28 de outubro de 2007

O corpo virou minha metáfora e hoje fala mais de mim e por mim do que eu seria capaz em qualquer tempo.

Duas descargas vegetativas poderosas livraram-me do veneno e da contenção interna e agora a pressão - que vivia sobre neurótico controle - desandou a oscilar, para cima. No livro vejo que pressão alta significa problema emocional duradouro não resolvido. Eu sei. A gente passa a vida toda tentando proteger-se... Do quê mesmo? Da dor. Mas qual dor? Já nem sei mais. Com os anos os nossos "jeitinhos" perdem significado e viram vícios, ciclos viciosos. A dor que você tenta evitar se tornou tão velha conhecida que se confunde com pertença. É você, embora não seja e nem precise ser. A letargia que proteger-se causa virou casulo que agora você precisa romper. É preciso deixar as peles, as personas, os personagens. E, no tentanto, acho que é mais fácil fazer isso aos quarenta, pois se tem uma coisa da qual passamos a ter certeza quando chegamos até aqui é que pouca coisa nesse mundo mata. Quase tudo dói, mas quase nada mata. Rejeição dói, mas não mata; perder dói, mas não mata; recomeçar dói, mas não mata. Amar dói, mas não mata; relacionar-se dói, mas não mata. Enfim, você finalmente aprendeu que viver dói e também dá muito prazer.

E o meu corpo fala dessas coisas que doem, mas não matam melhor que eu. Outro dia doíam-me as articulações dos ombros de um jeito que me faziam lamuriar; depois foram as mãos. Ontem foram as articulações dos quadris. O próximo destino há de ser os joelhos ou tornozelos e depois não mais. São as inflamações emocionais que se cristalizadas agora estão sendo desfeitas dando-me algo que há muito eu havia perdido: flexibilidade e liberdade internas.

E ontem mexendo no rosto descobri a testa dolorida como se em feridas. Massageei por muitos minutos e hoje ela ainda está bastante dolorida, requerendo cuidados. É como se eu tivesse passado muito tempo de cenho franzido, e no entanto quem me conhece sabe que isso não é verdade. Nem rugas de expressão na testa tenho. Está explicado porquê. É como se eu franzisse a alma. A pele não registrou, mas a musculatura que a sustenta congelou-se cronicamente e agora no caminho do descongelamento ela dói como um corpo que desperta de uma imobilidade prolongada. É, talvez as rugas apareçam daqui para adiante, mas finalmente né? Mais valem rugas do que botox emocional.

Tudo bem ter chegado aos quarenta sem muitas das coisas que a maioria das pessoas batalham ferrenhamente para ter. Minhas conquistas foram outras e foram muito particulares. Só eu sei o quão importante é olhar para mim mesma e ver que banco estar em relação. Aguento depender e que dependam de mim. Aguento precisar e ser precisada. Isso me faz sentir que embora seja só - quem não o é? - não estou só. Nunca estive. As pessoas sempre estiveram para mim muito mais do que eu para elas, a verdade é essa. E sei que, pela minha incapacidade de pertencer, feri muita gente. Muita gente mesmo... Ao desfilar as imagens na mente, os olhos marejam e vem uma vontade de voltar no tempo e acolher todo o amor que me dedicaram e desprezei, porém é impossível. Quem olha para trás vira estátua de sal e é momento de seguir em frente.

Não, nada de recomeçar. Desse vez estou apenas dando continuidade a um processo.

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