar num outro alguém passível de ser amado como acredita que precisa ser. Um novo corpo, uma nova personalidade, a reinvenção de si mesmo está sempre como pano de fundo da pessoa que sofre de distúrbio alimentar.

E como existe uma necessidade de entender porque se foi rejeitado, e como a primeira e inaceitável resposta é que o fomos por não sermos suficientemente bons, projetamos no corpo e na sua forma o motivo para a rejeição. O obeso engorda e diz: “ninguém em ama porque sou gordo”; o anoréxico emagrece porque diz: “ninguém me ama porque sou gordo”. Sim, é justamente a mesma justificativa dada - embora com dinâmicas comportamentais diferentes frente à mesma constatação - que denota que os distúrbios têm a mesma gênese. A diferença de proposta reside no fato de que o obeso passa a usar o corpo para promover a rejeição que tanto teme e o anoréxico, na busca pela magreza, também promove a rejeição, porém acredita que existe um patamar onde será magro, e portanto, bonito o suficiente para promover a aceitação. Para ele é como se houve um padrão de beleza física tão irresistível que fizesse brotar o amor incondicional.

Nenhum comentário: