20 de janeiro de 2012

A quem eu magoei ontem...

Sei que minha afirmação ontem no Twitter magoou pessoas que amo e é fácil pensar que se eu não queria magoar, que não dissesse o que disse. Porém eu precisava daquilo para me reerguer do lodaçal aonde estava imersa há alguns dias por contingências da vida que eu não estava conseguindo aceitar.

Portanto venho aqui me desculpar com quem magoei e me explicar mais amplamente a fim de causar um entendimento que minimamente anule a mágoa.

Para começar é preciso dizer que sim, eu recebo colo. Eventualmente os recebo; meio que por acidente, mas recebo. Tanto recebo que sinto falta, pois relembrando um professor de faculdade "apenas nos faz falta aquilo que tivemos, pois do contrário, não saberíamos o que é e, consequentemente, não nos faria falta por absoluta ignorância". Então, se está sentindo falta é porque teve em algum momento. Entretanto, para que vocês me entendam é preciso que - ironia - eu fale de mim um pouco.

Tenho muita, mas MUITA dificuldade em falar de mim. O exemplo mais pungente disso foram os quase dois anos de terapia com uma profissional ortodoxa que deixava que eu começasse o atendimento falando. Asseguro-lhes que por conta disso passei - e paguei - bem que uns 60% (se não mais) das sessões calada, mesmo que dentro de mim os vulcões estivessem em erupção.

O 2º exemplo foi quando precisei dizer ao homem que amava que o amava, para dar a conhecer e realizar meu afeto, e isso resultou numa espera por parte dele de quatro horas. Q-u-a-t-r-o h-o-r-a-s. Ali, sentados no carro, numa garagem escura, alta madrugada. As palavras vinham e eu literalmente as engolia. Só falei quando ficou insustentável o meu sofrimento.

Não sei por que sou assim. A única lembrança concreta é a de que os livros eram um caminho tranquilo e prazeroso - com aquelas vidas e emoções inventadas, mas com começo, meio e fim determinados, portanto seguro - quando as coisas na minha realidade ficavam conturbadas e confusas. E quando eu voltava dos livros as coisas haviam se ajeitado, minimamente por conta da sabedoria do tempo.

Outra coisa que me ocorre é o fato de que, em contrapartida, eu ter uma facilidade enorme para ouvir, que aliada a um interesse genuíno pelo outro, faz com que as pessoas me falem de si. Por isso me tornei terapeuta. Também por conta disso tornei-me uma profissional com quem os pacientes vinculam espantosamente rápido. Amigos idem. Quando pergunto: "como vai você"? Realmente quero te ouvir. Para mim não é "oi".

O x é que juntando tudo me tornei expert em fazer o outro falar de si. Ou seja, mesmo quando quero falar de mim, seja por força do hábito ou da resistência, eu facilmente induzo o outro a falar de si.

Mas o mote aqui é o colo, falemos dele então. De que tipo de colo falo? Não daquele que recebo espontaneamente, mas daquele que não recebo quando consigo romper minhas barreiras e pedir por ele. Fiz isso de pedir poucas vezes, é verdade, mas em nenhuma delas fui bem sucedida.

E aqui mais uma vez é preciso que eu esclareça. E para esclarecer que relembre mais uma vez a 1ª terapeuta; estava eu lá toda pimpona e falante há algumas sessões, quando ela pontua que todos os meus conteúdos eram resolvidos. Que eu não levava nada para ser compartilhado ou vivenciado ali.

Esse continua sendo o meu grande jeitão na vida: quando falo de mim é que as coisas já se acomodaram dentro, mesmo que fora ainda persista o caos aparentemente. Nessas horas eu até posso me emocionar, chorar, reconhecer que é difícil, mas eu já tenho o caminho interno determinado e inclusive já o estou percorrendo.

O colo que não recebo é aquele que peço quando consigo atravessar a insegurança do que não sei, de estar descrente e perdida. E, com toda sinceridade do meu ser, não sei se alguém recebe colo nessas circunstâncias, se isso existe.

O que sei é que nesses momentos me isolo, "concho", e penso, penso, penso e penso. Questiono, questiono, questiono, questiono e questiono. Rezo, rezo, rezo, rezo e rezo. Leio, pesquiso, abro novo horizontes, mas assim: de mim para mim mesma e assim me resolvo.

O problema é que de uns tempos pra cá, talvez por dar ouvidos ao mundo, entrei numas de que colo é essencial e faz bem, além de ser direito de todos "e então eu quero minha cota: é meu amigo, parente, namorado? Pode me dar colo já"! E não duvido que isso seja verdade para muita gente, só que não o é para mim. Preciso de um esforço desumano para sair de mim e cansei de me esforçar. Quero e estou voltando pro meu estado natural, sem esperar de ninguém o que não nasci pra ter.

Sou uma doadora de colo. E está ótimo assim.

Quando preciso falar, geralmente recorro ao papel, blog, atualmente até a postar no facebook, ao terapeuta que dá o start do atendimento (Rá! Aprendi!) o que para mim é mais fácil e possível de fazer talvez até pelo "quê" de impessoalidade, já que sou estruturalmente esquizóide, ou seja, distanciada.

Eu sei que sou amada e que tenho muitas intenções sinceras de colo. Da mesma forma, também tenho plena consciência de que não é fácil conseguir me acessar, o que quem convive comigo sabe bem. Apenas é assim.

E isso não quer dizer que eu não vá pedir colo novamente um dia. E nem que não vá recebê-lo. Só quer dizer que eu não vou mais procurar por algo que não é meu verdadeiro jeito de ser. Que vou conchar, me isolar sem medo de perder a oportunidade, o direito de "estar com alguém", de ser "retribuída". Me resolverei do meu jeito e voltarei pra vida com o velho sorriso brincando nos lábios e a alegria de viver restaurados.

É isso exatamente o que estou fazendo agora.

Se te feri, me perdoa, pois o fiz sem nenhuma intenção disso.

Amo vocês!