31 de janeiro de 2012

Língua



Teus beijos escorrem da minha boca,

enrijecem meus mamilos,

contornam meu umbigo

e param no meu sexo

que se acende feito pavio

ao toque da sua língua

fazendo com que meu corpo

exploda em mil fogos,

onde não existe artifício nenhum.

27 de janeiro de 2012

Deus não ajuda quem não se ajuda.

    Há algum tempo tomei uma decisão impopular - mais uma de tantas - mas essa foi fundamental e a mais impopular de todas: “eu não faço nada por alguém que possa fazer esse algo por si mesmo”. Traduzindo: qualquer favor que me peçam e que seja algo que a pessoa possa fazer por si mesma, recebe um não como resposta. Se a pessoa insiste, escuta que faz parte de regras da minha vida, embora eu nunca tenha explicado o porquê dessa decisão mais a fundo. Vou fazê-lo agora.
    O primeiro grande motivo de fazer isso foi perceber que por ser alguém solícita e que gosta de ajudar, acabava lotada de coisa dos outros pra fazer. Ou seja, minha vida mesmo, que também precisava de atenção, cuidado e dedicação para eu atingir meus objetivos, acabava ficando em segundo plano. E só me toquei disso quando comecei a ver as pessoas se realizarem e eu continuar no mesmo lugar. Fui ver o porquê e percebi que gastava muito tempo fazendo coisas pros outros.
    Junto a isso tem aspectos espirituais que me mostraram que ajudar demais, não é bom pra ninguém, principalmente porque as pessoas se acomodam em serem ajudadas e não desenvolvem suas habilidades.
    Vou contar aqui uma historinha rápida sobre isso. Tenho uma amiga que gosta muito do meu estilo de escrever e por conta disso sempre pedia que eu o fizesse por ela; de cartas a cartões e até outros textos. Nada demais, a não ser que para escrever primeiro é preciso inspiração. Segundo: para escrever coisas íntimas é preciso que eu passe um tempo ouvindo a pessoa até entrar “na pele” dela e dizer o que ela diria. Ou seja, demanda tempo. Mas o mais difícil era achar inspiração quando eu simplesmente estava sem saco para escrever. E não adianta dizer que não está com vontade né? Quem pede o favor não quer a recusa, insiste, persiste e se bobear se ofende. Fato é que um dia eu disse a ela que não escreveria mais, pois ela era capaz de fazê-lo, que eu no máximo revisaria, acrescentaria coisas, mas o texto seria dela. O resultado prático disso é que hoje ela escreve lindos e profundos textos que me deixam cheia de orgulho dela e de mim, pois se eu não tivesse tido a coragem de me recusar – e aqui a gente sempre fica com receio de colocar a amizade em risco - ela não teria desenvolvido essa habilidade.
     Para corroborar essa fase, passei alguns dias numa casa onde as pessoas pediam umas às outras vários favores. Pude observar que a maioria das vezes era por puro comodismo e me peguei perguntando: “mas pera ai, porque essa pessoa acha que o comodismo dela vale mais que o comodismo da outra”? Pronto, estava aberto o radar pra observar o que as pessoas fazem por si mesmas e o que elas delegam para os outros e percebi que um dos sentimentos predominantes no delegar é o orgulho que pode vir travestido de egoísmo, narcisismo ou mesmo de “preguiça”. Pois.
    Muita gente delega por que não quer fazer coisas chatas, coisas pequenas, bobas, ou que consideram menores do que a sua capacidade. O que elas não percebem é que quando pedem para que outros façam essas mesmas coisas estão cometendo dois enganos: o primeiro é o de serem arrogantes achando que alguém pode arcar com a sua parte chata das coisas, portanto que, de alguma forma, existem pessoas com um valor menor do que o delas. Todas as coisas do mundo têm partes legais e ótimas e partes chatas, mas só algumas pessoas acreditam que merecem passar pela vida sem lidar com a parte ruim.
    O segundo engano é diretamente consequência do primeiro e precisa ser pensado de um ponto de vista mais espiritual ainda. Todos ganhamos uma vida de Deus para evoluirmos. E evoluímos ao aprender. E aprender implica passar por todas as fases da vida, superar as dificuldades transformando-as em habilidades. Se você delega a parte chata ou ruim, você está fraudando seu aprendizado diante do único professor de quem não se pode enganar: Deus. A consequência direta disso é que a vida emperra. É. E emperra porque você não foi honesto e não aprendeu de verdade. E então fica preso na situação até que se resolva a fazer todas as partes para realmente aprender e seguir em frente.
    Mas então eu não posso delegar, pedir favor? Pode. Quando realmente não tiver como fazer, como aprender, e parar para fazer isso causará outras perdas. Nesses casos a vida apresentará outras oportunidades e tudo flui. Também pode delegar para ensinar algo ou aprender junto. O que você não pode é ser desonesto com Deus e nem menosprezar o outro. Se a sua vida está enrolada, se você se sente tomando bomba sempre na mesma lição, pare e pense se essa não pode ser a razão.
    E do ponto de vista de quem gosta de ajudar a ponto de se enrolar é preciso perceber que as pessoas não vão te amar mais por fazer o que elas te pedem. Que se te amam o farão mesmo que você não as ajude. E se não amarem é porque não amavam antes. É, "chavão", e óbvio. Eu sei, é difícil tomar essa decisão e mais ainda colocá-la em prática; a gente sua frio, morre de medo de perder todo mundo, mas um dia cria coragem e se liberta do servilismo e olha: vale a pena.

