25 de março de 2010

Quando passei no vestibular, eu era apaixonada por um rapaz com quem passava todo o meu tempo livre e que tinha decidido, por nós dois, que iríamos fazer cursinho e faculdade juntos.

Lá em casa nunca foi opção não prestar vestibular assim que terminasse o colegial, hoje ensino médio. Prestei e, claro, passei, pois estudara em bons colégios. Na hora em que descobri minha aprovação, estava na casa de um amigo, rodeada por muitos amigos - ele junto - e enquanto todo mundo me parabenizava e fazia a maior festa, ele ficou olhando e se afastou. Depois voltou e participou da bagunça, comentava sobre minha aprovação com os outros, mas não me deu parabéns em momento nenhum. Não ficou feliz por mim sabe? E eu até entendi, mas porra né? Ficar feliz por mim e demonstrar isso pra mim e não pros outros era o mínimo que eu esperava de alguém que gostava de mim.

O restante da tarde e noite foi uma comemoração após outra. Era aniversário de uma amiga e fomos todos para a casa dela. Lá juntaram-se todas as minhas turmas e minha aprovação no vestibular foi muito falada.

Óbvio que eu ficava cada vez mais arredia e agressiva com ele a cada vez que um amigo me felicitava e ele ao meu lado, não me dizia nada, nem um "legal". Num determinado momento da noite a situação era tão crítica entre nós, climão mesmo, que eu sentada na escada, ele aproveitou para perguntar o que eu tinha para o estar tratando tão mal. Quando contei que ele não havia me dito nada de bom enquanto todo mundo estava feliz por mim, ele me deu os parabéns, mas ouviu de volta um: "agora que eu falei não adianta mais; não tem nenhum valor".

E de alguma forma, percebo hoje, isso mudou toda a percepção que eu tinha dele e a nossa relação. Meu amor por ele começou a morrer exatamente ali. Portanto, não foi surpresa nenhuma quando anos depois ele preferiu valorizar numa bobagem para romper a amizade comigo. E aceitei o rompimento sem drama. Apesar de todos dizerem que ele me adorava, mesmo que a gente estivesse separado há anos, eu sabia que o que ele sentia por mim não era tudo aquilo e muito menos grande o suficiente para levá-lo a me defender diante daquela bobagem. Tomar meu partido e lutar pela nossa amizade, sabe? No trato comigo ele nunca demonstrou o que as pessoas diziam que ele sentia por mim e o que ele demonstrava sentir por mim para elas... Nunca.

Hoje estava conversando com uma amiga no MSN e lembrei disso, pois estávamos falando de uma relação que tive com alguém comum a nós duas e percebi que nessa relação isso também aconteceu. Não da mesma forma, mas com o mesmo significado para mim.

Alguém que pro mundo demonstrava ter um carinho especial por mim, um carinho que aparentemente me colocava numa posição de privilégio, porém que no trato cotidiano comigo esse afeto nunca se traduziu em ser mais afetivo, carinhoso, doce. E veja: não estou negando que ele sinta carinho por mim, não é isso. Sente, mas não existe isso de ser especial, de ser numa graduação maior e que me torna para ele mais importante que as demais pessoas. É isso que quando as pessoas dizem, eu entendo e sinto como uma tremenda mentira. É, toda vez que alguém tenta me dizer que eu tive uma importância específica e privilegiada, algo dentro de mim berra: mentiraaaaaaaa! Porque nunca me privilegiou, nunca se moveu na minha direção, enquanto vi esse movimento ser feito repetidas vezes na direção de outras mulheres.

E fico me perguntando se sou muito doida... Se não estou vendo algo que é óbvio pros outros ou se não estou valorizando a coisa certa. Mas acho que não. Se amo alguém, vou valorizar, priorizar e deixar a pessoa que amo saber que a amo e que ela é importante para mim. Sou orgulhosa. Sou. Mas vou trabalhar meu orgulho, lutar contra ele, pois não existe felicidade amorosa possível em não se mostrar, em não demonstrar o que se sente.

É alguém muito inseguro aquele que espera o outro abrir as asas para só então chegar e se expor? Deve ser né? Porque não corre riscos. Não faz papel de tolo ou de idiota... Quem é que tendo amado alguém com verdade não se expôs e achou que deu vexame? Já dei váááários. E sobrevivi a todos e acho que faria de novo, pois todos valeram a pena. Até quando o único resultado era descobrir que a pessoa em questão não valia a pena.

Hoje percebi que passei anos tentando fazer com que a história que me contavam, a que eu vivia e a que eu via acontecendo com as outras pessoas tivessem confluência. Mas nunca consegui. O que eu via é que aquilo que diziam que acontecia por mim se concretizava ali, na mulher ao lado. E eu vivia com essa sensação de ter entrado e assistido o casamento trocado sabe? Você assiste a cerimônia toda e quando os noivos se viram para porta, você percebe que não conhecia aquela pessoas? Pois.

E eu nem queria que eu fosse a mais amada. Quando me apaixonei sim, mas o restante do tempo e hoje, eu só queria que as coisas tivessem a suas dimensões exatas. E todos contássemos a mesma história. Eu aceito o carinho especial, a afinidade diferente, mas sem que se coloque o mais ali ao lado. É o superlativo que sempre me incomodou e deu a sensação de falsidade.

Se as pessoas optam por ficar com seu orgulho, com suas defesas, em não se exporem antes que o outro esteja entregue, tudo bem; direito delas.

Mas para mim não serve.

Quero que quem me ame diga e demonstre para mim o quanto sou importante. Eu não preciso nem que o resto do mundo saiba. Quero espontaneidade e tesão de verdade.

Outro dia um amigo deu uma camiseta pro ficante e isso deflagrou uma crise no outro que colocou fim na relação deles. Pode? Dar uma camiseta quando a pessoa fez aniversário, se você está ficando com ela ganha uma conotação totalmente diferente.

Porque antes o namoro servia para a gente saber se o que sentia era o suficiente para a relação evoluir, mas hoje as pessoas inventaram um pré-namoro, onde você testa se o tempo em que você vai passar tentando descobrir o outro vale a pena. Oi?

Eu quero relação de verdade e relação de verdade vai doer uma vez ou outra. Às vezes vai doer é muito, mas não me importa. Prefiro isso a assepssia emocional. Quero verdade e graduações e granulações e impasses e texturas e sabores diferentes, pois o ser humano é complexo. Mas eu quero verdade, coerência, congruência e confluência também.

Não preciso ser a mais especial. Mas preciso ser especial. Aliás, como pedir a um homem com filhos que você seja a coisa mais importante da vida dele? E Nêga, se ele disser que é, corre, pois o homem não está no seu estado natural, que é aquele onde se valoriza as próprias crias acima de todas as coisas.

Eu quero paz, e também quero verdade. Eu sei que a maioria das mulheres por ai adoram ser tratadas como retardadas e fingirem que acreditam num especialismo que não possuem, mas eu não sou assim.

Tenho lutado tanto para ter o meu tamanho e apenas o meu tamanho e isso é até nisso: na demonstração do afeto que o outro tem por mim, eu sinceramente prefiro que seja assim.

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