7 de outubro de 2007

Desalento

Eu não ando tanto pelas ruas mais freqüentadas dessa minha cidade porque não quero perder a esperança. Quando o faço, uso fone e ouço músicas pelo mesmo motivo. Ouvir as conversas entre jovens me causa um desalento que me faz pensar que o nosso futuro só pode ser pior do que o nosso presente. Ou na verdade tudo é apenas uma alternância: são os conhecidos (pré)conceitos de roupagem nova. E dói ver que nada mudou de verdade e dificilmente irá.

Se antes o discriminado, excluído e violentado era o homossexual, hoje é o emo. Fala-se e faz-se destes as mesmas coisas que se falava e fazia com os gays há 20 anos atrás. Se é politicamente correto aceitar e conviver com a diversidade, o emo surge como o bode expiatório daquilo que socialmente produzimos, mas não queremos admitir: a nossa incoerência.

Depois de ver um garoto ser espancado no metrô por outros jovens, no ônibus ouvi jovens contarem, com orgulho, que tratam como cachorro sarnento um outro ser humano por este ser emo; batem-lhe, jogam-lhe bebidas na cara – com as pedras de gelo. E, num dado momento da conversa, uma das garotas fez lá um questionamento ao qual também aderi: “só não entendo porque ele sempre volta”. Diferente dela eu entendo porque, pois entendo de solidão. Profunda, funda e tão dolorida solidão que tapas são, antes de tudo, toques...

E nem sei dizer do rombo que isso causa em mim. Não sei falar do desalento e ele então se transforma em lágrimas. Hoje deságuo lenta e silenciosamente enquanto a mente ronda por músicas como: “João e Maria” e “Como Nossos Pais”.

Na hora eu não chorei. Não! Pela primeira vez tive vontade de ter um revólver na bolsa e de fazer uso dele. Não para atirar e sim para conseguir que prestassem atenção em mim. E quando fizessem isso - me dessem toda a sua atenção misturada à mesma paura que eles nos fazem ter - gostaria de ter um discurso tão poderoso que primeiro os fizesse envergonharem-se de si mesmos e depois tomarem consciência. Mas consciência de quê? O que nos falta saber para começar a mudar essa realidade medíocre na qual estamos, por séculos, mergulhados até o último fio de cabelo? Porque o diferente nos amedronta tanto a ponto de nos tornar agressivo? Que ameaça é essa que sentimos diante do que não conhecemos e que nos remete à nossa instância mais primal e animalesca? Não sei. É, na verdade eu só queria ter o poder de despertar essa humanidade comatizada na própria hipocrisia; no politicamente correto que, engessadamente, tenta internalizar em nós a inerência do respeito que deveria permear todas as nossas relações. Eu não preciso gostar do que vejo, mas tenho a obrigação de respeitar, sempre.

Porém o politicamente correto também é fruto de algo que produzimos, mas não queremos admitir: nossa fobia à rejeição. Você tem de aceitar tudo e todos para, fantasiosamente, garantir que tudo e todos te aceitem. E na verdade o que queremos - já que gosto é algo que continua a não ser discutível - é só e unicamente assegurar-nos de que possamos nos sentir injustiçados quando for a nossa vez de não sermos gostados. Hipocrisia pura. Ninguém gosta de tudo ou de todos! Se assim fosse, não haveria necessidade de respeito à diversidade, pois esta inexistiria... Seriamos plasticamente feitos de mesmice e chatice.

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