26 de fevereiro de 2010

Sempre escuto com estranheza as pessoas reclamarem da solidão...

Estranheza por saber essa como a condição humana primordial. Nascemos, vivemos e morremos só, esse é o jargão da verdade. Mas, principalmente, por reconhecer mais e mais a cada dia que passa que não somos só. Nunca.

Nossa vida é enroscada e permeada pela dos outros; dependemos deles para absolutamente tudo e quem se acha só ou quem bate no peito bradando auto-suficiência não passa uma pessoa sem a mínima percepção da realidade.

Então fico me perguntando do que reclama quem reclama de solidão? Será da incapacidade de perceber o quanto nunca se é só nesse mundo? Ou uma distorção dessa interdependência onde o outro tem peso maior que o "eu mesmo" na minha felicidade?

Em nenhum dos momentos críticos que passei na vida encontrei pessoas com quem pudesse - de fato - dividir minha dor, ou aflição. Nem nas minhas maiores alegrias. Tudo sempre se resolve de mim para comigo mesma e sou sempre eu a carregar o fardo ou o ônus. As pessoas fazem idéia, mas nunca sabem de fato.

Entendam: sempre encontrei quem me apoiasse, estendesse as mãos; até mesmo que me carregasse no colo quando eu achava que não podia mais caminhar. Sempre tive uma família, namorados e amigos maravilhosos. Porém aqui dentro é sempre eu. E quanto mais "eu" é aqui dentro, mais tenho aumentada a percepção que o mundo, o meu mundo, se constrói com a co-autoria alheia; da interdependência das nossas vidas.

E não vejo isso como ruim, embora em alguns momentos possa ser frustrante.

É na relação com o outro que eu me supero, que me transponho e aumento meus horizontes. Quando eu estou co-criando, estou abrindo espaço em mim para um outro universo. Esse é o grande desafio de viver. É justamente por isso que viver vale a pena.

Solidão então me parece a incapacidade interna para conter o outro, o diferente. O que te complementa mas, principalmente, te dá continuidade. Aquele que vai questionar e subverter suas certezas; que vai fazer você cair em contradição emocional e racional mil vezes vezes mil e ainda assim te fazer ter certezas mais ou menos constantes.

Solidão é a incapacidade de estar com. É a insegurança de se ser ninguém mediante o pensamento de que se existo sem que o outro me valide, inexisto. Mas só inexisto quando sou incapaz de reconhecer a mim mesma. Quando não me atendo. Quando não sei dos meus anseios. Quando fico esperando que o outro realize e justifique minha existência e só o outro.

Porque antes de co-existir, é preciso existir. Para ser co-autor, é preciso ser primordialmente autor. Antes de conter o outro, é necessário conter a si mesmo. Dependo do outro, mas não só dele. Essencialmente dependo de mim mesma. No entanto não existe separação. Somos MESMO todos UM. Minha vida afeta e é afetada pelo outro continuamente.

Então minha estranheza diante da queixa de solidão é por ela falar de estar desacompanhada de si mesmo e da inconsciência. De não se perceber, não se atender e estar ali, esperando que tudo o que se precisa venha das mãos alheias. É como querer receber algo pelo qual sequer se pediu, uma vez que inexiste a consciência de que se pode desejar e do que se desejar...

Sinto estranheza, pois as pessoas falam de solidão como se fosse ausência do outro, quando é ausência de si mesmo.

24 de fevereiro de 2010

Se vocês soubessem a quantidade de posts começados e inacabados que tenho guardado por aqui...

Mas a pergunta que não quer calar desde segunda-feira é: "Deus se engana"?

Volto ao normal quando encontrar uma resposta.