26 de janeiro de 2012

Quando escrevi esse texto e publiquei, foi para um amigo que havia justificado não ter me esperado, me ligado, ou me chamado (agora não lembro bem) para não me atrapalhar em outra coisa que ele julgou que eu estivesse fazendo e gostasse mais do que estar com ele.

O sentimento ao escrever era de amizade, mas pense num texto que causou um rebu danado? Foi esse. Na época a gente participava meio de uma comunidade e nela haviam muitas mulheres apaixonadas por ele e quando entrei no que seria uma espécie de bate-papo, fiquei de cara com as "reclamações e afirmações" de que este era um texto de amor. Fato é que depois disso a gente acabou mesmo tendo um rolinho, que não durou, mas acredito que causado pela falação do povo que despertou minha curiosidade.

Hoje tenho vontade de republicar, mas ai sim como um texto de amor, pensando em alguém que realmente amo e prefiro a qualquer coisa na vida, principalmente porque não preciso abrir mão de nada para vivê-lo.

Eu prefiro você


Eu prefiro você a um episódio inédito da minha série preferida.
Eu prefiro você à mousse de chocolate ou pipoca com Guaraná vendo sessão da tarde em dia de chuva.
Eu prefiro você a receber rosas numa data especial.
Eu prefiro você à partida final do campeonato onde meu time está prestes a ser campeão.
Eu prefiro você a um pôr-do-sol embasbacante.
Eu prefiro você a qualquer livro.
Eu prefiro você a ouvir o CD do meu intérprete preferido, mesmo que o tenha acabado de comprar.
Eu prefiro você a dar um mergulho em dia escaldante.
Eu prefiro você a parque de diversão com algodão-doce e maçã-do-amor.
Eu prefiro você a bacalhau.
Eu prefiro você a desenhar.
Eu prefiro você a fatias geladas de abacaxi, ou morango com creme de leite, ou ainda a cerejas frescas.
Eu prefiro você a boteco com amigos e cerveja.
Eu prefiro você às exposições dos artistas que mais admiro.
Eu prefiro você a meu filme preferido.
Eu prefiro você a viajar.
Eu prefiro você a bordar.
Eu prefiro você a sorvete em dias bem quentes.
Eu prefiro você à festa de aniversário.
Eu prefiro você a Coca-Cola bem gelada.
Eu prefiro você a uma estadia num Spa.
Eu prefiro você a sair dançando pela casa porque está tocando minha música preferida.
Eu prefiro você à gargalhada mais espontânea que eu possa dar.
Eu prefiro você a qualquer lágrima, mesmo que de alegria, que eu possa chorar.
Eu prefiro você a brincar na neve.
Eu prefiro você a qualquer tempestade elétrica que eu possa observar.
Eu prefiro você a abraçar árvores.
Eu prefiro você...

