24 de janeiro de 2012

    Uma das coisas que mais me pergunto quando observo algumas relações é: “Quem essa pessoa ama? Aquela que o outro é de fato, ou aquela que ela gostaria que ele fosse e pela qual passará muito tempo brigando, tentando transformá-lo”? Geralmente percebo que ganha a segunda opção.
    Minha relação não é fácil, pelas circunstâncias. Às vezes ela é mesmo muito difícil e nesses momentos confesso que penso em desistir. Me liberar e ver o que a vida me traz, pensando sempre se não será algo mais fácil. Mas olhando à minha volta eu desisto, pois não sei se outro homem será capaz de me dar as coisas que tenho com o meu e que são coisas que prezo muito - nós dois prezamos - e que garantiram que nos amássemos pro vinte anos e que sigamos nos amando quando as coisas apertam. E as coisas apertam.
    A principal dessas coisas é a honestidade. Honestidade sobre quem somos, o que sentimos, o que pensamos, o que fazemos, o que queremos de nós e do outro. Sobre nossas bobagens e nossas verdades. Mas não uma honestidade perversa, pois também já tive relações onde o outro era pródigo em dizer verdades sobre mim, mas sem se importar sobre as verdades sobre si mesmo. É uma honestidade amorosa, cuidada, dita com compaixão. Não existe o que não possa ser dito entre nós dois. E sim, algumas coisas não são ditas, mas geralmente o são mais por falta de tempo em fazê-lo – outros assuntos naquele momento são mais importantes - do que qualquer outra coisa e ai passa para ser relembrada lááá na frente. E, sim mais uma vez, algumas vezes o que temos para dizer é difícil porque sabemos que irá machucar e a gente adia, a gente fica estranho, mas sempre acabamos falando. Tanto e tanto que já ouvi algumas vezes de amigos: “mas você não contou isso para ele, contou”? “Contei sim, claro”! “Você é doida, isso vai afastar vocês”! Mas não, não afasta. O que afasta é a mentira e a omissão desnecessárias e vaidosas.
    E acaba que não entendo o que as pessoas consideram como proximidade e intimidade se elas não se mostram para o outro. Se nessa que deveria ser a relação mais cuidada, porque de escolha, existem coisas que não podem ser ditas; se mentiras têm de ser contadas e mantidas em nome da tal paz conjugal que nunca é alcançada, veja bem, pois alguém sempre está inconscientemente cobrando algo que sente encoberto: o “eu verdadeiro”.
    Eu não sou perfeita e ele sabe. Ele não é perfeito e eu sei e nenhum dos dois está atrás de perfeição, pois afinal uma das graças de nos relacionarmos é justamente nos amarmos apesar e para além dos nossos defeitos.
    Eu, por exemplo, sou chata. MUITO chata em relação a algumas coisas que ele faz por circunstâncias e um pouco também de ser o jeito dele, o que acaba gerando confusão. Porque sim: quero que ele mude em beneficio da gente. Ele concorda que precisa mudar, mas que não é esse o momento e então me pede um pouco mais de paciência. Nem sempre consigo e a gente acaba “discutindo”. E quando nos acertamos e peço desculpas por ser tão chata, ele ri. Ele não diz: “imagina, você não é”. Nem “ah! Mas nem é tanto assim, veja as circunstâncias”. Não. Eu sou chata pela forma como lido com as circunstâncias – afinal sempre existem formas melhores do que brigar - ele sabe e mesmo assim me ama e quer. E isso me é suficiente, pois é o que quero: um homem que veja quem realmente sou e me ame mesmo assim.
    E isso é o que todos dizem querer e, no entanto, é do que vejo as pessoas fugirem. Elas veem os defeitos do outro, têm de conviver com eles, mas não podem mencioná-los sem que o outro se ofenda e sinta rejeitado
    Sério. É como que para se relacionarem as pessoas segurassem em cada uma das mãos três máscaras e com esses seis elementos fizessem uma dança com o outro que também porta suas seis máscaras. É uma coreografia onde a cada máscara levantada, outra é apresentada o que, por sua vez, faz com que o outro apresente outra máscara e assim sucessivamente. Uma dança que muitas vezes é linda, mas sem nenhum sentido. A consequência disso é uma relação aonde a ilusão é tomada por realidade e as pessoas acham que se conhecem e se transformam, quando apenas estão sendo falsas. Falsas consigo e com o outro.
    Falsas por princípio, pois nunca tiveram a intenção de amar quem o outro é, embora quisessem ser amadas pelo que são. Falsas por fingirem aceitar coisas que tentarão modificar no outro. Falsa por quererem receber o que não têm intenção de dar reciprocamente em troca: sinceridade.