28 de abril de 2009

"Há pouco tempo eu te disse que não existia no mundo ninguém com a sua capacidade de me ferir. Ninguém com tamanho potencial em me fazer doer como você. E embora isso possa parecer uma coisa ruim, e o tenha sido muitas vezes - só eu sei o quanto chorei - há muito tempo agradeço a Deus pela nossa relação, pois ela me deu casca. Pois é, levei tanta porrada que criei resistência; uma casca como a das baratas, capaz de resistir e suportar qualquer explosão atômica afetiva que desabe sobre mim. Se hoje sou uma pessoa para quem a opinião alheia pouco importa, inclusive a sua, isso é graças, única e exclusivamente, a você.

Você foi a minha última tentativa de ser outro alguém que pudesse ser amada incondicionalmente. Ah! Como eu quis ser diferente do que sou para poder ser amada sem censuras e críticas, mas mais uma vez vi que isso é impossível. Impossível por ser algo que não existe, seja com quem for, mas, principalmente, impossível porque você é uma pessoa que não se agrada de nada, ao menos em relação a mim. Se discordo, sou errada. Se concordo, também sou. Hoje foi apenas mais um perfeito exemplo disso: concordei com absolutamente tudo o que você disse e propôs; concordei com sinceridade e coração, pensei em alternativas viáveis para fazer o que você propunha reconhecendo que era o melhor para mim, e mesmo assim você achou por bem distorcer tudo o que eu disse e não disse, com intenções que absolutamente não manifestei ou tive, e assim desistir do nosso trato inicial e sair da conversa para fazer sozinho, o que disse que faria comigo. Pense em alguém com cara de tacho olhando para a tela do micro.

O fato é que você desistiu de ser Matt comigo... “(ou não) rs*”; você desistiu de mim.

E não, eu não acho ruim, muito pelo contrário, acho muito bom que isso finalmente tenha acontecido. Penso que deve ser muito difícil mesmo para alguém como você entender e conviver com alguém como eu, mesmo que apenas virtualmente. Principalmente quando você não entende que muitas vezes ser de uma determinada forma não é questão de vontade. Se eu pudesse ser como você - se características se comprassem em farmácia mesmo que durassem algumas poucas horas ou semanas - eu não seria obesa, simples assim.

E o "engraçado" é que não tenho dúvida nenhuma que você me ame do seu jeito. Mesmo que você nunca tenha sustentado qualquer mínima declaração que tenha feito nesse sentido por 24 horas seguidas, sei que o sentimento é real. E, no entanto, foi exatamente o fato de não sustentar que sempre me impediu de investir afetivamente numa relação como era desejo seu. E você nega o que estava demonstrando quando dá um jeito de transformar todas as coisas que sinto, acredito e vivencio em ilusões, sonhos e conto de fadas. Foi isso que você fez com o meu amor por você: o transformou em ilusão. Algo impossível de ser tornar real e palpável.

Algumas vezes me pego pensando, e acho até que já te perguntei isso diretamente, sobre o que você vê de positivo em mim que o faça gostar-me dessa maneira inusitada que de vez em quando você diz gostar de mim. Isso porque tirando a questão gramatical e a criatividade para escrever, não faço a menor idéia do que possa considerar legal em mim. Em contrapartida sei exatamente quais são os seus senões e críticas, tecidas ao longo desses quase 9 anos, a meu respeito. Não é triste isso? Eu acho.

Acho triste quando você diminui os meus valores e sentimentos. Acho triste quando você deixa de me escutar ou ler porque quer desesperadamente defender as suas teorias a meu respeito. Acho triste quando você tenta me encaixar em coisas que, de verdade, não sou eu. Já disse inúmeras vezes que você é uma das pessoas que mais me conhece, porém quando você "me erra" o faz de forma tão absurda que mal dá para acreditar que tenha sido a mesma pessoa.

Você não precisa concordar comigo; você não precisa me aceitar, mas você tem obrigação de respeitar quem sou; e isso é algo que você é incapaz de fazer. E embora eu saiba que não o faz com intenção, que sequer passa pela sua cabeça me qualificar como "inferior" a você, isso não muda nada, pois é o que você sempre fez, faz e seguirá fazendo todas as vezes em que tiver oportunidade. Você e qualquer pessoa que acredite que existe um, e só um, jeito certo de se atingir um objetivo, de se ser na vida, e que esse jeito é o próprio.

