16 de junho de 2010

No penúltimo grupo que dei no CRI no final, pedi a todos que fizessem o exercício do espelho que a Louise Hay ensina no Livro “Você pode curar a sua vida”.

É um exercício muito simples de executar: você para diante do espelho, olha para si mesmo com verdade, nos olhos, e se diz: “eu me amo e me aprovo. Tudo está bem no meu mundo”. E ai aguenta o repuxo... rs... Pois imediatamente seu ego vai desfilar todos os motivos pelos quais você não se ama e não se aprova; mais: pelos quais você não deve nunca fazer isso! Aqueles que estão ali no seu rosto e depois os que ele acha que estão na sua alma.

A instrução é para que se insista dia após dia no exercício, até que a mente comece a silenciar, o que leva cerca de duas semanas. Ai você começa a ter chance de ver-se sobre outra ótica e tendo por parâmetro, outras premissas. Claro que num primeiro momento eu não disse isso ao grupo. Pedi apenas que fizessem o exercício, insistissem nele e me contassem as reações. O objetivo era trabalhar a auto-crítica.

No último grupo, eles, gracinhas, comemoraram o meu aniversário, mas mesmo assim insisti que me contassem o que sentiram no exercício do espelho. A primeira observação geral foi: “eu não consegui”. A segunda foi: “Não me acho bonita”.

E era tudo o que eu precisava para começar a trabalhar com a crítica e o que ela acarreta na percepção e aceitação de nós mesmos, pois o exercício nunca foi sobre ser bonita para ser passível de ser amada.

Desde que nascemos aprendemos a ser tão críticos em relação a nós mesmos através dos nossos pais que sempre estão empenhados em nos educar e corrigir nossos erros, sem, na maioria das vezes, apontar as nossas qualidades também, que quando olhamo-nos no espelho, observamos aquelas pequenas coisas que não gostamos em nós e a tomamos pelo todo que sequer conseguimos visualizar. E esse é o movimento que fazemos em relação a qualquer característica nossa: sempre valorizamos o negativo e esquecemos-nos de valorizar o positivo e muitas vezes perceber que ele é em maior número e mais significativo do que aquilo que não consideramos bom, afinal, não estamos todos vivendo e relativamente bem? Algo de correto fazemos diariamente para conseguir isso.

Mas o mais interessante foi a história que uma das participantes nos contou e que ilustra muito bem o efeito da crítica em nós e nas nossas vidas. I. tem setenta e três anos e é muito bonita. Negra, não tem a pele manchada, ou sequer rugas. Usa sempre um turbante e está sempre bem vestida e cuidada. Só nesse dia vim a saber que ela não tem cabelos, por isso do turbante, mas que usa peruca numa boa quando quer sair com cabelo. Para I. é essencial mãos e pés bem feitos e cuidados. É como ela demonstra o amor que tem por si mesma. I. se considera vaidosa e tem orgulho disso.

Nesse dia ela contou que sempre, sempre, desde que se entende por gente, se olha no espelho e diz a si mesma: “sou linda”! E que sente isso como a mais absoluta verdade e de todo coração.

Porém I. passou por uma situação há cerca de dois meses, que fez com que ela se criticasse. Ela trabalhava cuidando de um senhor de oitenta anos, médico, que tivera um derrame há quatro anos atrás, porém que ficara com pouquíssimas seqüelas. Na última visita que fez ao médico ele avisou-a que viajaria no dia seguinte, por cinco dias, e que quando retornasse ligaria dizendo-lhe para que viesse. I. não ia todos os dias à casa do médico, apenas duas ou três vezes na semana para fazer companhia e cuidar de algumas coisas, como limpeza, molhar plantas, compras e etc. Como o médico demorasse a ligar, passados mais de oitos dias, I. resolveu ir até a casa do mesmo ver se estava tudo bem por lá e molhar as plantas, achando que o passeio dele na casa de parentes estava gostoso e que então ele decidiu por se demorar mais por lá.

Quando chegou I. encontrou o médico morto no banheiro, tirando a roupa para tomar banho, vitima de um aneurisma, após chegar da viagem e ter feito um jantar gostosinho para si mesmo.

Claro que I. fantasiosamente se culpou, quis ter poderes sobre-humanos para saber que o médico havia retornado e desejou estar ali fantasiando que poderia ter feito algo para salvá-lo. Mesmo que estivesse lá, nada poderia ser feito, uma vez que foi um estouro de aneurisma, ou seja: um sangramento cerebral em proporções que não podem ser contidas.

A consequência disso foi que I. deixou de se achar linda quando se olhava no espelho. Deixou também de cuidar de si mesma e suas mãos e pés, que sempre estiveram bem feitos e tratados, passaram quarenta dias sem receber nenhum cuidado. Por quarenta dias I. se judiou, se criticou e entristeceu, perdendo a capacidade de gostar de si mesma. Não, ela não sofreu nenhum dano irreversível. Aliás, ela não sofreu nenhum dano, ao menos aparente até agora.

E essa não é uma história de terror para que você pare de se criticar e passe a cuidar.

É apenas uma história para mostrar que uma única crítica, tirou de I. a capacidade de se amar por quarenta dias. E só não foi mais e/ou pior, pois o depósito energético positivo que ela acumulou ao longo dos seus setenta e três anos se achando e se sentindo linda, pressionou-a e a levou à restauração de si mesma, pois era uma corrente maior e mais poderosa trabalhando a favor de si mesma, do que aquela que ela iniciara com a crítica trabalhando contra.

Percebem? Uma critica gera quarenta dias de desamor numa pessoa que acumulou setenta e três anos de energia positiva sobre si mesma.

Imaginam o efeito disso em nós que estamos mais que habituados a nos tratarmos como se fôssemos o último ser da terra a merecer amor e compaixão? Pois.

Dá o que pensar né?