É, eu prefiro você!


25 de janeiro de 2012

Hoje estava vendo "queer eye for de straight girl" e chorei de balde quando a hétero transformada disse que tinha medo que o pai dela não visse em quem ela se transformou...

Doeu.

24 de janeiro de 2012

    Uma das coisas que mais me pergunto quando observo algumas relações é: “Quem essa pessoa ama? Aquela que o outro é de fato, ou aquela que ela gostaria que ele fosse e pela qual passará muito tempo brigando, tentando transformá-lo”? Geralmente percebo que ganha a segunda opção.
    Minha relação não é fácil, pelas circunstâncias. Às vezes ela é mesmo muito difícil e nesses momentos confesso que penso em desistir. Me liberar e ver o que a vida me traz, pensando sempre se não será algo mais fácil. Mas olhando à minha volta eu desisto, pois não sei se outro homem será capaz de me dar as coisas que tenho com o meu e que são coisas que prezo muito - nós dois prezamos - e que garantiram que nos amássemos pro vinte anos e que sigamos nos amando quando as coisas apertam. E as coisas apertam.
    A principal dessas coisas é a honestidade. Honestidade sobre quem somos, o que sentimos, o que pensamos, o que fazemos, o que queremos de nós e do outro. Sobre nossas bobagens e nossas verdades. Mas não uma honestidade perversa, pois também já tive relações onde o outro era pródigo em dizer verdades sobre mim, mas sem se importar sobre as verdades sobre si mesmo. É uma honestidade amorosa, cuidada, dita com compaixão. Não existe o que não possa ser dito entre nós dois. E sim, algumas coisas não são ditas, mas geralmente o são mais por falta de tempo em fazê-lo – outros assuntos naquele momento são mais importantes - do que qualquer outra coisa e ai passa para ser relembrada lááá na frente. E, sim mais uma vez, algumas vezes o que temos para dizer é difícil porque sabemos que irá machucar e a gente adia, a gente fica estranho, mas sempre acabamos falando. Tanto e tanto que já ouvi algumas vezes de amigos: “mas você não contou isso para ele, contou”? “Contei sim, claro”! “Você é doida, isso vai afastar vocês”! Mas não, não afasta. O que afasta é a mentira e a omissão desnecessárias e vaidosas.
    E acaba que não entendo o que as pessoas consideram como proximidade e intimidade se elas não se mostram para o outro. Se nessa que deveria ser a relação mais cuidada, porque de escolha, existem coisas que não podem ser ditas; se mentiras têm de ser contadas e mantidas em nome da tal paz conjugal que nunca é alcançada, veja bem, pois alguém sempre está inconscientemente cobrando algo que sente encoberto: o “eu verdadeiro”.
    Eu não sou perfeita e ele sabe. Ele não é perfeito e eu sei e nenhum dos dois está atrás de perfeição, pois afinal uma das graças de nos relacionarmos é justamente nos amarmos apesar e para além dos nossos defeitos.
    Eu, por exemplo, sou chata. MUITO chata em relação a algumas coisas que ele faz por circunstâncias e um pouco também de ser o jeito dele, o que acaba gerando confusão. Porque sim: quero que ele mude em beneficio da gente. Ele concorda que precisa mudar, mas que não é esse o momento e então me pede um pouco mais de paciência. Nem sempre consigo e a gente acaba “discutindo”. E quando nos acertamos e peço desculpas por ser tão chata, ele ri. Ele não diz: “imagina, você não é”. Nem “ah! Mas nem é tanto assim, veja as circunstâncias”. Não. Eu sou chata pela forma como lido com as circunstâncias – afinal sempre existem formas melhores do que brigar - ele sabe e mesmo assim me ama e quer. E isso me é suficiente, pois é o que quero: um homem que veja quem realmente sou e me ame mesmo assim.
    E isso é o que todos dizem querer e, no entanto, é do que vejo as pessoas fugirem. Elas veem os defeitos do outro, têm de conviver com eles, mas não podem mencioná-los sem que o outro se ofenda e sinta rejeitado
    Sério. É como que para se relacionarem as pessoas segurassem em cada uma das mãos três máscaras e com esses seis elementos fizessem uma dança com o outro que também porta suas seis máscaras. É uma coreografia onde a cada máscara levantada, outra é apresentada o que, por sua vez, faz com que o outro apresente outra máscara e assim sucessivamente. Uma dança que muitas vezes é linda, mas sem nenhum sentido. A consequência disso é uma relação aonde a ilusão é tomada por realidade e as pessoas acham que se conhecem e se transformam, quando apenas estão sendo falsas. Falsas consigo e com o outro.
    Falsas por princípio, pois nunca tiveram a intenção de amar quem o outro é, embora quisessem ser amadas pelo que são. Falsas por fingirem aceitar coisas que tentarão modificar no outro. Falsa por quererem receber o que não têm intenção de dar reciprocamente em troca: sinceridade.

