29 de outubro de 2007

Massageando a testa ontem, me veio um insigth: lembrei que minha mãe era muito, mas MUITO nervosa e brava quando éramos crianças e que se quiséssemos atrair a sua fúria, bastava armar carranca, ou ficar de cenho carregado. Dai que muito cedo aprendi a ficar zangada, mas não trazer para o rosto. Porém, ao contrário do que muitos possam pensar, quando fico brava é facílimo de saber, pois meus olhos expressam tudo.

E existe uma correlação definitiva entre a dor na testa e a dor nas pernas embora eu não saiba qual. Bastou mexer nela ontem para as pernas voltarem a doer, insuportavelmente, a ponto de me impedirem de dormir profundamente. Segurei sem remédio até onde deu, ou seja, hoje. E embora Gui tenha sugerido que é porque eu também não podia bater as pernas fazendo birra - sim, a ÚNICA vez que fiz isso levei uns bons tabefes - não tenho impressão que seja isso... A carga de energia nas pernas é monstruosa. É como um rio que tivesse sido represado e que agora força os diques para poder fluir e por isso dói.

Eu até fiz o exercício de bater pernas e punho no colchão, mas a dor só fez aumentar. Só aliviou mesmo depois que me masturbei, e só então consegui dormir. Não que a energia contida ali seja puramente sexual - há também - mas sim porque o orgasmo promove uma das mais potentes descargas energéticas das qual nosso corpo pode se utilizar.

Agora é deixar quieto por uns dias - há de amadurecer - e ver onde esse processo vai desembocar.

28 de outubro de 2007

O corpo virou minha metáfora e hoje fala mais de mim e por mim do que eu seria capaz em qualquer tempo.

Duas descargas vegetativas poderosas livraram-me do veneno e da contenção interna e agora a pressão - que vivia sobre neurótico controle - desandou a oscilar, para cima. No livro vejo que pressão alta significa problema emocional duradouro não resolvido. Eu sei. A gente passa a vida toda tentando proteger-se... Do quê mesmo? Da dor. Mas qual dor? Já nem sei mais. Com os anos os nossos "jeitinhos" perdem significado e viram vícios, ciclos viciosos. A dor que você tenta evitar se tornou tão velha conhecida que se confunde com pertença. É você, embora não seja e nem precise ser. A letargia que proteger-se causa virou casulo que agora você precisa romper. É preciso deixar as peles, as personas, os personagens. E, no tentanto, acho que é mais fácil fazer isso aos quarenta, pois se tem uma coisa da qual passamos a ter certeza quando chegamos até aqui é que pouca coisa nesse mundo mata. Quase tudo dói, mas quase nada mata. Rejeição dói, mas não mata; perder dói, mas não mata; recomeçar dói, mas não mata. Amar dói, mas não mata; relacionar-se dói, mas não mata. Enfim, você finalmente aprendeu que viver dói e também dá muito prazer.

E o meu corpo fala dessas coisas que doem, mas não matam melhor que eu. Outro dia doíam-me as articulações dos ombros de um jeito que me faziam lamuriar; depois foram as mãos. Ontem foram as articulações dos quadris. O próximo destino há de ser os joelhos ou tornozelos e depois não mais. São as inflamações emocionais que se cristalizadas agora estão sendo desfeitas dando-me algo que há muito eu havia perdido: flexibilidade e liberdade internas.

E ontem mexendo no rosto descobri a testa dolorida como se em feridas. Massageei por muitos minutos e hoje ela ainda está bastante dolorida, requerendo cuidados. É como se eu tivesse passado muito tempo de cenho franzido, e no entanto quem me conhece sabe que isso não é verdade. Nem rugas de expressão na testa tenho. Está explicado porquê. É como se eu franzisse a alma. A pele não registrou, mas a musculatura que a sustenta congelou-se cronicamente e agora no caminho do descongelamento ela dói como um corpo que desperta de uma imobilidade prolongada. É, talvez as rugas apareçam daqui para adiante, mas finalmente né? Mais valem rugas do que botox emocional.

