24 de novembro de 2010

Como posso sentir a perda do que nunca tive?

Mais: como posso sentir doer escolhas que fiz levando em conta o que eu não queria e descobrir, tarde demais, que queria? Se fosse com você eu queria. Eu não queria era com qualquer um...

Nunca pensei em filhos como desdobramento de um amor. Nunca havia parado para me perguntar que se o nosso amor se desdobrasse dessa forma, como seria a criança que nasceria combinando você e eu? Como seriam seus olhos? Sua boca? Teria os meus ou os seus dedos? E a personalidade puxaria mais a sua paciência infinita ou a minha curta e de mau gênio? E o jeito de rir, de olhar?

Qual seria a emoção de ter dentro de mim algo gerado por esse amor que em mim é tão importante? Um pedaço seu e meu, aqui, crescendo dentro de mim, como seria? E depois segurá-lo nos braços, amamentá-lo, vê-lo se desenvolver como a consequência natural da nossa vontade de ficarmos juntos para além de nós mesmos e das nossas vidas.

Como seria ver seus olhos no primeiro momento em que o segurasse? Seu sorriso e a emoção de ter um filho nosso nos braços? Como você me olharia depois disso? E se fosse menina? Você algum dia sonhou em ser pai duma menina?

E mais e maior: como será o amor de mãe? O amor nascido por gerar alguém dentro de si, como fruto de um amor que corre pelas veias e é tão eu...

Como será vê-lo, pela primeira vez, me olhar e me reconhecer? Como será alguém me amar como mãe? Ser alguém insubstituível? Ter esse amor incondicional? Como será a emoção, em mim, do primeiro passo, da primeira palavra, do primeiro tombo, da primeira bronca?

Tantas e tantas coisas que jamais saberei.

E não saberei por não dar mais tempo. Biologicamente esse trem já passou.

E também, por egoísmo, admito. Desculpe, mas não quero te dividir com mais alguém.

É, eu sei, eu mais uma vez protagonizando mais um clichezão da vida, mas entenda: passei tanto tempo esperando pela oportunidade de ter você um pouco para mim que não vou ocupar meu tempo com mais ninguém. E filho ocupa espaço interno e externo, precisa de dedicação e dedicação pede tempo. Filho não tem hora e nem lugar, é trabalho integral 24 horas por dia e trabalho por muitos e muitos anos. Tem todas as coisas boas, mas também tem todas aquelas que dão um trabalhão.

Mais a mais, você sempre terá os seus filhos e eles, por consequências naturais da vida, já tirarão você de mim.

E eles não vão gostar de mim, ao menos no começo... Talvez com o tempo passem a gostar de mim, mas sempre haverá momentos onde estarei excluída. Momentos seu e deles e de todos os sentimentos e significados de se ter um filho, de ser pai. Torço com todas as forças para que eles um dia gostem de mim como se gosta de uma amiga. E que confiem em mim como quem confia numa grande amiga. E assim quando houver os momentos de vocês, eu vou ficar esperando por você em casa, mas não me sentirei excluída. Serei parte de um amor que é fraterno.

Mas hoje, hoje foi a inveja da relação de vocês que me fez descobrir tudo o que contei acima. E eu nem sabia que era inveja. No começo achei que aquela dor que sinto cada vez que você me conta que vai fazer algo com eles, algo ao qual não pertenço, algo que você tem e sempre terá sem a minha participação, fosse ciúmes... Mas era diferente de todos os ciúmes que já senti nessa vida. E foi então que percebi que era inveja mesmo. Inveja por você ter algo que eu nunca terei e que nunca te darei também.

E eu não quero que você perca isso. Mesmo. Não quero que a nossa relação impeça você de viver a de vocês, e por isso tenho de aprender e viver com a dor e transformá-la. Preciso aceitar minhas escolhas e vivê-las como o que são: minhas escolhas. Mas ainda não sei fazer isso... Ainda só dói e ainda só choro e rezo e peço a Deus que me dê meios de superar e eu sei que vou, só não sei quando.

Por hora fico feliz em me manter fora do manicômio, porque né? Santa incoerência Batmam! Já foram tantas crises de choro que até me dei férias de sentir, mas quem diz? Quando vejo estou pensando de novo, imaginando coisas... E no entanto, sei que não vou mudar de ideia. Não vou deixar de tomar pílula e nem querer engravidar. Fica pra próxima quando nos encontraremos cedo e construiremos toda uma vida cheia de clichês de comercial de margarina e seremos de fato felizes com o pacote completo.

Nessa e por hora, por mais que doa, eu quero apenas você.