23 de janeiro de 2012

Dias sem você...

Dias sem você são difíceis de viver.

Sem teu riso, sem tua voz...

Sem teu olhar que me fala melhor e mais profundamente de amor do que o fariam mil palavras.

Dias sem você são dias de sol, mas pouco calor.

São dias sem perdão.

Dias sem você são dias de coração batendo menos.

De vida boa, mas alegria meia-boca.

Dias sem você são dias de esperança arraigada.

São  dias de saudade velada.

Dias sem você são apenas dias.

21 de janeiro de 2012

Gente!

Eu poderia fazer uma coluna intitulada: "a bronca da Marie", mas quem sou eu para dar bronca em alguém né? Mesmo que algumas coisas me deixem bronqueada.

Uma das coisas me que irrita são as pessoas que acham que são exemplo de vida pra humanidade. Que suas escolhas e modo de enfrentar os problemas servem de exemplo e parâmetro pros outros porque eles se ferraram, sofreram e se (re)ergueram. Pessoas de idade têm muito disso né? Acham que podem dar palpite e conselhos porque passaram muita coisa, sofreram muito, mas venceram. Afinal, estão ai, velhos e vivos quando outros já morreram.

E eu poderia começar pelo mérito de que olhando a vida dessas pessoas, poucas vezes a quero pra mim ou para quem amo, ainda mais com tanto perrengue, pois geralmente são pessoas que acreditam tanto no sofrimento meritório que seguem sofrendo pelos mais variados motivos, quando não por si, pelos outros. Vejo MUITO disso.

Mas quer me deixar puta é ver esse discurso feito por alguém na minha faixa de idade. A primeira coisa que penso é: "e assim nasce mais um velho chato!"

Pelo amor né meu povo? Isso é ser arrogante. E arrogante porque se é incapaz de olhar em volta e perceber que o que você faz com a sua vida não é diferente do que qualquer pessoas faz com a dela, pois se ela chega viva ao final de mais um dia, venceu tanto quanto você.

Mas vamos pensar isso por uma ótica mais espiritual? Deus criou, digamos que por pura diversão, 7 bilhões de vidas que habitam esse planeta como se fossem canais de TV a cabo por onde ele zapeia pra passar o tempo. E nenhuma se repete. O cabra é tão criativo e abundante que observa 7 bilhões de histórias diferentes todos os dias que podem ser similares em algumas coisas, mas nunca iguais. E isso sem contarmos as vidas daqueles que já morreram, ou que, pra quem crê, habitam outras esferas e dimensões desse Universo. E a dos outros Universos? Já pensou? Mas nos atendo apenas a esse e ao Planeta Terra, calcula-se por baixo que só aqui esse número gire em torno de 16 bilhões. Pense? Dezesseis bilhões de seres vivendo vidas distintas, como o são as impressões digitais, e você ai querendo que a sua seja exemplo; pra quem mesmo?