Tudo bem ter chegado aos quarenta sem muitas das coisas que a maioria das pessoas batalham ferrenhamente para ter. Minhas conquistas foram outras e foram muito particulares. Só eu sei o quão importante é olhar para mim mesma e ver que banco estar em relação. Aguento depender e que dependam de mim. Aguento precisar e ser precisada. Isso me faz sentir que embora seja só - quem não o é? - não estou só. Nunca estive. As pessoas sempre estiveram para mim muito mais do que eu para elas, a verdade é essa. E sei que, pela minha incapacidade de pertencer, feri muita gente. Muita gente mesmo... Ao desfilar as imagens na mente, os olhos marejam e vem uma vontade de voltar no tempo e acolher todo o amor que me dedicaram e desprezei, porém é impossível. Quem olha para trás vira estátua de sal e é momento de seguir em frente.

Não, nada de recomeçar. Desse vez estou apenas dando continuidade a um processo.

24 de outubro de 2007

Tem processos que são grandes ou profundos demais para caberem em palavras. E isso não implica em que sejam difíceis ou complicados. Simplesmente não se traduzem.

Estou nesse momento.

16 de outubro de 2007

Parte I

Era menina, cerca de oito anos, mas mesmo assim apaixonou-se perdidamente pelo menino de onze anos. Nunca vira nada mais bonito na vida do que aqueles cabelos loiros e aqueles olhos cor de mel complementados por um sorriso amplo e de dentes alvíssimos. Mas descobriu cedo que na vida nada é perfeito: ele estava enamorado de sua prima; aquela tinha a mesma idade que ele.

Aliás, foi na festinha de aniversário dela que o conheceu e descobriu o enamoramento – mútuo - pois ambos não paravam de dançar; juntos. Ao se dar conta disso, pela primeira vez sentiu uma dor aguda no peito que logo se transformou em lágrimas, fazendo com que se isolasse num canto para chorar. Queria quietude para absorver completamente aquele novo conceito que se desenhava: a impossibilidade.

Porém o canto escolhido era na mesma sala e, claro, logo vieram saber o que lhe acontecia. E ela disse. Ainda não sabia que existem coisas que por educação e amor-próprio(?) era melhor serem guardadas para si. Então, como só os adultos sabem fazer, logo providenciaram para que o menino fizesse a gentileza de dançar com ela para que cessasse aquele choro, afinal, não custava nada. Foi assim que descobriu o poder da chantagem emocional e ficou muito feliz com o seu novo super poder.

Numa segunda festa de aniversário da prima, diante das mesmas sensações, lançou mão do mesmo recurso só que agora premeditadamente. O canto foi bem escolhido e as lágrimas cuidadosamente vertidas. O resultado esperado chegou, mas não com o mesmo sabor. Se num primeiro momento ficou contente, isso logo cedeu espaço a certo incômodo, talvez decorrente do fato do menino sequer olhar para a cara dela. Terminada a dança resolveu voltar para o seu estado natural: correndo pela casa com as demais crianças. No entanto, plantara-se nela a suspeita de que forçar a barra não era lá uma coisa muito legal de se fazer...

No entanto era teimosa e houve ainda uma terceira festa de aniversário na qual lançou mão do mesmo recurso. Dessa vez foi a tristeza estampada no rosto da prima, aliada ao fato do rapaz seguir sem olhá-la e dela estar dois anos mais velha, que a fez ter noção absoluta de que tomara o caminho errado. Quis interromper a dança, mas faltou-lhe coragem. Pela primeira vez sentiu vergonha de si mesma. A tortura finalmente terminou, mas dessa vez ela não foi correr. Escolheu um canto afastado do quintal cheio de árvores e sentou para pensar no que acontecia.

Do muito que pensou o que conseguiu concluir do alto dos seus dez anos é que não valia a pena estar com quem não queria estar com ela e muito menos se isso fizesse a infelicidade de alguém; ainda mais se fizesse a infelicidade dos três. Também teve a forte sensação - mas não pela primeira vez - que no mundo não haveria par para ela. Isso doía como só as coisas inevitáveis sabem doer, mas fazer o que? Voltou a correr pela casa com os primos que vieram buscá-la.