Nunca neguei que tenho dificuldades, algumas bem grandes em relação a algumas coisas, e inclusive de ver alguns aspectos meus com clareza – quem não tem? Porém você negar que tenho me empenhado verdadeiramente em promover as mudanças que desejo, não me ajuda em nada e nem à nossa relação. Você quer que eu mude, porém se minhas mudanças não vão de encontro ao que você quer que eu seja, ao que você acredita que seja o melhor para mim, você simplesmente invalida o que sou e me trata como se fosse exatamente a mesma pessoa que você conheceu há mais de 8 anos, ou seja: o único ser humano na face da terra incapaz de aprender qualquer coisa que seja com as próprias experiências de vida. Para mim não existe nada mais brochante numa relação.

E embora você provavelmente esteja pensando que tirei toda essa percepção do chapéu – mais uma ilusão minha - ela é a resposta àquela minha pergunta: porque, de repente, a minha questão corporal ganha uma importância desproporcional na nossa relação? Não, não é porque me incomoda como você prontamente respondeu. É porque ela se transforma numa disputa sobre “quem está certo” da sua parte. Você deixa isso claro quando é incapaz de motivar o que estou fazendo no momento e está dando certo. Quando não consegue acrescentar coisas para melhorar o desempenho e quer que eu largue o que tenho feito e faça do seu jeito. Quando você se preocupa com uma possibilidade de futuro ainda inexistente, mesmo que baseado num passado que também não existe mais e esquece-se de estar aqui para mim no presente. E juro: acreditei piamente que o começo da nossa conversa hoje tratava-se disso pela primeira vez. É... Você está coberto de razão quando diz que minha capacidade em iludir-me e acreditar em soluções mágicas e fantasiosas não é pequena.

Você tem medo que eu morra e realmente posso estar morta amanhã: atropelada por um carro e não necessariamente como consequência da minha obesidade. E também não é triste que "nossa última conversa" tenha terminado com você “vomitando” em mim a crença de que as suas escolhas e os seus desejos é que são certos?

Você sente prazer em ter e manter um corpo que desperta desejo. Eu tinha problemas quanto a isso se o desejo surgia num homem que não desejo. E embora eu entenda que para os homens seja difícil entender que o pau duro deles nem sempre seja tido como um elogio pelas mulheres, não entendo a necessidade de invalidar algo que eu precisava trabalhar em mim, fruto de um trauma de infância. É tão difícil assim conceber que forçar a barra sexualmente, não respeitar aquele "não" dito a qualquer momento durante o ato, possa causar muito mal a alguém? Você não imagina o rombo que essa sua recusa causava em mim a cada vez que me deparava com ela, embora entenda qual fosse a sua boa intenção por detrás disso, mas você nunca atingirá um bom intento desmerecendo as vivências alheias ao perder de vista que não somos pessoas iguais; a percepção de que na maioria das vezes sequer somos parecidos uns com os outros.

Você diz que me viu desistir várias vezes durante esses anos e, no entanto, não pode dizer que me viu entregar os pontos e perder a consciência de que desejo e quero fazer algo em relação a isso. E sim, não faço parte do clube dos "perfeitinhos" que escondem os fracassos embaixo do tapete para ninguém saber que eles não são exatamente como a máscara que usam. De todas as ilusões que crio, a única que sou incapaz de criar é aquela que faça qualquer pessoa acreditar que não sou quem sou. Impor um limite de proximidade não implica em desejo de não ser vista, é apenas o desejo de me proteger da dor que as relações geralmente causam quando as pessoas têm essa necessidade absurda de colocar tudo e todos em formas.

E entendo que você se pergunte porque, se tento de todas as maneiras, não me permito ao menos tentar da sua, que efetivamente é a que qualquer pessoa de bom senso no mundo sabe que dá certo e funciona. Explico: por ela ser enormemente restritiva; por eu não ter sido educada dentro dela como você foi; por implicar em abrir mão de tanta coisa que me é familiar e, consequentemente, implicar numa força de vontade que eu não tenho, pois se tivesse ao menos 1/10 da sua força de vontade, não seria obesa. Então são mudanças que vou fazendo aos poucos, por serem mudanças em todo um modo de viver, mas isso não interessa né? Não. Não interessa.

Enfim, quando o assunto é esse você já chega tão armado na conversa que sequer consegue me ouvir. E é exatamente por isso que esse não foi um e-mail e sim um texto no blog".

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