E se for para falar de sofrimento meritório, desculpa, tiro meu chapéu somente para as pessoas que sobrevivem em lugares inóspitos, sem alimento ou água suficientes, pois esses, sim, fazem mágica pra viver. Se você vive num lugar farto e abundante, cheio de oportunidades e modos de se conquistar uma vida descente e escolhe fazer isso com muita dor, sofrimento, "sangue, suor e lágrimas", é apenas burro, vitimista e orgulhoso, pois está escolhendo sofrer e sem motivo. Pois sofrimento não é mérito, como dizem muitos autores espiritualistas da Nova Era, é apenas estar em discordância com Deus e renegando as coisas boas que Ele lhe concede para que você viva bem.

Não, não estou dizendo que a vida não ofereça dificuldades que devemos superar, mas que a quantidade de sofrimento que você terá ao fazer isso é escolha sua.

Também não estou dizendo que não é um trabalho grande mudar a sintonia de vitimista, trabalhar o orgulho e fazer escolhas mais inteligentes quando você se torna consciente de que está vivendo sob parâmetros improdutivos e que causam dores desnecessárias, pois é. E eu mesma dou altos tropeções ainda - vide essa semana - mesmo depois de tantos anos nesse caminho, mas é escolha sua viver isso e não algo imposto, embora a princípio pareça. O importante é persistir e recomeçar a cada dia, pois nos tornarmos melhores para conosco mesmos é obrigação.

Então, bora combinar que daqui pra frente ninguém mais bate no peito se achando o suprassumo só porque sofreu? Respeitemos as escolhas alheias e admitamos que o nosso é apenas um jeito dentre bilhões de outros de se viver e deixemos quem quiser nos tomar de exemplo, o faça por eleição e não por coação.


20 de janeiro de 2012

Então, voltei com o blog. E deixei com essa cara de diário escrito a mão, pois a intenção é exatamente essa: falar o que vem à mente, transborda do coração e escorre dos meus dedos sem saber ao certo quem lerá, sem mandar recado pra ninguém através dos meus textos, embora estes sempre nasçam da interação que tenho com as pessoas, seja esta virtual ou não. 

E agora que já estou com vontade de escrever o texto de amanhã? Rs! 

;-)
A quem eu magoei ontem...

Sei que minha afirmação ontem no Twitter magoou pessoas que amo e é fácil pensar que se eu não queria magoar, que não dissesse o que disse. Porém eu precisava daquilo para me reerguer do lodaçal aonde estava imersa há alguns dias por contingências da vida que eu não estava conseguindo aceitar.

Portanto venho aqui me desculpar com quem magoei e me explicar mais amplamente a fim de causar um entendimento que minimamente anule a mágoa.

Para começar é preciso dizer que sim, eu recebo colo. Eventualmente os recebo; meio que por acidente, mas recebo. Tanto recebo que sinto falta, pois relembrando um professor de faculdade "apenas nos faz falta aquilo que tivemos, pois do contrário, não saberíamos o que é e, consequentemente, não nos faria falta por absoluta ignorância". Então, se está sentindo falta é porque teve em algum momento. Entretanto, para que vocês me entendam é preciso que - ironia - eu fale de mim um pouco.

Tenho muita, mas MUITA dificuldade em falar de mim. O exemplo mais pungente disso foram os quase dois anos de terapia com uma profissional ortodoxa que deixava que eu começasse o atendimento falando. Asseguro-lhes que por conta disso passei - e paguei - bem que uns 60% (se não mais) das sessões calada, mesmo que dentro de mim os vulcões estivessem em erupção.

O 2º exemplo foi quando precisei dizer ao homem que amava que o amava, para dar a conhecer e realizar meu afeto, e isso resultou numa espera por parte dele de quatro horas. Q-u-a-t-r-o h-o-r-a-s. Ali, sentados no carro, numa garagem escura, alta madrugada. As palavras vinham e eu literalmente as engolia. Só falei quando ficou insustentável o meu sofrimento.