11 de outubro de 2007




Hoje eu queria te ver
E lamber o céu da tua boca
Com gosto de amora.

Hoje eu queria beber
Do teu riso agridoce
Por várias horas.

Hoje eu queria me perder
No mel dos teus olhos
de risos constantes.

Hoje eu queria te ter
refrescante em meus braços
por muitos instantes.

Hoje eu só quero...

Você!

10 de outubro de 2007

Eu também vou falar...

...sobre o filme Tropa de Elite.

Sim, gostei imenso! Muito mesmo e não fosse todo o resto teria gostado por finalmente, como bem disse ele, o Brasil ter aprendido a fazer filmes de ação. E pro inferno com a "reserva de mercado" cultural: se uma das coisas que americano sabe fazer bem é nos emprestar a adrenalina em determinadas cenas, bom que tenhamos sabido de quem copiar!

Quanto ao conteúdo, não vou me ater a discursos sobre se o filme é fascista ou não, mesmo porque me falta gabarito para engendrar uma discussão desse nível. O que posso sim dizer, é que enquanto via o filme pensava no policial honesto finalmente representado num sistema onde, embora sejam em menor número – infelizmente – nem todo mundo é bandido e existem os que honram a farda. E no quanto é difícil carregá-la em detrimento da própria vida muitas vezes. Todos os dias, absolutamente todos os dias, morrem policiais no cumprimento do dever pelo Brasil, mas apenas às vezes essas mortes saem noticiadas nos jornais.

Ao mesmo tempo pensava com alívio que favelados não vão ao cinema, pois a impressão que se fica é que todo morador de favela, foi, é ou será bandido. E isso deve dar muita raiva em quem mora lá e ganha a vida honestamente; a imensa maioria por acaso.

Tai mais um dos discursos que me dá raiva atualmente: a bandidagem quem faz é a desigualdade social. Será? E esse bando de pobres honestos que enchem as nossas fábricas, limpam as nossas casas, varrem as nossas ruas, recolhem os nossos lixos, trabalham nas lavouras, produzem o nosso combustível e a sagrada caninha do fim de semana? Que vendem bugigangas e balas, que catam lixo pelas ruas, que dormem ao relento... Porque não se tornaram bandidos se vieram da mesma miséria? E como explicar o número crescente de jovens da classe média e da classe alta cada vez mais metidos com o mundo do crime? De qual miséria se fala afinal quando se diz que ela forma bandidos?

E não, não nego que existam os que roubem e cometam pequenos delitos por absoluta necessidade. Só quem tem fome sabe o que ela é. Mas esse não é o caso dos traficantes que lotam as nossas favelas e que arrastam para o vício e para o crime as nossas crianças. Não é o caso deles e nem nunca foi.

O x é que a favela é um território esquecido para o qual ninguém quer olhar, pois fala da nossa eterna inaptidão para lidarmos com a diferença. A favela é mais um dos nossos lixos empurrado para debaixo do tapete. Terra de ninguém que todos gostariam que simplesmente deixasse de existir. Justamente por isso os traficantes, transformando em ponto forte a fragilidade das favelas, se apossaram delas. Vantagens demográficas, facilidade de escoamento da produção e mão de obra-barata são requisitos irresistíveis para qualquer “empresário”! Triste descaso que rouba nossa paz.

E um dos questionamentos que o filme levanta e que acho vale a pena insistir e retransmitir é o que quer que o usuário se questione sobre o quanto o seu vício contribui para que cada vez mais crianças sejam aliciadas pelo tráfico. E não querendo me meter no vício alheio penso que a alternativa de quem quer usar deve ser cultivar. Sim viagem, mas afinal não é disso que se trata a droga?

Para finalizar falta dizer que o filme suscita toda uma discussão quanto a se ser um policial honesto implica em matar bandido... Talvez matar não seja a solução, no entanto, enquanto o Brasil não apresentar um sistema carcerário capaz de recuperar(?) o bandido, eu os prefiro mortos do que entrando na minha ou na sua vida.