Não sei por que sou assim. A única lembrança concreta é a de que os livros eram um caminho tranquilo e prazeroso - com aquelas vidas e emoções inventadas, mas com começo, meio e fim determinados, portanto seguro - quando as coisas na minha realidade ficavam conturbadas e confusas. E quando eu voltava dos livros as coisas haviam se ajeitado, minimamente por conta da sabedoria do tempo.

Outra coisa que me ocorre é o fato de que, em contrapartida, eu ter uma facilidade enorme para ouvir, que aliada a um interesse genuíno pelo outro, faz com que as pessoas me falem de si. Por isso me tornei terapeuta. Também por conta disso tornei-me uma profissional com quem os pacientes vinculam espantosamente rápido. Amigos idem. Quando pergunto: "como vai você"? Realmente quero te ouvir. Para mim não é "oi".

O x é que juntando tudo me tornei expert em fazer o outro falar de si. Ou seja, mesmo quando quero falar de mim, seja por força do hábito ou da resistência, eu facilmente induzo o outro a falar de si.

Mas o mote aqui é o colo, falemos dele então. De que tipo de colo falo? Não daquele que recebo espontaneamente, mas daquele que não recebo quando consigo romper minhas barreiras e pedir por ele. Fiz isso de pedir poucas vezes, é verdade, mas em nenhuma delas fui bem sucedida.

E aqui mais uma vez é preciso que eu esclareça. E para esclarecer que relembre mais uma vez a 1ª terapeuta; estava eu lá toda pimpona e falante há algumas sessões, quando ela pontua que todos os meus conteúdos eram resolvidos. Que eu não levava nada para ser compartilhado ou vivenciado ali.

Esse continua sendo o meu grande jeitão na vida: quando falo de mim é que as coisas já se acomodaram dentro, mesmo que fora ainda persista o caos aparentemente. Nessas horas eu até posso me emocionar, chorar, reconhecer que é difícil, mas eu já tenho o caminho interno determinado e inclusive já o estou percorrendo.

O colo que não recebo é aquele que peço quando consigo atravessar a insegurança do que não sei, de estar descrente e perdida. E, com toda sinceridade do meu ser, não sei se alguém recebe colo nessas circunstâncias, se isso existe.

O que sei é que nesses momentos me isolo, "concho", e penso, penso, penso e penso. Questiono, questiono, questiono, questiono e questiono. Rezo, rezo, rezo, rezo e rezo. Leio, pesquiso, abro novo horizontes, mas assim: de mim para mim mesma e assim me resolvo.

O problema é que de uns tempos pra cá, talvez por dar ouvidos ao mundo, entrei numas de que colo é essencial e faz bem, além de ser direito de todos "e então eu quero minha cota: é meu amigo, parente, namorado? Pode me dar colo já"! E não duvido que isso seja verdade para muita gente, só que não o é para mim. Preciso de um esforço desumano para sair de mim e cansei de me esforçar. Quero e estou voltando pro meu estado natural, sem esperar de ninguém o que não nasci pra ter.

Sou uma doadora de colo. E está ótimo assim.

Quando preciso falar, geralmente recorro ao papel, blog, atualmente até a postar no facebook, ao terapeuta que dá o start do atendimento (Rá! Aprendi!) o que para mim é mais fácil e possível de fazer talvez até pelo "quê" de impessoalidade, já que sou estruturalmente esquizóide, ou seja, distanciada.

Eu sei que sou amada e que tenho muitas intenções sinceras de colo. Da mesma forma, também tenho plena consciência de que não é fácil conseguir me acessar, o que quem convive comigo sabe bem. Apenas é assim.

E isso não quer dizer que eu não vá pedir colo novamente um dia. E nem que não vá recebê-lo. Só quer dizer que eu não vou mais procurar por algo que não é meu verdadeiro jeito de ser. Que vou conchar, me isolar sem medo de perder a oportunidade, o direito de "estar com alguém", de ser "retribuída". Me resolverei do meu jeito e voltarei pra vida com o velho sorriso brincando nos lábios e a alegria de viver restaurados.

É isso exatamente o que estou fazendo agora.

Se te feri, me perdoa, pois o fiz sem nenhuma intenção disso.

Amo vocês!