8 de outubro de 2007



Êxtase

Guilherme Arantes

Eu nem sonhava
Te amar desse jeito
Hoje nasceu novo sol
No meu peito...

Quero acordar
Te sentindo ao meu lado
Viver o êxtase de ser amado
Espero que a música
Que eu canto agora
Possa expressar
O meu súbito amor...

Com sua ajuda
Tranqüila e serena
Vou aprendendo
Que amar vale a pena...

Que essa amizade
É tão gratificante
Que esse diálogo
É muito importante...

Espero que a música
Que eu canto agora
Possa expressar
O meu súbito amor...

Eu nem sonhava
Te amar desse jeito...


7 de outubro de 2007

Desalento

Eu não ando tanto pelas ruas mais freqüentadas dessa minha cidade porque não quero perder a esperança. Quando o faço, uso fone e ouço músicas pelo mesmo motivo. Ouvir as conversas entre jovens me causa um desalento que me faz pensar que o nosso futuro só pode ser pior do que o nosso presente. Ou na verdade tudo é apenas uma alternância: são os conhecidos (pré)conceitos de roupagem nova. E dói ver que nada mudou de verdade e dificilmente irá.

Se antes o discriminado, excluído e violentado era o homossexual, hoje é o emo. Fala-se e faz-se destes as mesmas coisas que se falava e fazia com os gays há 20 anos atrás. Se é politicamente correto aceitar e conviver com a diversidade, o emo surge como o bode expiatório daquilo que socialmente produzimos, mas não queremos admitir: a nossa incoerência.

Depois de ver um garoto ser espancado no metrô por outros jovens, no ônibus ouvi jovens contarem, com orgulho, que tratam como cachorro sarnento um outro ser humano por este ser emo; batem-lhe, jogam-lhe bebidas na cara – com as pedras de gelo. E, num dado momento da conversa, uma das garotas fez lá um questionamento ao qual também aderi: “só não entendo porque ele sempre volta”. Diferente dela eu entendo porque, pois entendo de solidão. Profunda, funda e tão dolorida solidão que tapas são, antes de tudo, toques...

E nem sei dizer do rombo que isso causa em mim. Não sei falar do desalento e ele então se transforma em lágrimas. Hoje deságuo lenta e silenciosamente enquanto a mente ronda por músicas como: “João e Maria” e “Como Nossos Pais”.

Na hora eu não chorei. Não! Pela primeira vez tive vontade de ter um revólver na bolsa e de fazer uso dele. Não para atirar e sim para conseguir que prestassem atenção em mim. E quando fizessem isso - me dessem toda a sua atenção misturada à mesma paura que eles nos fazem ter - gostaria de ter um discurso tão poderoso que primeiro os fizesse envergonharem-se de si mesmos e depois tomarem consciência. Mas consciência de quê? O que nos falta saber para começar a mudar essa realidade medíocre na qual estamos, por séculos, mergulhados até o último fio de cabelo? Porque o diferente nos amedronta tanto a ponto de nos tornar agressivo? Que ameaça é essa que sentimos diante do que não conhecemos e que nos remete à nossa instância mais primal e animalesca? Não sei. É, na verdade eu só queria ter o poder de despertar essa humanidade comatizada na própria hipocrisia; no politicamente correto que, engessadamente, tenta internalizar em nós a inerência do respeito que deveria permear todas as nossas relações. Eu não preciso gostar do que vejo, mas tenho a obrigação de respeitar, sempre.

Porém o politicamente correto também é fruto de algo que produzimos, mas não queremos admitir: nossa fobia à rejeição. Você tem de aceitar tudo e todos para, fantasiosamente, garantir que tudo e todos te aceitem. E na verdade o que queremos - já que gosto é algo que continua a não ser discutível - é só e unicamente assegurar-nos de que possamos nos sentir injustiçados quando for a nossa vez de não sermos gostados. Hipocrisia pura. Ninguém gosta de tudo ou de todos! Se assim fosse, não haveria necessidade de respeito à diversidade, pois esta inexistiria... Seriamos plasticamente feitos de mesmice e chatice.